Capitulo 3

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5 anos haviam se passado e eu ainda estava aqui, no mesmo lugar, muita coisa aconteceu, a melhor é que eu aprendi a ler, escrever e descobri que amo matemática e química. Tem umas professoras que vem aqui três vezes por semana, não são todos que vem na salinha pra estudar, posso contar no máximo 20.

E olha que esse lugar lotou meses depois que eu vim pra cá. As "celas" como nos chamamos estão lotadas, eram pra 4 pessoas no máximo é tem cela com 9. A maioria meninos, é difícil chegar meninas aqui, muito raro até.

Tatiana saiu faz 1 ano, ganhou a liberdade dela e ficou feliz pra caralho, ela até me abraçou, e eu não gosto de contato... Mais ela tava feliz então não liguei muito. Rebeca não saiu, ela morreu aqui dentro, inventaram que foi por pneumonia, mas todo mundo sabe que é mentira.

Há 3 anos os seguranças foram trocados e o que já era ruim ficou muito, muito pior. Os caras espancavam, torturavam e deixavam a gente sem comer se assim achassem melhor. "Estamos dando a lição que seus pais deviam ser dado", "quem mandou fazer merda? Se tivesse andado na linha, não estaria aqui".

Era isso que eles falavam, mas quem disse que aqui só tem gente "ruim"? Tem muita criança e adolescente aqui porque não teve escolha, porque foi vítima de uma sociedade hipócrita, abusadora, racista e preconceituosa.

E nesses anos que eu estou aqui eu aprendi muito, a cor da minha pele não me faz ser privilegiada não, passei por coisas que metade de quem está aqui nunca nem sonhou em passar. Eu fui pra tortura 2 vezes, só porque "olhei torto" pra um dos guardas, e foi lá na salinha de tortura que eu conheci o Júnior, ou sorriso, como ele gostava que o chamasse.

Ele era muito doido, porra louca mesmo, tava na febem porque era aviãozinho. Ele fazia os corre pra ajuda a mãe que era doente, e como eu aprendi com o tempo, ninguém quer saber o que você passou ou porque fez o que fez, a sociedade só sabe criticar, apontar o dedo e julgar. Mas ninguém estende a mão pra um favelado, negro ou pobre pra dar emprego, ou oferecer ajuda, foda-se, tem que pagar. Ninguém liga pra você, eles só querem te fuder.

Junior virou meu melhor amigo aqui dentro, me protegia, me ajudava, me defendia... E eu não entendi o porquê, se nem a mulher que me pariu fez isso por mim.

Ele me contava como era a vida dele lá fora, onde morava, e me dizia como eu fazia pra chegar lá.
— Quando você sair daqui eu vou está lá esperando você irmã. Vai lá me encontrar. — ele dizia isso sempre, todos os dias me chamava de irmã e me dizia que estaria lá pra cuidar de mim.

Ele saiu faz 6 meses, fez 18anos e conseguiu sair. Antes de ir ele veio me lembrar de novo como chegar no Alemão, me falando o mesmo caminho e que se me perdesse era só pedir informação a alguém, segundo ele qualquer pessoa sabia onde ficava o complexo do alemão.

Ainda faltava 3 meses pra eu fazer 18, três malditos meses ainda aqui dentro e eu não aguentava mais aqueles homem me olhando e falando besteirinhas pra mim.

Eu sabia que era questão de tempo e oportunidade pra algum deles me levar pro quarto. Já aconteceu com outras garotas, mais comigo ainda não, o Júnior estava sempre aqui comigo. Mas agora eu não tinha mais ele, estava sozinha outra vez.

Era sexta-feira e eu estava a caminho da salinha de aula pra esperar a professora quando senti meu braço ser puxando. Eu olhei pra trás e vi Vagner me olhando com um sorrisinho ridículo, ele era um dos policiais que faziam a segurança.

— Eai Helena, o que acha de eu conseguir pra você umas coisinhas lá de fora? — ele oferecia produtos que comparava lá fora e dava pras meninas em troca de sexo, mais eu não queria nada dele nem de ninguém.

— Ah, não valew. — puxei meu braço e dei um passo pra sair dali e ele me segurou de novo com mais força e me encostou na parede, meu rosto ficou pressionado na parede gelada enquanto ele grudou o corpo na minhas costas e falou com a boca encostada na minha orelha.

— Já que você não quer nada, vai ser de graça mesmo. — ele riu e passou a língua no meu pescoço, me puxou em direção ao quarto e eu ainda tentei me segurar na porta tentando sair dali, Vagner me puxou com mais força me jogando no colchão que estava no chão e veio ficando por cima de mim tirando minha roupa.

Eu gritava e me debatia embaixo dele pedindo socorro, mas estavam todos no refeitório. Só os guardas estavam por perto e nenhum deles iria interferir na diversão do amigo, Vagner conseguiu tirar minha blusa e quando ele estava tirando minha calça eu dei um chute no pau dele com toda força, então ele caiu de lado no chão em posição fetal gritando de dor, eu estava tão assustada e minha mente não trabalhava direito, o meu único pensamento era não deixar ele sair daí pra fazer isso de novo comigo ou com qualquer outra.

Me virei ficando por cima dele, segurei sua cabeça e bati com ela no chão com toda força que ainda tinha, ele tentava me empurrar, mas então eu bati com mais força mais três vezes e ele ficou tonto e me largou, segurei seu pescoço com as duas mãos e apertei vendo os olhos dele se arregalando e ele tentava tirar minhas mãos, apertei com mais força vendo meus dedos ficar em brancos e a respiração dele falhando.

Os braços de Vagner caíram ao lado do corpo e eu vi que estava morto, eu gritei, gritei por desespero e de alívio por ter conseguido me defender e matar esse desgraçado. Ouvi a porta do quarto se abrindo e os policiais entraram me puxando pelo cabelo e me arrastando pelo quarto até a porta e me jogaram no corredor, me chutaram e gritavam que eu era uma Vadia.

Eu não disse nada quando me algemaram e me colocaram dentro da viatura me levando pra uma delegacia, eu não questionei quando o juiz me condenou a 9 anos de cadeia por homicídio qualificado por ter planejado e executado a morte de um policial, eu não briguei quando me jogaram em um presídio mesmo eu tendo só 17 anos e não ter feito nada a não ser me defender.

Eu não tentei pedir ajuda quando os carcereiros quiseram me dar um "presente" de Boas-vindas e me torturaram por 3 dias com direito a estupro coletivo. Eu não me deixei sentir nada enquanto eles me usavam, e depois quando haviam cansado, me jogaram na em uma cela com outras mulheres mais velhas e me deixaram ali, machucada, suja e sem a minha alma.

Mente CriminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora