Capítulo 16

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Helena

Observo o corpo dele cair aos meus pés, e não demora muito para a porta ser aberta e as guardas entrarem com armas nas mãos e me forçando de joelhos no chão. Não mostro resistência em momento algum e ao longe escuto Carla chamando meu nome, não levanto a cabeça para olhar e nem responder nenhuma das perguntas que estão me fazendo.

Sinto as algemas serem postas em volta dos meus pulsos, alguém segura um de meus braços e me puxa pra cima me arrastando para fora da sala e seguindo pelo corredor.

Ando com mãos me puxando e as vozes falando alto e dizendo coisas que meus ouvidos se recusam a ouvir, sou levada para uma sala de interrogatório junto com o diretor e mais três guardas que ficam atrás de mim por segurança, como se eu fosse a ameaça aqui.

— Sua vadia, você ficou maluca de vez? O que estava pensando caralho? — O diretor fala andando de um lado para o outro.

Continuo calada e imóvel na cadeira, eu me recuso a dizer qualquer coisa, de que adiantaria? O que vão fazer se eu disser o que realmente aconteceu? Ninguém jamais fez nada por mim e não será agora que isso irá acontecer.

— O que eu vou fazer agora? Um agente morto por uma detenta sob minha responsabilidade, ta querendo me fuder mesmo sua cadela. — Ele para por segundos e me olha, bate com força na mesa em minha frente e sai da sala batendo a porta.

Sou colocada de pé para ser levada para algum lugar, mas antes mesmo de começar a andar, uma das guardas entra na minha frente e levanta minha cabeça me fazendo olhar em seus olhos.

— Sua calça está suja, é sangue. Precisa ir à enfermaria? — eu não respondo de imediato, mas olho em seus olhos e acho que ela entende.

Novamente no corredor sou encaminhada para a enfermaria e antes de me deixar entrar, a mesma guarda que falou comigo entra na frente e fala com a médica lá dentro. A porta se abre e sou levada para dentro, sento em uma das macas encostadas na parede e vejo a médica, uma senhora baixinha com cabelos quase grisalhos vestida com um jaleco branco vir em minha direção com um bloco de folhas nas mãos.

— Helena, certo? — ela pergunta e eu balanço a cabeça concordando. — Quer me contar o que realmente aconteceu?

Olho pela sala e vejo que só a guarda que percebeu meu estado ainda estava lá, parada perto da porta e os olhos em mim. Volto meus olhos para a médica, me decidindo se falaria ou não. Valeria a pena? O que ela poderia fazer? O que aconteceria se eu falasse a verdade?

— Helena, olha pra mim. Você foi estuprada? Porque se isso aconteceu, tenho que relatar e isso pode ajudar você. — Ela disse com tanta firmeza e calma...

— Sim! — digo em um fio de voz, e percebo que é a primeira vez que eu conto para alguém.

Ela começa a anotar tudo em seu bloco e me faz deitar na maca depois de mandar retirar minhas algemas. Ela entrega uma folha escrita para a guarda e em seguida a mesma sai do consultório me deixando sozinha com a médica.

— Não se preocupe, ok? Vou ajudar você criança.

Ajuda. Uma palavra que nunca fez parte da minha vida.

Após fazer alguns procedimentos, Maria, a médica, me deu um três comprimidos. Uma para dor, um calmante para me fazer dormir e uma pílula Diad.

...

Não sei quanto tempo eu dormi, mas quando acordei já não sentia tanta dor e estava coberta com uma manta azul e com a cabeça em um travesseiro, e me perguntei há quanto tempo eu não dormia tão bem.

Aproveitei aquela sensação de conforto por mais alguns segundos e senti meu pulso direito pesado, virei o rosto e vi que estava algemada no ferro da cama e logo levantei a cabeça para olhar em volta, batendo os olhos em Carla dormindo em uma cadeira encostada na parede mais próxima. Não vi nem sinal da presença de Maria pela sala e vendo pelo relógio na parede já passava das 22:00, eu teria dormido um dia inteiro pelo visto.

Vi quando Carla se mexeu na cadeira, abriu os olhos e me deu um meio sorriso que eu não consegui retribuir.

— Está com dor? — Ela perguntou baixinho, e eu percebi que não quis saber se eu estava bem, porque ela já sabia a resposta.

— Não. Quando vou sair daqui?

— A Maria conseguiu 4 dias de "descanso" pra você, então vai ficar aqui na enfermaria até poder voltar para a cela e... — ela parou de falar e me só me olhou, claro que eu sabia o final, outro julgamento para acrescentar mais um crime na ficha. Ótimo!

Voltei a deitar a cabeça no travesseiro e olhar para o teto, girei um pouco o pulso para melhorar a circulação e suspirei pesado.

— Você vai ficar aqui? — perguntei na esperança de não ficar sozinha. Odeio me sentir mais sozinha do que o normal.
— Não posso, mas tenho autorização para vir todo dia te ver por 30 minutos, Na verdade, eu já deveria ter ido.
— Entendi, obrigada por ter ficado então. — olhei pra ela e vi seus olhos úmidos, mas ela não deixou avançar mais.
Veio até mim e alisou meus cabelos, me deu um beijo na testa e desejou boa noite.

Não me lembro de como é sentir alguma coisa que seja, mas no momento em que Carla saiu da sala eu me vi sentindo o coração calmo como nunca havia sentido.

Mente CriminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora