capítulo trinta: arranhões

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d͟͟͟͞͞͞i͟͟͟͞͞͞o͟͟͟͞͞͞g͟͟͟͞͞͞o͟͟͟͞͞͞

   Seu Valmir me liberou pra levar a Yasmin pra casa e depois voltar a trabalhar. Eu já tava há dez minutos no quarto dela escutando mais um papo aleatório que ela falava enquanto se trocava.

  Eu ainda não conseguia me concentrar totalmente por ainda estar com muita raiva daquele cara. Ver homem batendo em mulher era o pior gatilho pra alguém normal, com caráter. Ainda mais quando é em uma pessoa que eu gosto. Yasmin pode ser raivosinha, boa de briga como ela se mostrou, mas nada justifica.

— Não ouviu o que eu disse, né!? — Ela chamou minha atenção.

  Yasmin tava de shorts com um sutiã. Desci os olhos por ela até eles pararem na barriga dela, tava vermelho e com uns arranhões. Na hora eu já levantei pra ver se era realmente o que eu tava pensando.

  Abaixei na frente dela vendo de perto o machucado e tava com algumas gotículas de sangue. Era recente.

— Isso foi ele? — Subi os olhos pra ela.

  Yasmin engoliu em seco não me respondendo. Isso tinha sido uma resposta.

  Levantei sentindo a raiva crescer da boca do estômago.

— Eu perguntei se ele tinha te machucado. — Encarei ela sério.

  Yasmin colocou a camiseta rápido.

— Pra que que eu ia dizer? Pra você ir lá terminar de matar o cara? — Ela se encarou no espelho me deixando mais irritado.

  O cara tinha machucado ela? Porque ainda tá defendendo? Ele merecia tomar uma surra tão grande pera aprender não mexer com mulher.

— Yasmin, para de passar pano pra ele, mano. — Reclamei.

— Não tô passando pano. Só tô falando que se você fosse lá ia matar o menino. Quem ia sair como culpado era você. — Ela me olhou também irritada.

— Ia ser menos um covarde.

— Para de falar merda. Ele é de menor, de menor. Você tem noção que isso pode dar merda só por ter encostado nele? — Ela ergueu uma das sobrancelhas.

— Yasmin, você ainda não entendeu a gravidade que é dele ter te tocado? Foda-se que é de menor, eu não tô nem aí. Eu faria de novo por você ou por qualquer outra, só pelo simples fato encostar numa mulher.

  Yasmin voltou olhar pro espelho me deixando com mais raiva. Eu odiava falar com as pessoas que não me olham nos olhos.

— Agora ele vai sair como mocinho.

— Foda-se, eu não ligo pro papel que ele vai sair, até porque a opinião daquele bando de filhos da puta que te assistiram ser agredida e não fizeram nada, pra mim não vale de nada. O que eu ligo é que toda vez que ele te olhar vai lembrar a surra que tomou de mim e nunca mais vai te encostar. E se encostar... Yasmin, eu juro que eu mato ele!

  Yasmin suspirou negando ainda se olhando no espelho.

— Olha pra mim, Yasmin!? Eu tô falando com você, meu. 

— Pronto. — Ela se virou forçadamente.

— Mano, eu não acredito que você tá irritada comigo. Quem te bateu foi aquele filho da puta!

— Diogo, sem drama. Eu tô só irritada com o assunto, não é contigo.

  Olhei pra ela por alguns segundos vendo que era realmente só eu que via que o único errado nisso tudo era ele.

— Na moral, minha parte eu fiz. — Dei as costas indo sair do quarto.

— Onde você vai? — Ela perguntou atrás de mim.

— Trabalhar. — Fechei a porta do quarto dela e desci as escadas correndo.

  Vi que a larissa tava na sala e eu ia só cumprimentar, mas vi uma oportunidade de ela ir tentar colocar alguma coisa na cabeça da Yasmin. E conhecendo a garota, essa historia nem chegaria nas mães dela pra evitar preocupação e sermão.

— Oi, Larissa. Tudo bem? — Chamei atenção dela.

— Diogo. Por aqui!? — Ela levantou sorridente.

— Então ia te falar que hoje aconteceu uma coisa meio chata. — Vi ela ficar preocupada. — A Yasmin brigou na escola e um cara machucou ela. Eu tentei conversar, mas ela ainda tá defendendo o cara.

— Como? — Larissa tava horrorizada. Não era pra menos. — Eu vou ir lá falar com ela, agora. Obrigada, Diogo. Com certeza eu nunca saberia disso.

  Assenti.

— Agora eu preciso voltar trabalhar.

  Ela concordou rápido. Queria se livrar de mim logo pra ir falar com a Yasmin e eu não julgo, estaria exatamente assim.

— Vai com Deus!

— Amém. Fica com ele também. — Dei as costas indo pra saída da casa.

  No elevador eu quase afundei o botão do térreo de tanto ódio.

  Além da minha raiva por ele, tava com raiva de mim de não ter chegado a tempo e raiva dela estar defendendo ele. Porra, onde eu moro se esse cara da uma dessa com a mulher de alguém, ele se fode bem mais do que tá fodido comigo.

  O elevador parou no térreo e saí dali o mais rápido.

[...]

Suspirei cansado enquanto me ajeitava pela terceira vez no banco do metrô. Eu não falei mais com ela desde aquele hora e isso me deixou mal o dia inteiro. Queria ligar e perguntar como ela ta, mas eu ainda não acredito que ela tava defendendo um agressor. Quem bate em mulher não merece menos do que eu fiz. E ainda continuo com o pensamento de que fiz pouco. A única coisa que mudou até agora foi a minha preocupação de ter sido grosso demais com ela. Mas de resto... Ainda faria tudo de novo.

— Próxima estação: Santa cruz. Next station: santa cruz. Desembarque pelo lado direito do trem.

A voz da programação do metrô me despertou do transe. E eu nem vi passar tanto tempo assim, tava extremamente desfocado de qualquer coisa. Não tinha como tentar esquecer ou deixar de lado tudo isso. Era sobre ela, e eu não posso fazer nada se a Yasmin domina minha mente desde a primeira semana que eu conheci. E isso só confirma uma coisa! Que eu e ela nem somos um casal ainda e estamos nessa fase que era pra estarmos daqui há muitos meses.

Desse jeito, daríamos muito certo ou daríamos muito errado, sem meios termos. E eu aposto tudo na primeira opção.

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mentindo ela n tá, mas o certo é o diogo

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