Sentar na mesa dos sêniors que fazem parte do time de futebol não é tão ruim quanto parece.
A grande maioria dos jogadores é legal comigo, alguns poucos não parecem de fato ligar para a minha presença aqui. Três deles são mais comunicativos e amigáveis: Rahim, Francis e Noah. Rahim é um garoto de descendência árabe, Francis é caucasiano e Noahé judeu.
- Nós sempre apoiamos a diversidade no esporte. – Diz Francis. – Foi legal saber que o Vince estava com você, ainda há muitas barreiras a serem quebradas, mas Vince está dando o primeiro passo para quebrá-las.
Escutar essas palavras reviram o meu estômago. Vince só está comigo para se autopromover. É a primeira vez que o popular precisa de um nerd para se autopromover, mas isto está acontecendo e bem diante dos olhos de toda a escola. É difícil encarar as pessoas que acreditam que ele realmente é o jogador de futebol que esteve em conflito com a sua sexualidade e que agora resolveu se aceitar e não liga para a opinião dos outros. Vince quer apenas uma boa história para o seu ensaio de faculdade, já que ele acredita que pode conseguir uma universidade melhor do que Portland.
- Archie me fez perceber o quanto era importante todos saberem de nós, mesmo que tenha sido daquela forma, mais cedo do que estávamos planejando, agradeço a esse cara que nos tirou do armário, nos deu ainda mais coragem. – Vince dá o seu falso testemunho, no entanto, consegue ser extremamente convincente.
- Deve ser uma droga ser expulso do armário assim. – Comenta Rahim.
- Você não imagina. – Eu digo.
- O que importa é que estamos felizes agora. – Vince passa o braço pelo meu ombro.
- Então vocês estão namorando? Já faz quanto tempo? – Noah pergunta curioso.
- Estamos nos conhecendo. – Me apresso em dizer. – Não faz muito tempo que nós estamos juntos, mas foi depois que a Lily...
Cito o nome de Lily apenas para provoca-lo. Não me importo se isso irá machuca-lo. Acho que eu sou tão egoísta quanto Vince. Talvez seja a convivência. Posso perceber pelo rosto dos garotos que o assunto ainda é um tabu. Acho que o boato de que Lily traiu Vincent seja verdade.
- Pois é, foi mesmo algo repentino. – Diz Vince. – Nossas irmãs sempre foram amigas e nós sempre nos esbarramos por aí. – E lá vai mais uma mentira.
Continuamos comendo e conversando. Não é tão difícil, os caras são legais, isso eu não posso contestar. Apesar de sermos constantemente interrompidos por alguém que sempre tem algum assunto importantíssimo para falar com Vince, foi um almoço agradável.
- Você mandou bem. – Ele diz caminhando ao meu lado em direção a quadra interna. – Acho que os garotos gostaram de você.
Estamos lado a lado e Vince faz questão de segurar a minha mão. Eu quero muito soltar a sua mão. Nossas palmas estão suadas e tudo o que eu mais quero é poder enxuga-la. Como os casais conseguem andar o tempo inteiro assim? Por que eles não podem manter alguns centímetros ou metros de distância?
- Que sorte a minha! Agora sou amigo dos jogadores de futebol.
- Nós não somos pessoas ruins, não fazemos bullying com os nerds, temos uma boa relação com todo mundo. Não se deixe levar por qualquer fofoca que contarem para você.
- Bom, já que você falou nisso... – Paro já que chegamos na entrada da quadra.
Quero muito soltar a sua mão, mas Vince segura firme a minha. Ele está de frente para mim e não consigo olhar em seus olhos ou para o seu rosto geometricamente perfeito. Foco a minha visão em um ponto por cima do seu ombro.
