CAPITULO 25

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— Sempre pontual.

A voz carregada de ironia foi a primeira coisa que Marta ouviu ao parar diante dele. Ele estava ali há mais de quarenta minutos, o que, para um homem tão metódico, devia parecer uma eternidade.

— Tive um imprevisto. Quase não vim.

— O mundo moderno inventou algo chamado celular. Anda no bolso, faz ligações. Poderia ter avisado. — A resposta veio seca, afiada.

Marta cruzou os braços, exalando impaciência.

— Estou aqui, não estou?

Ele soltou um riso curto, sem humor.

— Vamos parar com esse teatro, Marta. Você quer esse divórcio tanto quanto eu. E sabe muito bem por que fui embora.

— Você já não estava presente há muito tempo.

— Eu estava trabalhando para sustentar você e a MINHA filha.

— Nossa filha!

— MINHA! Você nunca quis ser mãe. Nunca quis essa responsabilidade.

Marta desviou o olhar, apertando os dedos sobre a mesa.

— E por isso me traiu com a empregada?

O silêncio que se seguiu foi carregado. Ele respirou fundo antes de responder.

— Eu não te traí. Você acompanhou todo o processo. Estava lá quando a Meire fez a inseminação. Você consentiu. Nós tínhamos um acordo.

— Mas no acordo não estava escrito que ela morreria no parto. Ela seria a mãe, não eu. Eu só iria assiná-la como minha filha. Mas o trabalho pesado seria dela.

Ele bateu a palma da mão na mesa, os olhos faiscando.

— Foi uma fatalidade, Marta! E Camila não tem culpa! Ela cresceu achando que você era a mãe dela!

Ela riu, sarcástica.

— Quanto mais ela crescia, mais parecida com a Meire ficava. E eu não conseguia vê-la como minha filha. Para mim, sempre foi uma intrusa.

— E foi por isso que engravidou de outro?

Marta abriu e fechou a boca, sem resposta imediata.

— Foi um erro. Uma irresponsabilidade. Você sabe que eu nunca quis engravidar. Nem dele, nem de você. De ninguém!

— Mas ainda assim, eu te perdoei. E disse que assumiria essa criança.

Ela o encarou, tensa.

— Eu nunca quis ser mãe. Nunca tive esse dom.

— Então simplesmente deu a sua filha para outra família?

— Ela está bem! Você sabe disso! Patrícia e Ricardo a amam. Eles sempre quiseram um filho, e Camila e Beatriz cresceram juntas. Sempre se viram como irmãs, mesmo sem saber a verdade. Então por que mexer nisso agora?

A resposta dele veio dura, cortante:

— Porque minha filha sofre. E sofre por sua causa. Ela merece saber a verdade. Merece saber que você não é a mãe dela. E que Beatriz é sua irmã.

— Não! — Marta se inclinou para a frente, os olhos ameaçadores. — Beatriz não é irmã dela. Camila não é minha filha biológica. Ela é SUA filha, com a empregada! Beatriz é fruto do meu caso com o Juan. E nem eu e nem ele queremos trazer isso à tona.

Ele cerrou os punhos, o maxilar travado.

— Se quer contar a verdade para Camila, faça isso. Mas deixe Beatriz fora disso. Se alguém tiver que contar, são Ricardo e Patrícia. E eu tenho certeza de que eles nunca vão querer isso.

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