Capítulo 6.

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Vinte e dois de Janeiro...
Maya.

Corto o último tomate em quadrados pequenos, colocando eles em formas organizadas no prato com o resto da salada que fiquei responsável em fazer enquanto vovó começa a fazer o nosso jantar.

A temperatura nessa semana está cada vez mais fria, me levando a pensar que a neve poderá cair a qualquer momento, já que no fim do mês passado não nevou. O inverno não é uma das minhas estações do ano preferida, nunca saia direito nessa época do ano, evitando sentir o vento gélido e apenas ficar aquecida dentro dos meus edredons.

Nesse ano não será diferente!

—Os materiais escolares já estão comprados ou você ainda irá comprar?– saio dos meus pensamentos com a voz da minha avó, e só agora percebo que estava olhando para fora da janela da cozinha.

estava me esquecendo do colégio... Irei ter que sair do conforto para enfrentar o frio apenas para ir ao colégio!

—Já está tudo comprado!

—E quando é que você vai sair para conhecer um pouco da cidade?

—Talvez amanhã, ou depois de amanhã, depende se o dia não estiver muito frio!

—Então vai ser difícil, janeiro e fevereiro são os meses que mais fazem frio aqui, melhor aproveitar antes que neve e você não queira sair de dentro de casa!

—Sábado eu vou sem falta para uma praça que avistei alguns segundos antes de chegar.

—Aquela é a praça principal daqui, é a maior que nós temos, e quando está coberta por neve se torna melhor ainda, as crianças vão todas para brincar na neve!

—Não entendo elas, a neve é tão... fria!– acabo rindo da minha própria frase sem noção.

—Mas divertida quando se está agasalhada corretamente!

—Pode até ser, mas prefiro ir para a praça antes de nevar!

Levanto da cadeira e me aproximo da pia, onde vovó tempera um frango e começo a ficar entediada, sem nada para fazer, apenas observar a minha avó cozinhar.

—Precisa da minha ajuda?

—Não. Por que você não vai para o jardim? Ler ou assistir na sala?– sorrio para ela e confirmo com a cabeça.

Saio da cozinha a procura do livro de romance que estou quase acabando, me lembro de o ter deixado na sala. Reviro o sofá, retirando as almofadas e encontrando ele embaixo delas, pego ele e volto para a cozinha.

—Vó, estarei no lado de fora, qualquer coisa é só chamar!– digo e abro a porta dos fundos da cozinha, passando por ela ao ouvir um tudo bem da minha avó.

Os raios de sol estão fracos diante as extensas nuvens que rodeiam o céu, o vendo gélido não me incomoda por conta do casaco e calça que estou usando, percorro o meu olhar entre as árvores um pouco afastadas de mim. Há pouco espaço no jardim que não tem árvores, ainda mais pinheiros enormes.

Me aproximo de um em especial, que parece que sua altura não tem fim, me dando tonturas em só me imaginar lá em cima, mas a sua aparência é deslumbrante, então chego mais perto do mesmo, decidida em sentar encostada no seu tronco para começar a minha leitura, mas algo acerta o topo da minha cabeça fortemente antes que eu consiga sentar no chão.

Agora sim eu estou tonta!

Massageio o topo de minha cabeça, resmungando várias vezes por conta da dor. Olho para os lados percebendo o que me acertou no chão, pego-a em minhas mãos e analiso a mesma.

—Ou eu sou muito azarada, ou essa pinha tem vida própria e resolveu mirar em mim por pura implicância! Como é que você conseguiu bater bem em mim? Tem vários espaços ao meu redor para você cair!– digo olhando para a pinha com um tamanho razoável.—Você nem está aberta para soltar as sementes, acho que é isso que você faz...

Eu não sei nada sobre pinhas, ainda mais as assassinas!

—Será se eu te deixar em algum canto você ainda vai se abrir? Melhor te deixar aqui!– a deixo perto do tronco.—Acho que o baque foi grave, estou até falando com uma pinha!

Melhor ficar longe de árvores por hoje!

Caminho na direção da varanda da frente, querendo apenas sentar em um dos bancos para finalmente ler o meu livro, mas paro no lugar quando avisto uma garota com cabelos ondulados saindo da floresta, que me avista antes de atravessar a estrada para a casa ao lado.

Fico sem saber o que fazer quando a mesma começa a caminhar na minha direção, parando em minha frente e me lançando um sorriso mínimo.

—Você é a neta da dona Laura, né?– confirmo com a cabeça, sorrindo para ela.—Me chamo Elisa, moro ao lado da sua nova casa!

—Minha avó comentou sobre você, e eu me chamo Maya!

—Gosto muito da sua avó, ela é uma humana simpática. E também comentou muito sobre você, ela realmente estava animada com a sua chegada!

—Espero que nada constrangedor!

—Pode ficar tranquila que ela não é igual ao meu pai, ele adora contar os meus podres para as pessoas!

—Minha mãe é igual, ainda mais com os meus parentes!

—Não tenho parentes, apenas conhecidos e amigos, mas isso é o suficiente para ele me defamar!

—Ele me parece ser divertido!

—É, ele tenta ser! Mas você vai ficar por quanto tempo?

—Pretendo ficar até me formar, três anos!

—Então você é do primeiro ano?

—Sim, e você?

—Estou no segundo, que pena que não vamos ficar na mesma sala, pois os da minha são tudo tóxicos e você não me parece ser como eles!

Acho que isso foi um elogio!

—Espero que os da minha sala não sejam assim, quero me adaptar logo com essa mudança!

—Bom, não vou mentir dizendo que eles vão te receber de braços abertos, muitos vão ficar apenas te observando de longe, eles têm problemas em reagir com o novo, mas não são todos que são assim!

—Entendo, eu acho!

—O que eu estou tentando dizer é que vai ter pessoas insuportáveis, mas também haverá pessoas que lhe farão se esquecer delas, mesmo que não possa demonstrar abertamente...

Tenho uma leve impressão que isso não se refere a mim, mas acho que entendi!

Enfim, foi bom lhe conhecer, mas agora preciso ir, minha mãe deve estar a minha espera. Qualquer dia a gente conversa mais, gostei de você, e pode considerar um grande elogio vindo de mim, não sou fácil de simpatizar com as pessoas!

—Também gostei de você, e obrigada pelo elogio, tchau!– sorrio para ela que retribui, caminhando para sua casa logo em seguida.

Suspiro feliz por interagir com ela, por ter alguém conhecida que não seja apenas a minha avó. Olho para o meu livro, percebendo que ele acabou sendo esquecido um pouco, subo os degraus e me sento na varanda, abrindo o livro para começar a minha leitura.


Meu Vigia Noturno IIOnde histórias criam vida. Descubra agora