What died didn't stay dead

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*Esse capítulo contém muitos gatilhos*

Amelia Archeron


Eu estou louca.

A dor que eu sinto reflete em perfeita harmonia, mesclando-se com um vazio ecoante que bate contra as paredes de meu corpo e volta para minha alma encolhida no escuro — exatamente como eu estou no meio da cama de lençóis bagunçados: com os joelhos pressionando o peito e as mãos enfiadas num emaranhado de cabelos, chorando chorando chorando...

Toda aquela dor que eu ignorei voltou, e estou revivendo tudo.

É tão delicada aquela linha entre lembrar e esquecer que muitas vezes para apagar meu passado, sem querer trago tudo de volta à tona.

Estou machucada, mas ainda assim quero arranhar minha pele fora.

Quando penso que a dor vai passar, ela volta ainda pior.

Os sons parecem explodir aos meus ouvidos, as cores são vívidas demais, são muitas pessoas ao meu redor e acho que estou numa ilusão. Não tenho certeza de que isso é real. De que, de fato, consegui. Parece impossível que eu esteja viva. Portanto, cheguei a conclusão de que não é real, e de maneira alguma vou pedir para que alguém toque em mim para testar.

Tudo isso está sendo feito por mim — é uma imagem plantada em meu cérebro.

Não estou realmente aqui.

Tenho que estar atenta para quando tentarem me apunhalar pelas costas.

Nada disso é real.

Ainda posso sentir o ar corrosivo queimando para entrar, ainda posso sentir as centenas de mãos me tocando, ainda me sinto sozinha, ainda estou lutando pela minha vida, ainda estou indo para frente.

Preciso ir para frente.

Preciso ir para frente.

Para frente — sempre.

***********

Azriel


Hoje, o corpo do pai de Amelia será levado da clareira onde morreu, para o enterro — será velado em um campo de flores nas colinas de Velaris. Seja por misericórdia da Mãe, os corvos não tinham devorado-o.

No limite das árvores, Feyre, Elain e Nestha estavam diante do corpo do pai; Cass, Rhys e eu esperávamos que elas terminassem de se despedir. Aquele momento... deveria pertencer somente à elas — e Amelia, eu penso, porém me recordo de como ela realmente está. Numa pequena tenda, berrando e se debatendo e implorando para ser sedada.

Paro de pensar sobre ela antes que um tremor percorra meu corpo.

Elain limpou silenciosamente o rosto do homem. Penteou seus cabelos e barba. Alisou as roupas. Ela encontrou flores — em algum lugar. Colocou-as em volta da cabeça, sobre o peito. E elas encararam seu pai em silêncio.

Rhys tinha as mãos nos bolsos, e seguia Feyre por todo o lugar sem tirar os olhos dela. Ele sentira o laço se partindo, sentiu e agora está apavorado pela vida de Feyre... novamente.

Cassian por outro lado olhava para Nestha com um olhar diferente, indecifrável, até mesmo para mim.

Apenas cruzei os braços e esperei. Quando elas acabassem, seriamos nós quem transportaríamos o corpo.

Corte de borboletas da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora