SorrisoQuando Helena chegou no morro eu jurei que nunca mais deixaria ela se meter em perigo, foi quase um milagre ela ter chegado até mim e eu faria de tudo para mantê-la ao meu lado.
Agora, aqui observando minha estrelinha cozinhar mais de três quilos de coca com um sorriso no rosto, eu me pergunto em que parte do ''não deixar se meter em problemas'' eu me perdi...
Ela separa uma parte do pó e cozinha o resto junto com alguma mistura doida que nem me arrisco a entender, mas ela faz com tanta confiança que parece certo.
Sergin está sentado na minha frente batucando os dedos no ritmo de algum funk do momento enquanto também observa minha irmã trabalhar.
— Pode buscar o cara pra provar, só vou quebrar a pedra e estará pronto. — Helena diz e eu chuto a perna do lesado por baixo da mesa, fazendo se levantar e sair da sala. — Para de me olhar assim, estou ajudando você. — Ela me olha por cima do ombro e volta a quebrar a pedra branca com um martelinho de ferro.
— Não quero que isso saia dessa sala, Helena. Isso não é trabalho pra você.
— Claro que não é trabalho, não estão me pagando. E por falar nisso...
A porta abre cortando a fala dela e Sergin entra com o Nareba. Deixo a conversa pra mais tarde e vejo ela entregando um pacotinho de pó em cima de uma placa de ferro na mão dele que pega com os olhos brilhando.
— Aproveite, mas pega leve aí em. — ela avisa e se encosta na parede.
O mano começa a arrumar a carreira branquinha na placa e o Cobra entra na sala vendo o Nareba cheirar a carreira todinha.
— Quem fez?
— Po chefe, foi a...
— Eu fiz patrão. — falo passando na frente antes que o linguarudo fale demais.
...
— Se não tiver pelo menos mil pacotes na minha mesa até sexta, alguém vai rodar. — o Cobra fala e sai da salinha batendo a porta.
Sergin me olha esperando alguma ordem e eu só consigo pensar em como essa garota sabe cozinha crack, porra. Quando ela disse que faria eu não levei fé, agora tô vendo o Nareba com os olhos do tamanho de uma bola fumando um baseado pra acalmar o efeito do pó.
Puta que pariu.
— Pega o que tem aí e embala. Quando chegar o resto me aciona que eu dou um jeito.
— Não vai contar pro chefe quem fez o bagulho?
— Fica fora disso meno, não mete minha irmã nesse meio não. — aponto o dedo pra ele
— Mas ela já tá no meio mermão, ou você acha que ela nasceu sabendo cozinhar crack? Isso não se ensina em escola que eu saiba, porque eu estudei até a quinta série e não me lembra nem do que é feito a água.
— Mano, some da minha frente. Eu vou resolver essa parada.
Ele balança a cabeça e coloca tudo dentro da caixa e leva pro quarto chamando os muleque pra embalar. Pego meu boné, jogo a camisa no ombro e saio da casa pensando em várias paradas.
Passo pelo bar do seu Pedro e o L7 vem andando do meu lado.
— Qual foi dessa cara aí?
— Nada não parceiro, tô precisando dá uma desestressada. — falo
— Baião hoje po, melhor forma. — ele faz uma passinho me fazendo rir.
— Aí L7 — um vapor grita quando a gente passa pelo beco — patrão mandou tu levar a Vanessa lá na goma dela.
— Virei motoboy de marmita nessa porra mermo, terceira vez essa semana mano. — ele reclama e vira as costas indo buscar a moto.
Passo em frente o barraco que o Cobra traz a Vanessa e vejo ela parada na porta olhando ele sair. Ela olha pra mim e me dá um sorriso de lado meio sem graça, mas nem dou moral, passo reto e viro a cara, essa época que eu implorava atenção dessa ai já foi.
Abro a porta de casa e vejo Helena no sofá com outra roupa e assistindo alguma série nova como nada tivesse acontecido.
— A gente precisa bater um papo — tiro a arma da cintura, coloco em cima da mesa de centro e me jogo no sofá ao lado dela.
— Manda. — ela pausa a série e se vira pra mim
— Ta ligada que eu não quero você metida no meio de tudo isso, fazer os cálculos e me ajudar nas contas, beleza po, mas drogas? Aí é foda estrelinha — ela me olha a todo momento, revira aqueles olhos azuis e faz a cara de deboche que me mata.
— Maninho, tem uns meses que tô fechando caixa pra vocês e ninguém sabe. Que diferença faz uns quilinhos de coca pra tirar sua cabeça da mira daquele otário?
Olho pra ela sem acreditar no que fala — Que diferença faz? VOCÊ É DOIDA MENINA? — me levanto do sofá sem conseguir ficar parado — Eu acho que você já bateu sua cota de cadeia pelo resto da vida, não acha?
— Junior, eu nunca mais vou voltar pra aquele lugar, porque antes disso acontecer eu prefiro morrer. — Helena passa a mão no rosto frustrada e respira fundo antes de me olhar — E sim, pra mim não faz diferença se eu tô cozinhando coca ou se tô calculando os lucros que as vendas te dão, que seja porra, antes eu não fiz nada disso e conheci o inferno mais cedo que qualquer um, eu fiquei no inferno quase a minha vida toda e agora eu consegui sair e tomar as minhas decisões.
Passo a mão na cabeça e me seto ao lado dela de novo, apoio os cotovelo nos joelho e falo calmo.
— Você é livre pra fazer o que quiser estrelinha, mas não se mete em perigo, por favor. Escolhe um curso ou sei la pode só ficar em casa, eu não ligo, mas não faz isso comigo, você é minha irmã e eu tenho que proteger você, não se envolve nessas paradas.
Ela passa a mão pelo meu braço em um carinho leve
— Irmão, eu já estou envolvida desde pequena. — olho pra ela questionando — Tinha dias que a vadia que me colocou no mundo estava tão drogada que me obrigava a injetar nela, porque estava tão fraca que não conseguia fazer sozinha. — ela respira fundo e se levanta indo até a janela ficando de costas pra mim — Eu só tinha seis anos quando ela colocou um pacote de pó na minha mão e mandou eu levar pro cliente dela dentro do puteiro que a gente morava.
Eu me levanto e dou um passo em sua direção, sem me aproximar muito, só pra ela ver que não está sozinha, então continua a contar.
— Eu nunca tive amigos, infância ou brinquei com alguém. Nunca tive uma família ou qualquer parente que fosse, na verdade eu nem sei se tenho alguém nesse mundo se não você. — ela para de falar e olha la fora vendo os muleque passando na rua — Essa porra de vida já me tirou muito, irmão. Ta na hora de tirar proveito do que la me ensinou!
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Segue lá -

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Mente Criminosa
Fanfiction🎶Redescobrindo meu eu, eu perguntei para Deus Porque me deu o livre arbítrio de escolher o que é meu Porque o senhor me escolheu? Se quem tinha que escolher era eu Se carregava ou não o fardo de ter que ser um dos seus Não sou rosa, não sou pura Nã...