Capítulo 24

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Sorriso.

O postinho tá lotado, alguns moradores feridos e outros acompanhando os parentes que fazem parte do movimento.

Assim que passamos pela porta o Cobra começa a fazer um drama do caralho, chora e tudo. A enfermeira corre até ele e quando vê o ferimento até revira os olhos, entro com Helena nos meus braços e a coloco em uma maca improvisada que o enfermeiro trouxe, quando veem o estado dela eles correm pra dentro de uma sala.

Eu vou atrás falando o que tinha acontecido, mas sou barrado antes de passar pela porta.

— Você tem que esperar aqui, já voltamos com o estado dela. — a doutorinha fala rápido e vira as costas pra mim.

Passo a mão na cabeça e sinto meu rosto molhado pelas lagrimas. — Não acredito que isso ta acontecendo de verdade... — é um pensamento feliz pra caralho, mas também triste pela situação que nos encontramos.

Olho pro lado batendo o olhar no Cobra que ta sentado em uma cadeira de rodas e fingindo um choro mais falso que nota de 3 reis. Duas morenas então com cara de pena pra ele enquanto a enfermeira nova está explicando que não é nada de mais...

— Eu acho que preciso de uns cuidados especiais po. Dá uma moral ai. — ele olha pra ela com cara de cachorro abandonado.

— Olha senhor, realmente não é nada grave, a bala entrou e saiu logo em seguida então só alguns pontos vão resolver. — a coitada ainda não sacou a dele. 

— Mas eu tenho certeza que vou precisar de cuidado em casa, não acha? — ai eu já fico com pena da menina e vou socorrer a lerdinha.

— Quando a isso, não se preoc...

— Ai doutora, ele ta fazendo drama. Pode ir lá adiantar seu trampo, tem gente precisando mais que ele. — interrompo e ela solta um suspiro de alívio e me dá um sorriso.

Quando ela vira as costa e começa a atender uma senhora só vejo o Cobra olhando triste pra bunda dela.

— Eu tava quase conseguindo seu filho da puta.

— Conseguindo passar mais vergonha né? Fala serio rapa.

— Acho que tu ta esquecendo quem é o chefe aqui sorriso, vou te fazer lembrar rapidinho.

Reviro os olhos pra ele e chamo a dona Marcia, enfermeira mais antiga do postinho, pra costurar a perna desse cara logo. Deixo ele com ela e vou pra frente do posto e acendo um cigarro, ajeito a arma nas costas e me encosto no muro olhando o movimento lá dentro. 

Fico ali um tempo pensando em várias paradas até ver o Cobra saindo e vir mancando na minha direção.

— Ai, a Pati ta te procurando lá. Eu vou meter o pé, te espero na boca mais tarde.

— Fé...

Entro no posto outra vez e vou direto na doutora loirinha.

— Como é que ela tá? — pergunto ansioso

— Tá estável, não podemos fazer muito aqui, mas já colocamos ela no soro e demos alguns medicamentos.

— Eu quero ficar lá com ela, onde ela tá?

— Você não pode ficar, sabe que aqui o espaço é limitado. Mas pode ir lá vê-la por um tempo. — concordo e sigo ela que me mostra o caminho.

Entramos em uma sala grande e cheia de camas lotadas, da porta mesmo eu vejo ela dormindo ainda. Vou até lá quase correndo e me agacho ao seu lado.

— Ela tem um machucado na perna, mas não parece ser de agora, deve ter um ou dois dias. Esse é o pior, os outros são arranhões, lesões e algumas marcas já cicatrizadas pelo corpo, ela perdeu bastante sangue e está bem fraca agora. Mas vai ficar bem. — eu seguro a mão dela que estava gelada e aperto de leve pra ela saber que eu estou ali.

— Valew ai, Pati. Te dou uma moral depois. — falo pra doutora que é fechamento nosso.

— Ela parece ter passado por muita coisa Sorriso, acordou assustada e dizendo que não ia ficar presa de novo. Tivemos que dá um sedativo pra acalma-lá, talvez só acorde amanhã. Ela precisa descansar e provavelmente vai precisar de um tempo pra assimilar tudo. — Ela fala toda preocupada e eu vejo o olhar que ela dá pra minha irmã.

Depois que a Patricia sai eu fico um bom tempo ali ao lado dela, em alguns momentos ela franze a testa como se tivesse com medo. Eu continuo segurando sua mão enquanto uso a outra pra mandar uma mensagem pra Jessica, irmão do L7, e peço pra ela separar uma calça e camisa pra trazer pra Helena. Mando também uma mensagem pra minha coroa peço pra ela mandar a dona Sônia lá em casa pra arrumar o quarto pra receber minha irmã.

Quando o enfermeiro me expulsa pela terceira vez, eu me levanto do chão e dou um beijo na testa da Helena e vou embora prometendo voltar bem cedo amanhã.

Desço pra minha casa cumprimentando os moradores que passam por mim, entro em casa e tiros as armas que estão comigo e as coloco em cima da mesa, me jogo no sofá e pego o celular vendo o grupo dos cria pra saber se tem algo importante. Mando mensagem pro Cobra respondendo que já to em casa e já encontro ele.

Entro no meu quarto e tiro a roupa entrando no chuveiro, deixo a água cair no meu rosto e imediatamente sinto a pontada no peito que me acompanhou todo esse tempo que passei procurando por ela. Só que dessa vez, quando as lagrimas caem dos meus olhos e sinto a pontada no peito, é de alívio.

Agora eu posso finalmente dar a vida que eu prometi a ela quando nos conhecemos naquele lugar imundo.
Agora ela vai estar segura, longe de tudo que a fazia mal e das pessoas que só a usavam.
Agora nós podemos ser uma família, como sempre falamos.


Insta fic- @freirefics

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