Luan perguntou enquanto eles seguiam para o estacionamento:
— Tá tudo bem?Camila respondeu educada, embora sua cabeça fosse um turbilhão de pensamentos:
— Sim. Obrigada!Ele continuou, tentando encontrar uma maneira de fazer ela ficar mais calma:
— Camila, quer ir lá para casa? Temos muito o que conversar. E seria bom você ficar perto da sua irmã agora.Camila, ainda angustiada, rebateu sem hesitar, sua voz cheia de firmeza:
— Por favor. A Bia não é minha irmã! Marta não é nada minha! E eu não tenho nada para falar sobre esse assunto. Vocês precisam conversar entre si. Eu vou para a minha casa. Stacy está me esperando com o Sr. McCartney, e eu também não quero prolongar minha estadia. Pretendo voltar para Miami o quanto antes, tenho muitas coisas para resolver por lá.Ela mal conseguia olhar para Bia naquele momento. A simples presença dela fazia com que Camila lembrasse de Marta, o que a incomodava profundamente. Sabia que Bia não tinha culpa, mas a visão da amiga trazia à tona memórias dolorosas.
Bia, com receio, perguntou:
— Como vai embora?Camila, sem paciência para explicações, respondeu:
— Eu vim com o Peixoto, mas ele ficou no escritório com Marta, que estava ensandecida.Luan, sempre atento, disse, sem hesitar:
— Eu a levo.Camila tentou resistir, mas ele já estava decidido.
— Não precisa. Chamo um táxi. – Ela respondeu, começando a abrir a bolsa.Luan segurou sua bolsa, impedindo-a de terminar o movimento, e disse, com firmeza:
— A gente vai para o mesmo lugar, não precisa falar nada se não quiser. Vou respeitar o seu silêncio. Só não permitirei que volte sozinha.Camila olhou para ele, resignada.
— Tudo bem, mas sem uma palavra.Luan assentiu, mantendo sua postura de quem sabia que estava fazendo o certo.
Ela se despediu, com um tom frio e impessoal:
— Tchau!Bia, Patrícia e Ricardo responderam em uníssono, um pouco surpresos pela frieza de Camila:
— Tchau!Como prometido, Luan não disse uma palavra durante todo o caminho. Mesmo com a cabeça encostada na janela, Camila sentia os olhares dele sobre ela. Era estranho, pois a sentia tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante. As palavras de seu pai naquela carta, em relação a eles, ecoavam em sua mente. Ela sempre teve medo de contar as coisas ao pai; na verdade, nunca foi de se abrir com ninguém. Nem com a Bia. Camila guardou muitas coisas por muito tempo, sofrendo calada, e sozinha. Houve um tempo em que ela tentou falar sobre algumas coisas com uma psicóloga, enquanto estava internada em uma clínica de reabilitação para pessoas com transtornos emocionais. Mas nunca contou a ela tudo o que passou em casa, nem o que realmente sentia. Talvez por medo de ser taxada de louca e acabar sendo encaminhada para um manicômio, em vez de receber alta. E quando pensou que a psicóloga tinha ido longe demais, veio o estupro. Depois, ela se afundou no álcool e nas drogas.
Enquanto flutuava entre seus pensamentos e demônios, uma lágrima teimosa escorreu pelo canto de seu olho. Camila tratou de enxugá-la antes que Luan visse. O carro parou em um semáforo. Já estavam no centro de Alphaville, passando em frente a uma lanchonete que ela adorava frequentar com o pai quando era criança. Durante o pouco mais de um ano em que passaram "juntos", também iam bastante, já que o local era mais comum nos Estados Unidos.
— Pára o carro! Pára o carro, Luan! Por favor! – Camila pediu, desesperada.
— T-tá. – Luan freou com tudo, ouvindo buzinas e gritos de algumas pessoas. Camila não ligou. Desceu às pressas.

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ABISMO
RomantikEla está afundando. Ele está brilhando. Mas e se, no fim, ambos estiverem perdidos? Camila sempre teve tudo: dinheiro, privilégios, excessos. Mas quem olha de perto vê as rachaduras - festas intermináveis, vícios perigosos, mentiras que a sufocam. E...