capítulo setenta e um: jeito que você me olha

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y͟͟͟͞͞͞a͟͟͟͞͞͞s͟͟͟͞͞͞m͟͟͟͞͞͞i͟͟͟͞͞͞n͟͟͟͞͞͞

  Hoje eu levantei com mais disposição do que eu tô acostumada, mais tarde eu marquei de ir jantar com o Diogo em algum canto que a gente gosta. Era bom ter ele de volta assim na minha vida.

Já tinham dias que a gente tá tentando de novo. E é óbvio que não somos a mesma coisa, não acho que vamos ser algum dia como antes. E tudo bem, a gente tá entrando em outro ciclo. Agora nos falamos todos os dias e não é mais aquele negócio forçado como antes, isso me alivia.

  O melhor de tudo isso era pensar que não tinha mais peso na consciência. Eu não precisava mais aturar o Daniel.

— Bom dia, gatinha. — Minha mãe falou entrando na cozinha.

— Bom dia, mãezinha! — Passei por ela dando um beijo no seu ombro.

  Peguei minha garrafa d'água na geladeira e coloquei em cima do balcão pra facilitar quando desse minha hora.

— Ela tá de bom-humor. Olha o milagre!

  Ri fraco.

— Não vou jantar hoje em casa, tá? Vou sair com o Diogo.

— Ah, agora tudo faz sentido! — Ela me desmascarou. Gargalhei pegando minha mochila no banco.

— Beijo! te amo. Quando a Lari acordar diz que eu mandei um beijo pra ela.
 
  Peguei minha garrafa e sai praticamente voando pra fora da cozinha.

[...]

— Filha? — Seu Valmir me chamou da porta da cozinha.

— Oi? — Olhei ele por cima dos ombros antes de voltar a organizar as coisas em cima do balcão.

— Diogo tá aí fora te esperando. — Ele disse com um sorriso no tom de voz.

  Me animei de volta na maior rapidez do mundo.

— Avisa pra ele que eu só vou terminar aqui e me arrumar, por favor, seu Valmir?

— Não. Porque você vai se arrumar agora e vai deixar que eu termine isso aí. — Ele disse e como eu nem estava querendo isso larguei de fazer as coisas e dei um beijo na bochecha do senhor antes de ir pro banheiro dos fundos.

  Tirei a roupa que eu tinha passado o dia todo e coloquei um dos meus vestidos pretos que era minha marca registrada pra sair com o Diogo. Calcei meu outro tênis e guardei tudo dentro da minha mochila, dei uma ajeitada nas tranças e logo tava quase saindo da cozinha.

— Tchau, seu Valmir. Até segunda! — Me despedi do senhor que arrumava as coisas na bancada.

  Assim que eu botei o pé pra fora vi o meu pretinho sentado na bancada com a carinha de cansado enquanto mexia no celular. Aproveitei que ele tava distraído para ir por trás sem fazer muito barulho e abraçar ele.

  Diogo deu um pulo da cadeira pelo susto.

— Maluca, não faz isso! — Se virou pra mim.

— Não resisti, desculpa. — Fiz biquinho. Diogo riu revirando os olhos e me deu um selinho lento.

— Eu que não resisto você, da até ódio. — Ele alisou me bochecha me fazendo sentir sensações que só ele conseguia.

— E quem resiste? — Brinquei e ele bufou. — Vamos aonde?

— Restaurante perto de casa. É novo. — Ele pegou minha bolsa da minhas costas e fez uma careta. — Tá carregando pedra aqui dentro?

— É só meu material e minhas roupas, exagerado! — Dei um selinho nele e enrosquei nossos braços tomando a iniciativa de sair logo dali.

  Mesmo que seja sexta e que temos um final de semana todo pra gente curtir sozinhos, eu não quero desperdiçar nenhum minuto.

  Diogo abriu o carro prata e eu entrei no banco da frente animada.

— Hoje eu fui trampar. — Diogo entrou logo em seguida colocando minha mochila no banco de trás. — Tô cansado.

— Que bom que você decidiu ficar lá. — Sorri fraco. —  Se quiser deixar pra gente ir amanhã não tem problema. — Falei sincera.

— Lógico que não. Eu tô com fome e faz muito tempo que a gente não tem um momento assim.

  Mordi o canto da boca querendo reprimir o sorriso apaixonado que queria crescer.

— Vai dormir lá em casa? — Perguntei ligando a rádio que tava na metade de um pagode. Abaixei um pouco pra ficar mais ambiente.

— Não. A gente vai dormir lá na minha casa. Tenho que levar um bagulho pra minha avó e também faz tempo que você não vai pra lá.

  Concordei. Pelo o menos a gente iria dormir juntos.

— Amanhã você tem outros planos ou a gente vai ficar juntos? — Perguntei mesmo já sabendo qual a resposta.

— Amanhã no que depender de mim eu não vou sair da cama. Domingo a gente sai pra algum lugar. Tudo bem? — Ele colocou a mão na minha coxa me fazendo suspirar.

— Perfeito, pra mim. — Coloquei a mão por cima da dele.

[...]

  Mal chegamos no restaurante e eu já queria sair. A comida era pouca e cara.

— Diogo, eu não volto aqui nem que me paguem. — Falei baixo fazendo ele gargalhar baixo.

— Eu sabia que você ia reclamar.

— Trezentos reais num prato que vem dois grãos de feijão e três de arroz? — Perguntei indignada. — Oi?

— Termina de comer aí que eu te levo pra comer um dogão lá na pracinha. — Ele bebeu um pouco do suco dele pra evitar rir mais.

— Eu pago o dogão, tá?

— Não precisa, neguinha.

  Neguinha. Tanto tempo que eu espero escutar isso de novo.

— O que foi? — Ele perguntou se encostando mais na cadeira.

— O que? — Me fiz de sonsa.

— Por que me olhou com essa cara? — Ele riu fraco.

— Que cara? — Continuei fazendo de quem não tava entendendo.

— A cara do gato do Cherequi. — Ele arrancou uma risada de mim:

— É que minha maior saudade de tudo isso era ouvir você me chamando de neguinha. — Apoiei o cotovelo na mesa.

— Sabe qual a minha maior saudade disso tudo? — Ele perguntou me fazendo negar com a cabeça. — Do jeito que você me olha. É diferente do olhar de qualquer pessoa, eu me sinto foda.

— Descobriu agora que eu te admiro? — Brinquei mesmo não tendo um pingo de mentira. Diogo ficou tímido.

— Te amo!

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calma gnt precipício vai voltar, eu só preciso de uma inspiração o suficiente

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