Capitulo 4

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A cela onde me jogaram não é grande, tinha dois beliches, uns colchões rasgados jogados no chão, um vaso sanitário e uma pia podres. Tinha pelo menos umas 6 mulheres me olhando de cima em baixo, provavelmente por eu estar machucada e suja.

Nenhuma delas falou comigo só me olharam por um tempo e depois voltaram a conversar entre si como se eu não estivesse ali, agradeci mentalmente por não ter que falar nada, só andei até um canto da parede onde não tinha ninguém e me abaixei, fiquei sentada ali abraçando os joelhos e com a cabeça baixa.

Pensei na minha vida que nem tinha começado é já estava destruída, pensei na minha mãe e na família que eu não tive, imaginei como teria sido se eu tivesse conhecido meu pai. Será que ele ainda está vindo? Será que ele sabe que eu existo? E o Juninho, como será que ele está? Tanta coisa ao mesmo tempo rodando na minha mente que eu nem percebi quando as lágrimas inundaram meus olhos, e só me dei conta de que tinha uma pessoa na minha frente porque vi os chinelos gastos parados diante dos meus olhos.

Rapidamente sequei os olhos com as costas das mãos e levantei a cabeça vendo a mulher parada olhando pra mim com as mãos na cintura.
— Qual seu nome garota?

— Helena. — ela parecia ter uns 30/35 anos, usava óculos e tinha os cabelos pretos bem lisos.

— Então garota. Não me interessa o porquê você tá aqui, da onde veio ou que você fazia antes de vir pra cá. Aqui dentro somos iguais tá entendendo? Todo mundo no mesmo barco. Então sem moleza, todo mundo trabalha igual.

A mulher começou a falar como as coisas funcionavam. Tudo era dividindo por grupos, tinha um grupo para cada tarefa, cozinha, limpeza do banheiro, da cela..., etc. A lavagem de roupa era individual, cada uma lavava a sua no banho e colocava pra secar onde dava. Como eu era novata, me colocaram na limpeza do banheiro, que segundo elas, era o pior. Eu não debati nem reclamei, só concordei e fiquei quieta no meu canto. Não era muito diferente da Febem, talvez um pouco pior eu acho.

— Então é isso, aqui é cada um por si tá entendendo? Então fica esperta e não da bobeira. — Eu só concordei acenando com a cabeça, então ela virou as costas e se sentou em uma das camas, apoiou os cotovelos nos joelhos e começou a conversar com uma morena sobre umas garotas da cela 9.

Eu só conseguia pensar na fome, pelas minha contas era dois dias sem comida, mas eu não tinha noção de horas aqui dentro desde que cheguei, então não tinha certeza. Eu estava fraca e meu corpo inteiro estava doendo, minha garganta seca e o estômago apertado.

Meus olhos estavam quase se fechando quando ouvi o barulho de rodinhas no chão, levantei os olhos o bastante pra ter a visão de uma senhora acompanhada de 3 carcereiros guiando um carrinho com quentinhas. Eu fiquei esperando no mesmo lugar até que eles pararam em frente à nossa cela, e começaram a passar as quentinhas pela grade.

Cada uma pegou a sua e eu levantei pra buscar a minha, assim que chegou minha vez o carcereiro me olhou e deu um sorrisinho nojento, pegou uma quentinha abriu e cuspiu nela então tapou de novo e me entregou. A senhora me olhou com pena e virou o rosto seguindo em frente, e aquele olhar me deu raiva, eu não quero a pena de ninguém.

— Ei garota, o que você aprontou em? — não me virei pra saber quem tinha perguntado, voltei pro meu lugar, me sentei e abri a quentinha, não me importei se ele tinha cuspido ou se tinha um cheiro de azedo. Eu só queria comer.

— Ou mina? Tá surda? — de novo ela perguntou. Eu estava colocando a primeira colherada na boca, antes eu desci a colher de novo e respondi, não queria problema com ninguém e a última coisa que eu queria era apanhar por não ter dado uma resposta.

— Matei um policial. — não sei porque eu sempre falo antes de pensar. Que saco, pra que eu disse a verdade?
Na mesma hora começou as risadas e todas e elas meio que gostaram do que ouviram.

— Qual foi garota, tu matou mesmo? Conta isso aí. — Eu não queria dar detalhes, mas o que eu tinha a perder?

— Ele tentou me estuprar, então eu estrangulei ele, por isso tô aqui. — dei de ombros e levei a colher a boca, na hora me deu enjoo, o embrulho subiu pelo meu estômago e eu respirei fundo tentando não pensar na comida estragada.

— Vermes filhos da puta, merecia ter morrido com o pau entalado na garganta.
— Qual tua idade menina? — a mulher que falou comigo quando eu cheguei, perguntou.

Eu pensei um pouco antes de falar. — tenho 18. — Eu não ia falar que tinha 17 anos, os policiais já tinham me avisado que se alguém soubesse eles iam fazer pior.

Tentei comer mais um pouco da comida a todo custo, era horrível, gosto azedo e dava pra ver que não tinha sido feita em um lugar muito limpo. Fiquei em silêncio, mastigando com dificuldade por conta do meu rosto que doía, enquanto elas ficaram discutindo sobre que eu falei, sobre como eles eram nojentos e que não era novidade isso acontecer, que nenhum superior se importava. Éramos a escória, quem ia ligar se mais uma fosse torturada e estuprada.

Quero a opinião de vocês.
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