Pedaço de Papel

Capítulo 59

Edgar

Não consegui pregar os olhos naquela noite após o atentado, no qual Shirley finalmente deu o ar de sua graça, já havia muito tempo que venho monitorando, conseguimos algumas provas, mas não sabíamos do plano deles, até o dia que o bilhete havia chegado, nesse mesmo dia contei a Manuela que eu estava investigando por conta própria, eu prometi a minha família que as manteriam seguras e era exatamente isso que eu faria, custe o que custar.

- Eu a perdi de vista Edgar! - disse Josi ao entrar.

Como não consegui dormir absolutamente nada, vi quando Manuela se levantou, era mais cedo que nossa rotina diária, ela foi até o escritório e vi quando chorava ao escrever alguma coisa, meu peito se apertou naquele momento, eu queria ir até ela, abraçar e dizer que não precisava fazer aquilo, mas ela precisava, eu sei como isso funciona dentro de nós, sei a impotência que sentimos quando não sabemos quem é o inimigo, mas agora era tudo diferente, porque sabíamos metade do nosso.

Era o esperado que Manuela me deixaria, Shirley não se expôs a toa, havia um propósito e quando vi a minha mulher acordando as escondida já pude imaginar muitas coisas, coloquei o alerta para Josi, que logo ficou em prontidão fora da minha casa, assim eu voltei para o quarto me deitando na cama para que ela não desconfiasse de nada. Eu prometi a ela que não mentiria, mas dessa vez eu estava querendo acabar com essa situação, eu não podia dizer a ela que a deixaria ir para pegar o culpado, mesmo que ela soubesse da verdade, ela nunca saberia fingir, Manuela é pura, tem um coração tão bom que talvez não saiba o significado dessa palavra, por isso precisei me calar com dor na minha alma sabendo que a mulher que eu amo iria se entregar para supostamente nos salvar.

- Não viu quem era? - perguntei.

- Não, estava encapuzado o que era de se esperar, eu segui até onde deu, mas a pessoa conseguiu se desvencilhar de mim, percebeu que eu estava seguindo! - disse ela.

- Eu já esperava por isso! E acho que eles também. - digo.

- Sim, por isso colocou o rastreador no anel dela!

- Estou monitorando desde quando saiu! - falei.

Quando as ameaças retornaram a primeira coisa que me veio a mente foi colocar algo que eu pudesse encontrá-la se alguma acontecesse, por isso em um dos dias que Manuela tomou banho ela retirou a aliança, foi a primeira vez que a vi retirar do dedo, então vi a minha oportunidade de colocar lá, ele era tão micro que ela nunca saberia, aliás ninguém conseguia ver ou rastrear. Talvez vocês me perguntam porque Josi foi atrás de Manuela então? Pelo simples fato deles acreditarem que eu nunca a deixaria ir assim tão fácil, sem ninguém a vigiando ou protegendo, por isso Josi o seguiu fazendo com que eles percebesse, somos tão bons que quando não queremos ser vistos não somos, então acredito que entenderam.

- Tem certeza que ela não desconfiou de nada? - perguntou Josi.

- Não, vi a sua angústia, confesso que por pouco não desisti dessa loucura! - afirmo.

- Vamos pegar eles!

- Vamos, agora onde está a carta que ela escreveu?

- Eu peguei, ela colocou no correio, foi bem parte do plano, sabe que o quer que escreveu ali não é a verdade né!?

- Eu sei! - digo.

Pego a carta e leio o seu conteúdo, tento ficar firme para não chorar vendo o quanto minha vida estava com dor ao escrever, ela usou uma das poesias que eu li para ela uma vez, eu disse que aquela era minha frase favorita que representava exatamente como me sentia no momento em que a deixei partir. Meus olhos ardem, eu quero fazer um esforço para não chorar, mas é impossível, porque o significado daquela poesia transmitia a minha dor quando precisei me manter longe dela, e Manuela sabia disso, sinto as lágrimas descerem, o aperto no peito aumentar, eu sabia que nada era verdade, mas aquela citação tinha um valor para mim e eu a compreendia.