Capítulo 24

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Atuar com Vince fica cada vez mais fácil à medida que nós mentimos para todos com os nossos almoços juntos, fotos e vídeos nas redes sociais, os nossos encontros estratégicos em lugares onde a maioria das pessoas frequenta. Em três semanas conseguimos alinhar a nossa história e mentir com perfeição sem deixar nenhum detalhe de fora, toda vez que alguém nos pergunta sobre como nos conhecemos, quem deu o primeiro passo e onde foi nosso primeiro beijo.

Consigo sentir um pouco de empatia por Vince. Não achei que fosse possível, mas aos poucos fui percebendo que posso sim ser seu amigo. Ele consegue manter uma conversa sobre qualquer assunto. Me surpreendi ao perceber que ele é extremamente inteligente. Ele é mais um nerd do que um atleta. Sua matéria preferida é química. Ele acha relativamente fácil, detesta alemão, apesar de estar na turma básica, por exigência do seu pai tem aulas de ética, o que para ele é uma grande ironia, já que o seu pai traiu a sua mãe. Ele detesta beisebol e não consegue entender as regras de mahjong.

Temos várias coisas em comum. Ambos detestamos filmes de comédia pastelão, gostamos de ouvir Greta Van Fleet – apesar de todas as críticas. – Alabama Sheiks, Bring Me The Horizon e muitas outras bandas. Gostamos de pizza havaiana e calabresa, gostamos de boliche e nenhum de nós entendeu Midsomar. E gostamos dos mesmos professores na escola.

Mas também discordamos de várias coisas. Eu amo The Office enquanto o sitcom preferido de Vince é Parks and Reacriations. – Confesso que também gosto, mas assistir a última temporada é um sofrimento. Vince gosta de The Boys e eu de How to get Away with murder. O filme preferido de Vince é Vingadores – previsível – e ele cai na gargalhada quando digo que o meu filme preferido é Mama Mia.

Não fica assim tão difícil levar o relacionamento de mentira quando passamos a conhecer um ao outro. Sair juntos não é mais uma tarefa excruciante. É tudo muito leve. Conversamos sobre assuntos aleatórios e é simples estar na companhia de Vince sem ter que chama-lo por algum apelido carinhoso, trocar carícias ou pisar em ovos para não falar nenhuma besteira na frente de outras pessoas, ou ainda fingir que estamos nos agarrando. – Sim, também conseguimos mentir sobre isso.

Com JJ também não precisamos fingir. Não que ele saiba de alguma coisa, mas percebemos que ele fica encabulado com nossas demonstrações falsas de afeto, então não temos que agir como um casal fofo perto dele. Consigo tratar Vince com indiferença quando quero e não parecer estranho e Vince pode ser todo irônico. Não precisamos andar mãos dadas, apesar de eu já estar conseguindo me adaptar.

Cathy também cumpre com a sua palavra. Não conta para ninguém sobre o meu falso relacionamento e acabamos ficando ainda mais próximos. Agora conversamos todos os dias na aula de educação física. Ela passou a frequentar a minha casa também, algo que eu nunca imaginei ser possível, uma vez que em praticamente três anos, ela nunca havia me dado abertura para isso.

Namorar Vince, mesmo que de mentira, também significa conviver com a sua irmã, Stacey. Não que ela seja uma completa estranha para mim. É amiga de Alma desde a pré-escola. Estão sempre juntas. Mas agora Stacey insiste em interagir comigo sempre que está em minha casa. Vince nunca está lá quando ela aparece, o que eu agradeço. Stacey é a versão feminina do irmão. Manipuladora e egocêntrica na mesma medida. Acho que é isso que acontece quando o seu pai é um advogado.

Meus irmãos parecem estar tranquilos com relação ao namoro. Alma até implica com Stacey, ao contrário da irmã de Vince, a minha irmã acredita que nosso relacionamento é verdadeiro. Alfie é mais contido, não conversa muito sobre o assunto, mas está sempre curtindo alguma foto ou comentando. Até mesmo Pembrooke, que não tenho conversado muito desde que foi para a Califórnia, interage em nossos posts.

Meus pais continuam cegos sobre o assunto. Não posso reclamar, nenhum dos meus irmãos abriu o bico e assim continuo evitando uma conversa desnecessária.

Já Andrew está sempre lá. Tão perto e tão longe. Algumas vezes fui na casa de JJ e o encontrei lá junto com Chris. Nós conversamos um pouco, nada muito grandioso. Mas não posso negar o quanto ele mexe comigo, o quanto eu fico derretido pelos seus olhos castanhos, o seu jeito de falar, o seu sorriso tímido. Tudo nele me encanta. Percebo que ele se sente meio intimidado quando estou com Vince ou quando ele está por perto – a espreita, mesmo que só por teatro.

Lily e Tatiana são como fantasmas. Eu tenho pena da próxima namorada de verdade de Vince. Conviver com a sombra constante das duas na vida dele. Tati está mais presente do que nunca. Eles são amigos, se gostam. Com Lily há apenas uma troca de palavras cordiais e cem por cento passivo-agressivas.

Quando o post no instagram da conta que nos expôs – de maneira totalmente fora de contexto – completa um mês, Vince faz questão de me levar para o boliche. Um encontro com muitas fotos postadas em todas as redes sociais possíveis.

Perto do Halloween, com a nossa farsa já tendo completado um mês, Vince decide que devemos nos fantasiar como uma dupla. Ele também confirma a nossa presença numa festa a fantasia. Eu nunca me fantasio para o Halloween, não faço isso desde os doze anos. No entanto, ele insiste. Ele é o garoto mais popular do colégio em seu último ano, precisa deixar a sua marca e eu topo a muito contragosto. Combinamos de ir no último final de semana em busca das fantasias, sim, no plural, um para a escola e outro para a festa a fantasia idiota.

Tentei convencer JJ de que seria bom ele também ir para a festa conosco, mas dessa vez ele não cai no meu papo e se recusa com todas as forças a procurar uma fantasia e confirmar sua participação para a festa. Seremos apenas Vince e eu em uma festa com muita bebida e um monte de adolescente. Qual a probabilidade de isto dar certo?

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