Depois do jantar, guardamos as sobras na geladeira. Amanhã, será um típico dia pós Ação de Graças, comendo apenas as sobras do jantar da noite anterior. Alfie ainda parece um pouco hostil. Eu não forço nenhum tipo de interação.
No entanto, há outro sentimento tomando conta de mim. O de aceitação. Pela primeira vez desde que me dei conta de que estava apaixonado por Vince, não me importo mais com os meus sentimentos em relação a ele. Não preciso me preocupar com o fato de que nunca o terei para mim, isso está em processo de superação, eu já aceitei, é o primeiro passo. Agora eu de fato quero seguir em frente. Acho que posso sim tentar algo com Henrik, posso dar uma chance para ele, só preciso ser um pouco mais cuidadoso.
Vou dormir de barriga cheia e com muitas coisas em minha cabeça. Preciso ser sincero com Vince. Preciso falar sobre Henrik e sobre o nosso relacionamento de mentira. Eu posso tentar manter os dois, não posso?
Reviro em minha cama por mais de uma hora até finalmente conseguir dormir. Tenho um sono sem sonhos e quando acordo na manhã seguinte percebo que estou sozinho em casa. Há um bilhete dos meus pais escrito em um post-it grudado na porta do meu quarto.
"Saímos para fazer compras e aproveitar as promoções, vamos ficar fora o dia todo – seu irmão está com Pem"
De uma maneira muito mais atual – através de uma mensagem de texto – Vince também me deixou um aviso.
"Vamos nos ver no aquário hoje as 10:00?"
"Porra, Russell, você ainda está dormindo? Acorda aí cara!"
Vejo a hora. Preciso correr. Mando uma mensagem para ele, confirmando o nosso encontro as 10:00. Tomo um banho rápido e como rapidamente um café da manhã composto por torradas, requeijão e leite. Estou em cima da hora quando procuro pela chave do carro e lembro que meu irmão está com o carro. Peço um Lyft, que espero pacientemente enquanto bato o pé contra a calçada. Está frio o bastante para deixar o meu nariz vermelho antes que o motorista chegue a minha rua.
No caminho, vou revisando tudo o que pretendo dizer para Vince. Não vai ser difícil, chegaremos a um acordo e tudo vai dar certo. Ainda estou no caminho quando Vince manda uma foto da seção do aquário em que ele se encontra.
Assim que chego no Aquário de Seattle, saio a procuro de Vince. Já vim aqui diversas vezes quando criança. A frequência diminuiu à medida que comecei a crescer e perceber como não era nada legal todos esses animais presos em aquários. Não demoro muito para encontra-lo uma vez que estou dentro.
A luz azul que emana da enorme quantidade de água nos aquários e banha todo o ambiente consegue deixar Vince ainda mais bonito. Respiro fundo e vou até ele, que parece distraído observando um pequeno cardume que passa em sua frente.
Mesmo sendo uma sexta-feira após o feriado de Ação de Graças, Vince encontrou uma seção que não está insuportavelmente cheia.
- Oi. – Digo parando ao seu lado.
- Oi. – Ele diz parecendo meio nervoso. O que é estranho, Vince Applewhaite nunca está nervoso. Ele não tira os olhos do aquário a sua frente. – Que bom que veio.
- O que vamos fazer aqui? Achei que as fotos de ontem tivessem sido o suficiente para alimentar o seu fã-clube.
Percebo Vince mudar a postura devido a tensão. Por que eu não estou gostando do rumo que isso está tomando? Ele finalmente olha para mim. Seus olhos buscam algo nos meus que não consigo dizer o que é. Sinto o meu estômago revirar.