Capítulo 15.

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(Oi, gente. Voltei com mais um capítulo. Vou fazer aqueles avisos de sempre: essa história contém violência, menção a sangue e etc...se você é sensível, não leia. Espero que gostem do capítulo e até a próxima. Aproveitando para pedir encarecidamente para que se quiserem, leiam o capítulo ouvindo SLEEPWALKING e Drown de Bring Me The Horizon, do CD Live in Royal Albert Hall para uma melhor experiência. Atenciosamente, a autora. ❤️ )

Gerard Way.
Flashback

- Bom trabalho, rapaz. Agora vá tomar um banho, jantaremos às 20 horas em ponto. Não se atrase. - Deu ênfase no não se atrase. Claro que eu não vou me atrasar, morro de medo de pensar em desapontar o meu pai. Não consigo imaginar o que ele faria. Passei pelos cômodos da casa assim mesmo, meio cabisbaixo, com as mãos nos bolsos, a postura tudo menos ereta. A ciência culpa a escoliose, eu culpo o peso na consciência e a falta de confiança que me assombra desde criança.

Dava boa noite aos funcionários, que me olhavam sempre do mesmo jeito, era um olhar denso, misturado com dor, tristeza, raiva, mas quase que predominantemente pena. Não é nenhum segredo o que fazemos, não aqui nesta casa. Todos sabem. O que para eles também não é um bom negócio, não raramente tivemos que encerrar a vida de alguns ex funcionários por falarem demais e levantarem suspeitas.

Parei para me observar no espelho do corredor, que ia do teto ao chão, mesmo com a atmosfera escura, mórbida e triste da casa, aquele lugar em especifico era estupidamente bem iluminado. Pude perceber as minhas feições, e meu Deus, eu não me olhava no espelho há tanto tempo assim? Quando foi que alguns pelos começaram a surgir no meu rosto? Pálido. Olheiras de noites mal dormidas. Pesadelos. Cansei de tê-los. Finalmente posso dizer que aos dezesseis anos, estou desenvolvendo uma barba. Virando homem, como diz o meu pai.

Fui em direção ao meu quarto, abri a porta, que rangeu, odeio essa casa velha e absolutamente tudo o que ela representa. Moramos aqui desde sempre. Meu pai herdou a casa do meu avô, que herdou do meu bisavô. Uma mansão. Porém velha, e com uma energia pesada demais para continuar na família por tanto tempo. Minha mãe acredita que o espírito de todos os que matamos até hoje pairam por aqui, não duvidaria, essa casa torna difícil de respirar.

Respirar. Há quanto tempo eu não respiro direito? O coração apertou, e ao mesmo tempo, acelerou abruptamente. Hiperventilação. Dormência no braço esquerdo. Vontade de vomitar. A velha crise de ansiedade, a minha única certeza da vida, já tinha chegado para dar o ar da graça. Peguei o remédio amigo que estava na mesa de cabeceira, bebi com um pouco de água que sempre, sempre, sempre tinha um pouco no meu quarto e aguardei que agisse inibindo de maneira leve algumas funções do meu sistema nervoso central, para que logo eu estivesse sedado, relaxado e tranquilo.

Os gritos. Os gritos são sempre as piores partes. Ainda não consigo ser exato, certeiro em todos os meus tiros. Acabo tendo que dar dois, três, quatro a mais, como no caso de hoje. Cheguei no momento da vida em que empunhar uma arma é como se fosse parte do meu corpo. Naquele momento eu chorei, chorei porque tudo o que eu queria era ser um adolescente normal em uma sexta à noite, fazendo besteira com os amigos no meio da rua, talvez perdendo o réu primário por roubar uma garrafa de bebida de uma loja de conveniência e transformar isso em piada no dia seguinte.

Os lábios macios de um homem nos meus, em contraste com seu toque firme, rijo, forte. Falando assim parece até que tenho vasta experiência neste aspecto. Sentei-me no chão frio do quarto, puxei a carteira de cigarros que mantinha embaixo da mesa de cabeceira, acendi o primeiro cigarro como se minha vida dependesse daquele primeiro trago, que infestou os meus pulmões com uma névoa de tranquilidade. Começava a ficar em paz.

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