Capítulo 9

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Júnior- SORRISO.

Minha vida nunca foi fácil, nunca tive nada de mão beijada mas também nunca passei fome, sempre tive minha coroa do meu lado e um teto sobre a cabeça.

Meu doador de esperma abandonou minha mãe quando eu tinha 7 anos, ele era um merda e não me faz falta nenhuma, mas eu sei que minha coroa sente saudades. Ele foi embora com minha piranha que era mais nova e mais gostosa que minha mãe, é foda, homem nunca valoriza o que tem.

Entrei na vida errada com 14 anos, as coisas começaram a apertar em casa, minha mãe descobriu que erava doente e eu não podia deixar ela trabalhar sozinha. Fui até o Cobra e pedi pra entrar no movimento, no começo ele não quis deixar, disse que eu era uma criança e que ele não queria ter que contar pra minha mãe que eu tava esticado no chão.

Mas eu implorei, contei pra ele o que estava acontecendo e ele até quis me dar um dinheiro pra me ajudar, mas eu não era burro, dever pra bandido é pior que dever pra Banco. E sabe a diferença? O banco não te mata.

Recusei o dinheiro e insisti até ele deixar, então eu virei fogueteiro, ficava do alto da lage com os fogos preparados pra soltar e avisar uma invasão. Fiquei um ano nessa função até o Cobra decidir que eu era de confiança e me promoveu a aviãozinho.

Eu era esperto e rápido, vendia na porta da escola, na praia... eu era o moleque mais novo a fazer o maior lucro com a venda, o Cobra ficava preocupado quando eu ia pro asfalto, mas eu esperava ele virar as costas pra eu descer sem ele vê. O importante era voltar com dinheiro.

Fiquei uns bons aninhos na venda até a polícia me pegar passando um pacotinho de maconha pra uma patricinha em Copacabana. Porra mano, fiquei puto pra caralho, dei mo vacilo e me levaram pra febem.

Minha coroa ficou desesperada, eu tava mais mal por ela do que por mim. Ficar trancado lá foi um inferno, ainda mais sendo preto, porra ninguém respeita não.

Mas por um lado teve uma parte boa nisso tudo, eu conheci minha irmã de alma, Helena, mano eu não sei explicar o que eu senti quando eu vi aquela garota do meu lado amarrada por uma corda no teto daquele quarto de tortura, toda magrinha e com o cabelo longo todo embolado. Eu senti um calor tão grande quando ela olhou pra mim com os olhos cheios de dor e lágrimas, foi como se ela tivesse me pedindo ajuda sem nem falar nada. Eu sabia de alguma forma que eu tinha que protegê-la, eu tinha que tirar ela daquele lugar.

Os meses que se passaram eu nunca sai do lado dela, no começo ela tinha medo de mim, mais eu ganhei a confiança dela e sempre estava por perto, todos os dias eu falava pra ela como chegar na minha casa. Vai que ela saísse desse lugar e eu não pudesse vir buscá-la na hora, ela ia ter que saber chegar sozinha.

Um dia ela estava dormindo e teve o mesmo pesadelo de sempre, acordou chorando e tremia de medo. Eu passei a dormir na cela dela escondido, no chão, só pra estar por perto caso ela tivesse o sonho de novo. E quando ela me contou com o que sonhava e porque sonhava com aquilo eu pirei.

Mano eu fiquei doido, eu tive vontade de matar alguém com minha próprias mãos, como uma mãe é capaz de fazer uma coisa dessas? Caralho mano, essa peste nem pode receber esse título. Aquela praga, aposto que quando chegou no inferno ela pegou o lugar do diabo.

Quando eu sai da febem, meu coração ficou lá com ela, me doeu ter que deixar minha garotinha pra trás. Mas eu fui com um propósito, voltar pra buscá-la. E eu voltei.

Voltei no dia do aniversário dela, o dia da liberdade. Cheguei no portão ao lado da minha coroa, segurando uma sacola de doces que tinha comprado pra ela e quando o portão abriu, não foi ela quem saiu. Eu esperei por mais duas horas até que fiquei preocupado e chamei a diretora.

— E ai dona, eu vim buscar a Helena. — ela me olhou sem entender de quem eu tava falando.

— Desculpa, quem?

— Qual foi tia, Helena, na garota branquinha de olhos azuis que não falava com ninguém. Da cela 23. — falei nervoso e doidinho pra derrubar ela e entrar nessa porra pra buscar minha irmã.

— Ah sim lembrei, olha eu sinto dizer, mas ela não está aqui conosco já faz três meses. Então se me der licen... — a interrompi na hora.

— Quê? Tá de sacanagem? Ela faz 18 hoje, eu lembro do tempo de pena dela, como pode ter saído antes? Pra onde ela foi? — eu tava com os nervos fervilhando de ódio e essa piranha de brincadeira comigo.

— olha pelo que eu sei ela foi presa, matou um dos guardas. Não posso falar mais nada, então vai embora. — ela não esperou eu falar e fechou o portão na minha cara.

— FILHOS DA PUTA. CARALHOO.

— Calma filho, essa menina deve ser perigosa, ela matou um polic...

— Mãe, não fala, não fala nada por favor. Só... não fala. — meu Deus, o que fizeram com ela, eu não consegui pensar em nada, só fui pra casa de novo procurar ajuda.

Eu fiz de tudo, eu paguei uma fortuna pro Pc procurar ela, ele era o hacker aqui do morro, o cara acha até uma formiga na China. Mas por algum motivo ele não conseguiu nada da Helena em 8 meses.
Eu não sabia mais o que pensar, não sabia onde ela estava, se estava viva ou se precisava de mim... mas eu não vou desistir, agora como chefe da boca eu tenho mais recurso, eu vou achar a minha irmã.

Custe oque custar.

Mente CriminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora