Because you were never mine

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     Pouco menos de um ano atrás.

Nenhuma de nós protestava quando ficávamos algumas horas a mais na cama ou repetiam a refeição. Depois de anos na pobreza agora poderíamos comer o quanto queríamos, ganhávamos cor e deixávamos de sermos tão magras. Nossas barrigas não eram mais vazias. Agora tínhamos uma mansão, nossa fortuna fora recuperada.

   Feyre recuperou.

   Feyre nos salvou indo para a casa de nossa tia.

   Feyre nos salvou.

   Mas ela não foi pra casa de nenhuma tia.

    Primeiro que se essa tia era tão rica, porque não pagava um curandeiro ela mesma? Passar os últimos dias com uma desconhecida pobre? E dar a ela todo seu dinheiro? Se ligasse ou soubesse de sua existência por que não nos ajudou antes?

    No dia em que saímos do chalé, eu sabia que havia algo errado, porque eu lembrava do momento que ela partira e aquela não era eu. Poderia ser Nestha ou Elain que fariam de tudo para ter sua fortuna de volta, mas eu nunca seria tão indiferente com a partida de Feyre. Fiquei dias perdida em minha mente, fazendo um esforço enorme para lembrar. Tentei falar com Elain, mas ela não achou nada errado e ainda disse: "Deveria apenas aproveitar Amelia, não há nada errado, não tente achar problemas." e voltou a cuidar de seu jardim, agora que tinha tantas flores.

    Depois de uma semana, enquanto o sol nascia e iluminava aquela casa, aquele mundo. Uma criada acidentalmente derrubou uma xícara de porcelana e soltou um gritinho...

   Eu lembrei.

   Gritos.

   Gritos.

    Fera.

    Fera levando Feyre.

    Nessa hora eu me levantei, com lágrimas escorrendo pelo rosto, tremendo desesperadamente, a respiração pesada... e comecei a correr, correr e correr, até sair de nossa propriedade, passar por aldeões, e chegar até a floresta, segui ao norte até chegar na barreira da muralha, e gritei, chorei, a besta dentro de mim -- minha raiva, escaldante e incansável -- se remexendo. Implorando pra sair; gritei para que devolvessem Feyre, não conseguia respirar, minhas lagrimas já tinham secado mas meus olhos pareciam fontes, nunca paravam de escorrer, caiam e caiam sem parar, todo aquele vazio dentro de mim se revelou. E eu libertei um resquício misero da besta com um ultimo grito, tão alto e desesperado que até os pássaros voaram das árvores próximas. Não sabia exatamente quando acabei de joelhos, mas eu sabia que o peso da verdade -- de que minha irmã fora levada -- pesava em minhas costas, meu peito doía, maior do que qualquer dor física; eu estava estilhaçada no chão.

  Quando levantei a cabeça, o sol estava quase se ponto, minha respiração pesada e eu rouca. Me levantei, as pernas bambas, e andei até chegar a mansão. O mundo não tinha sons, tudo estava lento, só sabia andar pra baixo, não saberia se alguém falasse comigo, tudo estava em silêncio, mal ouvia meu coração bater. As cortinas de seda da sala eram tão lentas, se mexiam tão devagar... só percebi quando passei a porta de meu quarto e me sentei no meio da cama com as pernas cruzadas e cabeça baixa. Não conseguiria dormir, então só fiquei parada, com a expressão vazia, olhando para o nada, por o que pareceu pra mim anos.

                                                                            ***********

    Uma luz iluminou o ponto que eu olhava, ainda na exata mesma posição, não dei o trabalho de me mover, até que uma silhueta de vestido azul marinho apareceu em meu campo de visão e o primeiro som que eu ouvia em algum tempo veio, a voz firme de Nestha ressoou:

Corte de borboletas da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora