Almoçar na mesa do último ano pelo segundo dia consecutivo não foi tão ruim. Dessa vez Lily estava na mesa ao lado e lançava olhares condescendentes na minha direção. Tentei não olhar muito para ela. De vez em quando ela sussurrava algo no ouvido das amigas e todas riam.
Foi difícil ignora-la. Vince parecia alheio o tempo todo. Conversava com os seus amigos sem se importar com os olhares ou os risos. Quando o almoço chegou ao fim não comentei o acontecido, mas ele percebeu que eu estava estranho. De repente, almoçar longe de todos no dia seguinte não parecia ser assim uma ideia tão ruim.
Na quarta-feira Vincent está me esperando na porta da minha sala assim que o sinal para o almoço toca.
- Está pronto? – Ele pergunta.
- Para onde vamos?
- Argh! Você é sempre desconfiado, vamos logo.
Ele agarra a minha mãe e me puxa pelos corredores. Sofro um pouco para tentar acompanha-lo sem tropeçar em meus próprios pés. Nesse meio tempo eu percebo o quanto Vince anda com confiança. Ele consegue praticamente me arrastar e ainda parecer elegante.
Vince me leva para o lado de fora da escola. Por um momento eu acho que ele vai me levar até o campo de futebol. Será que iremos almoçar nas arquibancadas? Mas então ele toma o rumo para a piscina da escola. Assim como a quadra interna, a piscina fica em uma quadra fechada com uma grande piscina no centro, e uma única arquibancada a direita.
- Entra, Russell. – Ele ordena segurando a enorme porta que dá acesso ao prédio.
- Nós podemos estar aqui? – Pergunto entrando na quadra e sentindo o cheiro de cloro invadir o meu nariz. Vince não me responde.
Há uma clara boia no teto bem no meio da piscina, o que faz com que haja uma boa iluminação no local sem precisar de muitas luzes. A água da piscina está parada, o que significa que não havia ninguém por aqui antes de chegarmos. Estamos completamente sozinhos. Não estou gostando disso.
- Nós vamos mesmo comer aqui? Acho melhor irmos para outro lugar, o refeitório não me parece tão ruim.
- Do que você tem medo, Archie? O que acha que iremos fazer?
- Nós não iremos fazer nada. Mas as outras pessoas podem comentar.
- Comentar o que exatamente? – Eu sei que ele revira os olhos quando abaixo a minha cabeça para não o responder. – Você se sente melhor se deixarmos uma das portas abertas?
- Já não estamos encrencados somente por estarmos aqui?
- Não, Russell, escolhe um lugar nas arquibancadas, eu vou abrir a porta.
Apesar de estar me sentindo uma criança teimosa e irrepreensível, faço o que ele manda. Escolho um lugar perto o suficiente da saída para que eu possa sair correndo caso eu precise. Não demora muito até Vince estar sentado comigo.
- Eu pedi para a nossa governanta preparar algo para nós comermos. – Ele diz tirando um saco de papel da bolsa.
- Você tem uma governanta?
- Estou morando com o meu avô... sabe o clima na minha casa com o divórcio não está muito bom, então prefiro ficar longe. Ele sim tem uma governanta. Temos uma empregada na nossa casa também. – Ele comenta depois. – Seus pais trabalham o dia todo, quem arruma a sua casa?
- Nós, na maioria das vezes. Mas o assunto não é esse. Como você sabe tanto sobre a minha família? Eu não sei nada sobre a sua família, eu sei sobre você porque você é... você e a Alma não me conta muita coisa apesar de ser amiga da Stacey.
