Capítulo 26.

121 10 11
                                    

Gerard Way.

Eu deveria estar bolando um plano nesse momento, mas não consigo pensar. Fico procurando em meu armário a arma mais confiável para levar comigo e um colete a prova de balas. Olhei para Andrey um tanto desesperado. Ele, como meu consigliere, prontamente entendeu o motivo do olhar. Assentiu com a cabeça e saiu do meu campo de visão, iniciando uma série de ligações.

Uma das melhores coisas que meu trabalho me trouxe, talvez a única, foi a intensa conexão com aquele que era o meu braço direito. Havia momentos que, não precisávamos trocar uma palavra se quer e era possível um entendimento mútuo. Ele sabia as minhas necessidades e eu as dele. Ele é o único, não só pelo seu cargo mas por saber tanto quanto eu das necessidades da organização, que pode me questionar e de fato ser ouvido.

Nos conhecemos no ensino médio, o pai dele era o Consigliere do meu pai. Além de grandes amigos. O que fez com que eu e Andrey virassemos amigos também, por conta da situação dos nossos pais ele era a única pessoa com quem eu podia conversar, com o tempo, acabou virando a única pessoa em quem eu podia confiar. E em mais de quinze anos de amizade, nunca me deixou na mão. Virar meu Consigliere foi uma consequência quase que obrigatória quando o meu pai morreu.

Fui andando até o bar, enchi um copo de cristal com o uísque. Após isso, tirei um maço de cigarros do meu bolso, acendendo um rapidamente, variando entre goles quentes e tragadas desesperadas. Podia ouvir, vagamente, as tosses do Mikey vindo do meu quarto enquanto nós preparávamos para sair.

Precisamos ser cuidadosos. Não sabemos o que de fato foi prometido ou os termos de absolutamente nada. Enchi mais uma vez o copo e fiz o meu caminho até a saída, entrando em minha limousine blindada alguns passos depois. Já na rua, cinco carros pretos se juntaram a nossa carreata em direção ao matadouro irlandês. Abri uma cerveja e engoli todo o líquido rapidamente. Aos poucos, as coisas se tornaram leves e um tanto turvas, bem do jeito que eu gosto.

Tudo se movia mais lentamente. Meu coração, no entanto, bombeava cada vez mais forte. Apertei o suspensório de armas no meu corpo, coloquei mais uma pistola em minha cintura. Verifiquei o colete. Respirei profundamente. Tateei atrás de mais uma cerveja, encontrando sem demora. Abri e entornei o líquido em minha garganta.

- Devagar aí, Chefe. - Andrey virou o seu corpo para mim, deixando um tapa em minha perna depois. - A gente precisa que você tenha todos os sentidos em forma.

Acendi mais um cigarro. Não estão entendendo o que está acontecendo aqui, a última coisa que eu posso ter é os meus sentidos em forma. Pois se deixá-los viverem livremente, um impulso vital, animalesco, selvagem tomaria conta. E eu faria escolhas muito mas muito estúpidas.

Tragava o cigarro, enquanto revezava os goles de cerveja. Meus braços estavam beirando a dormência, meus lábios formigavam, minhas pernas estavam tão leves que eu poderia voar. Andrey tirou a cerveja da minha mão, um tanto quanto revoltado.

- Parou. Você vai acabar matando a gente com essa merda. - Esbravejou, corajoso como sempre. Exige muita coragem e confiança para tentar colocar limites no líder da sua gangue.

- Fala mais uma merda e eu jogo o seu corpo, já sem vida, pela porra dessa janela. Não vou te avisar duas vezes. - cruzei as pernas, deslizei o meu corpo pelo banco de couro. Encarava a paisagem que corria diante dos meus olhos. Uma arquitetura antiga, gasta, inutilizada pela falta de manutenção. Nenhum verde. Apenas um cinza claro e borrado na boa e velha New Jersey que eu amo odiar.

Nunca morei desse lado da cidade, onde as coisas são mais escancaradamente violentas e sofrida. Onde o crime na maioria das vezes acontece à luz do dia. Cresci em uma casa com acesso a tudo. Posso dizer que é, de certa forma, um privilégio. Porém, mesmo tão cinzenta e carregada, Jersey ainda era o meu lugar preferido do mundo.

Prison BlindersOnde histórias criam vida. Descubra agora