Capítulo 89

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     A Corte Diurna era como uma montanha de tesouros há muito perdida em uma caverna,  iluminada pela luz do sol ofuscante mesmo na primavera. Tudo era banhado a ouro, até mesmo as pilastras das casas mais altas e as mais baixas. Se não cobrisse os olhos com as mãos, o brilho que refletia poderia me cegar. 

     Nenhuma flor ali se espreitava se não petúnias e ageratos, subindo pelas vigas douradas como pedras preciosas em joias. Tudo esbanjava riqueza. Não apenas o lugar, mas os habitantes também, com seus livros em mãos. Suas aparências eram variadas, mas a grande maioria possuía pele escura, cujo esplandecia em meio àquelas ruas de ouro tão polidos quanto espelhos. 

     Tudo, cada detalhe, era uma suplica para admiração alheia. Podia ficar horas meramente contemplando a Corte do sol. Ainda que o calor me incomodasse um pouco, não era, nem de perto, tão ruim quanto aparentava. Graças ao ar com partículas úmidas, percebi. Não demonstrava-se magia. Eu sentiria se fosse. Era... criado pelas mãos não-mágicas. Ciência. 

      Seda branca lampejou pelo canto de minha visão, escorrendo pelo chão marmorizado. Pelo caminho pelo qual as camadas de tecido caiam, um tornozelo torneado surgiu, seguido pelo corpo cintilante de Helion conforme eu erguia o olhar. Seu rosto estava tenso, embora um divertimento curioso dançasse nos olhos cor de âmbar. 

     — A que devo a honra desta visita, Rhysand? — Então virou-se para Feyre ao se deparar com Rhys rigidamente frio. — Feyre? 

      Minha irmã engoliu em seco e pude ver seu esforço para manter a voz imponente como o queixo erguido. 

      — As barreiras de Velaris caíram — revelou ela. — E precisamos de... acesso a sua biblioteca para achar um jeito de quebrar os feitiços, assim como a sua ajuda como Quebrador de Feitiços. A cidade está desprotegida a ataques esternos. Precisamos consertar as proteções o mais rápido possível. 

     Helion precisou de alguns segundos para assimilar a fala de Feyre, mas, ao contrario dela, não pude ver claramente seus pensamentos. 

      — Vou acompanhá-los as áreas conhecidas — disse Helion. — Mas avisarei desde já: No reinado de Amarantha, milhares de livros foram queimados. E, dependendo do feitiço e sua idade, a resposta pode estar perdida para sempre. — Animos baixaram ao nosso redor. — Contudo, podem contar com meu auxílio e conhecimento sobre feitiços. 

     Feyre e Rhys assentiram, alguns passos a nossa frente. 

     — A Corte Noturna está em dívida com você — anunciou Rhys, e foi tão, tão perfeito como ele falou exatamente o que eu precisava. 

    — Todas nós estamos com vocês, devido aos ocorridos da guerra — declarou Helion, menos sério do que antes. — Então pare com isso e me deixe quitar o que devo. Não gosto de estar endividado. Embora eu ache que a humilhação de não terem considerado meu pedido um preço quase o suficiente. 

     Amren deu um riso nasal. 

     — Nos leve a biblioteca antes que as Cortes ataquem Velaris. — Não foi exatamente um pedido, mas Helion obedeceu sob o olhar de Amren. 

      Alguns criados ao encalço do próprio Helion nos guiaram pelos corredores ornamentados, de riquezas que cresciam a cada curva e lance de escadas. Meus amigos queriam correr e seguravam-se para não o fazer, claramente. Porém, respeitaram a velocidade irritantemente calma de Helion. 

      Lilian e eu permanecemos calmas e silenciosas, o que não ergueria suspeitas. Não éramos alvo de suspeita, afinal. Deveriam achar que eu maquinava uma solução e Lily tentava descobrir aterrorizadamente quem faria tal atrocidade

Corte de borboletas da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora