Luan observava Camila com uma preocupação crescente. Nos últimos dias, ela parecia mais abatida, seus olhos fundos e sua pele mais pálida. O emagrecimento repentino não passava despercebido, e apesar de entender as razões por trás de todo o sofrimento de Camila, ele não conseguia deixar de sentir um aperto no peito. Algo parecia estar errado, e a dúvida se ela estava caindo em uma depressão o atormentava.
Era difícil para ele ver aquela mulher forte e independente que ele conhecera, agora tão vulnerável e fragilizada. Ela passava os dias calada, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros. Sua relação com a alimentação estava cada vez mais distante, e Luan sabia que isso não poderia continuar. Ele precisava entender o que estava acontecendo com ela, mas as palavras dela eram difíceis de se alcançar. Camila estava se fechando cada vez mais, afastando todos, mesmo aqueles que estavam mais próximos, como Bia.
Luan decidiu buscar apoio nas amigas de Camila. Stacy, que sempre estivera ao seu lado, parecia entender a gravidade da situação. Ela também se preocupava com a saúde emocional de Camila, mas Bia... Bia estava distante, como se o abismo entre elas fosse algo que não pudesse ser superado. Luan tentou conversar com Bia, mas a resposta era quase sempre a mesma: uma distância cautelosa, uma reserva que só aumentava o desespero dele.
— Ela não está bem, Bia. Eu vejo isso. — Luan disse, com a voz carregada de preocupação.
— Eu sei. Mas, Luan, você precisa entender. Não é só a dor física. Camila está lutando contra algo muito maior, algo que não tem como ver. — Bia tentou explicar, mas a frustração estava estampada em seu rosto. Ela sabia o quanto sua amizade com Camila havia mudado, mas o que ela não sabia era como ajudar.
Camila, por sua vez, parecia ignorar a presença de Bia, pouco respondia, e seus olhares estavam distantes. Quando ela olhava para a amiga, havia algo em seu olhar que transparecia um desconforto, um peso que ela não conseguia mais esconder. O fato de Bia ser filha de Marta ainda a machucava profundamente, e a presença dela só a fazia lembrar do mal que Marta causou. Mesmo amando Bia como amiga de toda uma vida, Camila não conseguia lidar com o fato de que o sangue de Marta corria nas veias dela.
Em um momento mais privado, Luan decidiu abordar Camila sobre os horrores que ela passou. O silêncio entre eles era pesado, mas ele sabia que precisava fazer essa pergunta, precisava ajudá-la a entender o que estava acontecendo com ela, e o que ela ainda guardava dentro de si.
— Camila, o que aconteceu com você? O que você está sentindo? — Luan perguntou suavemente, segurando suas mãos com cuidado, os olhos dele buscando os dela.
Camila olhou para ele, mas o que ela viu era mais do que simples compaixão. Havia compreensão, havia o desejo de ajudar, mas também havia uma sensação de impotência. Ela sentia-se frágil demais para falar, mas a necessidade de desabafar era maior do que a vergonha.
— Eu... eu não sei. Eu... eu vivi muitas coisas, Luan. Coisas que você não pode imaginar. — Ela respondeu com a voz embargada, o olhar fugindo do dele. — Eu tentei sobreviver da melhor maneira que pude. E eu... eu não consegui.
Luan estava ali, ouvindo cada palavra dela, mas o que ele ouviu a fez sentir um peso ainda maior em seu coração. Ela se abriu de uma maneira crua, mostrando-lhe a dor das perdas que ela sofreu, o abandono de sua mãe, a negligência de seu pai, a tragédia do estupro, e a profundidade dos seus distúrbios e vícios. Cada palavra era uma confissão de fragilidade, cada frase um lamento não dito até aquele momento. Ele ficou em silêncio, observando o modo como ela tentava controlar as lágrimas que teimavam em cair, como se aquele momento fosse o único em que ela podia ser verdadeira.
Mas então, a conversa seguiu para um terreno mais doloroso. Luan perguntou sobre Bia, e Camila, com a voz baixa, lhe contou a verdade que tanto escondia.

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ABISMO
RomanceEla está afundando. Ele está brilhando. Mas e se, no fim, ambos estiverem perdidos? Camila sempre teve tudo: dinheiro, privilégios, excessos. Mas quem olha de perto vê as rachaduras - festas intermináveis, vícios perigosos, mentiras que a sufocam. E...