O sábado é preenchido com algumas crises de ansiedade durante o dia. Quanto mais próximos ficamos do horário da festa, mais eu tenho certeza de que foi um erro concordar em ir para esse evento social completamente fora da minha bolha.
O que eu farei numa festa cheia de pessoas do último ano? O que adolescentes fazem nessas festas? Eu tenho certeza de que as coisas que vi em filmes são um completo exagero. Sei que haverá alguma bebida alcóolica, não sou uma criança, mas será que tudo é verdade mesmo?
Passo todo o dia tentado a inventar uma desculpa. Dizer que estou gripado, intoxicação alimentar, mononucleose, enxaqueca, dor de dente. Não! Esta última é impossível. Eu tenho certeza de que JJ me acobertaria nessa. Tenho certeza de que ele está tão empolgado quanto eu para ir nesta festa.
Por que me meti em tantos problemas no último mês? Estou começando a achar que Alfie era o meu ponto de equilíbrio. Ele mantinha a minha cabeça no lugar e não me permitia meter os pés pelas mãos. Mesmo quando ele não me aconselhava de fato, só em pensar em sua cara de julgamento ou só por conviver com ele o suficiente para saber se ele aprovaria ou não as minhas atitudes, já eram incentivos o suficiente para que eu optasse por fazer a coisa certa. Mas com Alfie a algumas horas de distância de mim, eu consegui me colocar em mais becos sem saída nas últimas semanas do que em toda a minha vida.
No final da tarde Vince me manda mensagem perguntando se pode me pegar perto das nove. Respondo que sim e imediatamente mando mensagem para JJ avisando o nosso horário. Ele me responde imediatamente:
"Vamos mesmo insistir nisso?"
"Sim" – Respondo.
Meus pais já estão em casa, então eu os aviso que vou sair. Mais uma vez eu omito que Vince irá conosco. Quanto menos eles souberem, melhor. Tomo um banho, janto, escovo os dentes e por volta das oito e meia estou batendo na porta do quarto de Alma.
- Eu tenho uma festa para ir. – Anuncio. – Você pode me ajudar a escolher uma roupa legal para vestir?
- Com o seu guarda-roupa? Acho um pouco improvável. – Ela responde.
- Eu não me visto assim tão mão.
- Hum. – Ela diz saindo do seu quarto e entrando rapidamente no meu. – Vamos ver o que posso fazer.
Ela pega os meus sapatos Vans pretos e me entrega. Pega uma camisa branca lisa de algodão e uma jaqueta pesada preta que usei poucas vezes. Então ela sai do nosso quarto e entra sem cerimônia no quarto dos nossos pais. Eu corro atrás dela segurando as minhas roupas.
- O que você está fazendo, mocinha? – Pergunta o meu pai que está deitado na cama lendo uma revista sobre odontologia. Eu sempre me surpreendo com o fato de existir revistas de odontologia.
- Tentando achar uma calça que sirva no Archie, as dele são horríveis. – Ela grita de dentro do closet. – Aqui. – Ela sai segurando uma calça preta de alfaiataria. – Talvez você precise de um cinto.
- Não estraga essa calça. – Diz o meu pai.
- Pode deixar, pai.
Voltamos para o meu quarto, mas o trabalho de Alma ainda não acabou. Ela me explica exatamente como devo me vestir, blusa ensacada dentro da calça, altura da calça, a cor das meias que devo usar. E me ajuda a pentear o meu cabelo para trás, me dá seu colar de pérolas falsa que fica um pouco apertado em mim. Ela coloca em meus pulsos e na curva do meu pescoço um pouco de um perfume que Alfie deixou, e por fim me olha como um grande pintor olha para o resultado final do seu quadro que pintou por meses.