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Helena.
— Porra mano, essa merda dói. — reclamo pela terceira vez, a tatuagem no braço e no pulso não doeu, mas na mão... puta que pariu
Carla já tinha um desenho montado com tudo que precisava ser gravado, a fórmula, composição, mistura... mas ela não colocou tudo em ordem, o desenho se estende por todo o meu braço, desde o ombro até a mão direita. Demorou três dias para ficar pronta porque não podíamos ficar muito tempo fora da nossa cela, então por três dias eu fui picada com aquela agulha.
Mas pra ser sincera, eu gostei. A sensação da agulha passando pela pele a ardência que deixava a cada traço era boa.
Em cada dedo estavam os números 1 7 5, subindo no dorso da mão tem chamas em brasa como se o fogo a engolisse inteira. No pulso tinham coordenadas gravadas como ondas girando todo ele, mais a cima se iniciava uma cobra negra enrolada, ela tinha olhos vermelhos e dava impressão eu estava mordendo meu braço. A fórmula começou a aparecer, o C estava formado pelo rabo da cobra com 9 riscos dando movimento ao chocalho, um encontro de dois galhos com 13 espinhos formava o H e por último ondas do que parecia fumaça formavam um N. A tatuagem foi preenchida com flores vermelhas, uma cruz como sinal de fé, um diamante bem bonito de destaque e um monte de símbolos só pra enfeitar.
— Até que eu gostei, foi você que desenhou?
— Foi, desde o dia que você chegou eu comecei a fazer... — já estamos na nossa cela, esperando o jantar, se tivermos sorte hoje vai ter comida que dê pra comer sem querer vomitar.
— E como sabia que eu iria querer isso? Bom, na verdade, eu ainda nem concordei com nada.
— Não tô pedindo pra você fazer nada. Isso foi um presente, use se quiser, se não quiser pelo menos tem uma tatuagem maneira. — ela ri e me joga um caderninho pequeno que cabe no bolso da calça. — Anote suas ideias, seus pensamentos, o que você quiser. Mas evite falar sobre o que conversamos.
Eu não respondo, só pego o caderno e a caneta e fico pensando no que dizer. Não tenho muitos pensamentos, não um que seja relevante de se escrever. Guardo o caderno dentro do travesseiro e me deito, pelo visto hoje também não tem jantar. Já me acostumei.
Fecho os olhos e me vem uma lembrança... Junior me abraçando e dizendo que ira ficar tudo bem. Aquele sorriso lindo, o abraço quente e cheio de cuidado, a saudade que eu sinto é tanta que sinto vontade de chorar, mas nenhuma lagrima sai. Nem me lembro qual foi a última vez que chorei, não me lembro nem quando foi a última vez que eu senti alguma coisa sem ser esse vazio no peito.
— BORA ACORDAR VADIAS. HOJE É DIA DE VISITA, QUERO AS CELAS LIMPAS!
Abro os olhos e suspiro, que inferno. Quem se importa que é dia de visita? Ninguém nessa cela recebe visita, fala serio.
Carla esta arrumando sua cama e colocando os livros no lugar, Vanusa esta xingando Deus e o mundo por ter que levantar sem motivo, Tamires parece que nem dormiu, pois está com os olhos vermelhos e arregalados, ela chegou aqui a 3 meses e ainda está em processo, algumas demoram meses ou nunca conseguem.
Depois de arrumar tudo como dá, somos levamos para o pátio onde tem o banho de sol, é aqui onde acontece a maioria das visitas, a não ser as particulares...
Demora mais ou menos uma hora para as visitas começarem a entrar. Estou sentada no chão encostada no muro embaixo de uma sombra junto com Carla, estamos em silêncio e eu estou de olhos fechados com a cabeça tombada para trás.
Odeio esses dias, ver as famílias chegando, se abraçando e tudo mais. No início a sensação de vazio só aumenta cada vez mais, mas agora pra mim é normal ver isso. Eu não tenho ninguém lá fora, por que me importaria?!
— Você nunca fala sobre sua vida lá fora. — Carla fala, sentada ao meu lado
Não, eu nunca falo e nem tenho vontade. Tento ao máximo não me lembrar de tudo aquilo, mas eu sei que é impossível, faz parte de mim, foi a única vida que eu conheci e que ainda conheço. Mas não quero que ninguém saiba, não quero dividir minha vida e meus únicos pensamentos com alguém.
— Não tem o que falar. — eu respondo ainda sem olhar pra ela, continuo na mesma posição
— Ok, respeito isso.
Depois disso nos ficamos ali só esperando essa merda de visita acabar.
Foi bem difícil elaborar essa tatuagem, mas acho que ficou bom.
Espero que tenham feito boa leitura.
Não esqueçam de deixar uma estrelinha😁
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Mente Criminosa
Фанфик🎶Redescobrindo meu eu, eu perguntei para Deus Porque me deu o livre arbítrio de escolher o que é meu Porque o senhor me escolheu? Se quem tinha que escolher era eu Se carregava ou não o fardo de ter que ser um dos seus Não sou rosa, não sou pura Nã...