Henry.

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Oito anos atrás...
Henry- 9/10 anos.

Um sentimento de inquietação percorre o meu corpo quando não escuto as batidas do coração que eu desejo escutar, e não entendo como eu consigo identificar os batimentos cardíacos dela, mas eu apenas sinto, e essas batidas de apenas uma pessoa não é ela, não é a garota com o cheiro bom.

Ele é peculiar, não é como dos outros lobos. Ela não é uma loba, é uma humana!

Consigo sentir o cheiro dela vindo dessa casa, mesmo que não esteja forte, o cheiro bom está vindo do quarto que estou nesse exato momento olhando de longe. E sem querer desistir de encontrá-la, começo a correr e quando estava próximo a sacada, do que parece ser o seu quarto, dou impulso ao meu corpo para pular e seguro as barras de ferro do parapeito, e sem muito esforço, consigo passar por ele.

Adentro o quarto, já que a porta de vidro estava aberta, o que é um perigo porque qualquer um pode invadir a casa com ela aberta... E eu acabei de invadir ela. Zeus, eu estou invadindo a privacidade da menina e mamãe já me disse que isso é errado, eu não deveria ter feito isso, mas o cheirinho dela está tão forte no quarto cor de rosa, é tão embriagante...

Mas por que o quarto está tão vazio?

Procuro qualquer indício que ela possa estar ainda aqui, que essa é realmente a sua casa, mas não encontro nada. Nenhuma roupa ou bonecas, nada mesmo, apenas uma cama arrumada com um guarda-roupas vazio.

Fecho minhas mãos em um punho, ficando levemente irritado quando uma ansiedade me faz querer ir procurar o que o meu lobo acha que estou perdendo, como se eu estivesse deixado algo precioso escapar.

Fecho meus olhos, inalando o aroma que está empregado no quarto e no mesmo momento, sinto a ansiedade diminuindo conforme vou me embriagando com o aroma e desejo que na próxima vez que eu voltar, a menina com o cheirinho bom possa estar aqui e que ela aceite ser minha amiga, porque o aroma dela me trás uma mistura de sentimentos bons.

Caminho na direção da sacada, pulando do segundo andar sem que ninguém perceba a minha presença, e mesmo que eu queira continuar dentro do quarto, começo a correr ao lembrar que tenho treino hoje de tarde.

[...]

Passo uma das minhas garras na madeira do chão da casa da árvore, fazendo riscos aleatórios enquanto tento me distrair dos meus pensamentos, mas fica difícil quando tudo que o meu lobo quer é sentir o cheirinho bom daquela humana, cheirinho esse que não tenho mais, pois o aroma que restou em seu quarto foi desaparecendo com o tempo, e mesmo depois de ir incontáveis vezes na casa que descobri ser de sua avó, não a encontrei em nenhuma dessas vezes.

Eu só queria poder vê-la mais uma vez, só queria poder sentir o seu aroma mais uma vez, ter a sua presença por perto, eu só queria me aproximar, ser amigo dela, e hoje esses desejos só aumentam.

Balanço a cabeça levemente, respirando fundo ao fazer com que minhas garras desapareçam com facilidade, o que me faz dar um pequeno sorriso ao constatar que ainda não perdi o controle dos meus sentidos. Apesar que nos últimos meses estou conseguindo os controlar muito bem, tenho noção que hoje a noite eu não irei ter esse controle deles, pois não tenho nenhuma alternativa, irei ter que passar pelo processo da trasformação.

A minha primeira trasformação!

Mesmo que papai tenha tentado impedir com que isso aconteça tão cedo, não dá para evitar o meu destino, e sinto medo de ter que o enfrentar, mas tento colocar em minha cabeça que só irá ser uma única vez e nunca mais irei sentir esses tipos de dores.

Vai tudo ficar bem, eu irei ter mais forças para proteger os lobos!

Viro meu olhar na direção da porta assim que sinto a presença do meu pai se aproximando e recebo um sorriso do mesmo assim que ele aparece no meu campo de vista, trazendo um pouco do odor de preocupação para o local.

Meu Vigia Noturno IIOnde histórias criam vida. Descubra agora