No dia seguinte, finalmente converso com o meu irmão sobre o meu namoro, agora de verdade, com Vince.
Conseguimos manter as aparências ontem por meus pais estarem distraídos com Vince, mas hoje, não conseguiríamos sustentar a situação e eles notariam que não estamos nos falando. Entro no quarto de Alfie sem bater na porta, antes mesmo de nossos pais acordarem, mas sei que ele está acordado. O encontro fazendo flexões ao lado da cama.
- Chegou a hora? – Ele pergunta mais para si mesmo do que para mim. Para as suas flexões e senta no chão. Eu me sento na cama ficando de frente para ele.
- Não estávamos mentindo. – Eu digo mentindo mais uma vez. A última, eu espero.
- Ele gosta de você, mas ainda não é motivo o suficiente para baixar a guarda, você sabe do histórico dele. Não quero ver você magoado. Detesto usar o mesmo discurso, Archie, mas você sabe que tenho razão, não dá para confiar no Vincent. Ele não tem escrúpulos.
- Vince é uma pessoa muito melhor do que você pensa. – Eu digo mantendo a calma. – Se você puder dar uma chance para ele. Ele é inteligente, engraçado, sei que esse jeito de príncipe irônico e sarcástico com um toque de superioridade é irritante, mas está mais para um mecanismo de defesa do que a sua verdadeira personalidade.
Eu assisto as engrenagens rodarem na cabeça do meu irmão. Ele está considerando duas opções, o conheço tão bem que sei exatamente como a sua mente funciona. Neste momento ele pondera se deve ou não me rebater, o que nos levaria a uma longa discussão que nos deixaria exaustos e desgastados ou se deve encerrar logo a discussão fazendo uma conceção.
- Você me permite reunir vários caras do time de Rugby de Los Angeles para quebrar ele no meio se te magoar? – Ele pergunta sério.
- Que tal apenas alguns amigos surfistas? – Eu pergunto entrando em sua brincadeira.
Ele finge ponderar seriamente a minha proposta, mas acaba sorrindo.
- Acho que não será o suficiente. – Passamos alguns segundos sorrindo até que ele volta a falar. – Se você gosta tanto assim dele, farei um esforço para aturá-lo, mas não serei como a Alma, não preciso beijar o chão em que aquele cara pisa.
- Alma está apaixonada por ele tanto quanto eu. – Digo. É a primeira vez em que confesso o que sinto por Vince para outra pessoa e não sinto uma dor atingir o meu coração. Agora a ferida está cicatrizando da melhor forma possível, estou sendo correspondido.
- Ele vai aparecer aqui hoje? – Ele pergunta ficando de pé, mas logo sentando na cama.
- Não, hoje seremos só nós dois. Um dia para os irmãos. – Eu digo.
- Eu não conseguiria aturá-lo se ele passasse o tempo inteiro por aqui.
- Você sabe que vai precisar aguentá-lo no recesso de Natal, não é? E também nas férias de verão, nos aniversários dos nossos pais e da Alma e também no meu. – Eu o provoco.
- Espera, você acha mesmo que vão durar até as férias de verão? – Ele me provoca de volta. – Estou brincando. – Ele me abraça de lado e beija o topo da minha cabeça. – Mas você precisa me prometer uma coisa. Se por acaso aquele cara gritar com você ou for um namorado abusivo tóxico de merda...
- Ele não é assim, Vince nunca faria isso. – Digo interrompendo-o.
- Eu não me importo, eu quero que você prometa. – Ele continua. – Eu vou ficar mais tranquilo sabendo que você tem a liberdade para me contar tudo sobre vocês, e que você vai ser sensato o suficiente para fugir do barco se ele estiver afundando.
- Eu sou inteligente demais...
- Não tem nada a ver com inteligência. – Dessa vez é ele quem me interrompe. – Quando se está apaixonado, você não imagina o quanto nós relevamos certas situações, o quanto ficamos cegos. Ainda mais na primeira vez.
- Você ainda é cego pela Pem? – Eu pergunto.
- É diferente, Pem e eu tivemos bastante tempo para amadurecer nossa relação e ainda estamos amadurecendo. É claro que não se pode acertar o tempo todo, mas deixamos muitos costumes relacionados a nossa imaturidade para trás.
Pembroke e o meu irmão estão juntos há tanto tempo. O amor deles continua sólido e eu sempre quis viver algo parecido. Seria precipitado pensar que Vince e eu poderemos ser como eles?
- Você vai ter que me aguentar ligando para te contar todos os nossos dramas e vai precisar dar conselhos melhores do que "termina com ele" ou "ele não te merece".
- Posso tentar diversificar o meu vocabulário, mas em conclusão estarei dizendo basicamente essas mesmas frases. – Ele bagunça o meu cabelo. – Estou brincando, vou fazer de tudo para te ajudar e aceitar o Vince como seu namorado e parte da minha vida agora.
- Vocês nem vão conviver tanto assim, para de drama. – Dessa vez sou eu quem bagunço o seu cabelo.
- Meninos. – É a minha mãe, ela está parada na porta do quarto. – Estão acordados há muito tempo? – Meu irmão e eu balançamos a cabeça afirmativamente. – E não fizeram o café da manhã?
- Vamos fazer isso agora. Pode voltar a dormir, mãe. – Diz Alfie prontamente.
- O quê? – Eu pergunto desacreditado. – Tenho que fazer café da manhã para todos?
- Você disse que hoje era o dia dos irmãos, então vamos fazer algo bom pelos nossos pais. – Ele diz ficando de pé e indo abraçar a nossa mãe. – Anda logo, Archie, tira esse pijama.
Me levanto para abraçar a minha mãe e interromper o abraço do meu irmão. É algo que eu faço desde de pequeno. Sempre que via o meu irmão e minha mãe abraçados, eu corria de onde estivesse, entrava no meio deles para afastar Archie e tê-la só para mim. Hoje em dia é mais uma brincadeira de nós dois com ela. Mas eu gosto. Gosto de ter o meu irmão por perto. Não conseguimos passar muito tempo brigados, nunca.