AMELIA ARCHERON
Elvi, a deusa das profecias, coberta pela camada densa de cabelos negros escorrendo, sorriu para mim, do outro lado do cômodo para reuniões arranjado de última hora. As paredes eram feitas da mesma rocha semelhante ao ônix, com ainda mais pilastras flanqueando em circulo a grande mesa arredondada no centro da sala. Não havia decorações ou cadeiras. Nada para que Elvi pudesse jogar contra mim, o que eu torcia que ela não fosse burra o suficiente para fazer.
— Não tenho nenhum interesse em machucar-lhe — anunciou Elvi, ecoando pelo silêncio mutuamente instalado.
— Ah, que pena — lamentei, sentada sobre a beirada da mesa. — Uns demônios estavam querendo usar seu cabelo como pano de chão. Terei de avisá-los que não será possível. — Estalei a língua com pesar fingido.
— Ácida como o habitual — disse Elvi, calma o suficiente para que uma nuvem de paz flutuasse invisivelmente ao seu redor e para que me irrite.
— Agradeço o elogio. — Sorri amplamente para ela.
Elvi estudou os arredores da sala. Então, minhas roupas despedaçadas e moribundas, contrastando com a magnificência do salão e de seu vestido azul-escuro escorrendo e se acumulando no piso.
— Quero um acordo de paz — falou, de repente.
Franzi os olhos ligeiramente, fitando meu dedo, o qual traçava círculos na superfície lisa da mesa.
— Como?
— Há anos tenho tido visões de uma versão do futuro. Um futuro onde a Grande Guerra acontece. Nunca contei aos meus irmãos sobre isso, embora seja difícil esconder as enxaquecas após essas visões. No entanto, elas estão se tornando cada vez mais constantes, e temo que a Guerra se aproxime.
— O que é a Grande Guerra? — indaguei, subitamente interessada, porém cuidadosa.
— As visões são tão incertas quanto o destino. Mas, pelo que entendi, será o fim de tudo. O conhecido e desconhecido...
— E como e o que leva a isso? — interrompi, impaciente.
Elvi suspirou.
— Estou tentando explicar.
Aprumei as costas, articulando para que ela continuasse.
— Se estou correta sobre a linha do tempo, meus irmãos atacam o Inferno em algumas horas. Você mata alguns deles. A Mãe força suas tropas a recuar com um exército que reunia todos os 24 reinos. — Diante do meu olhar confuso, ela esclareceu: — Cada Deus tem o próprio reino, com seu próprio exército. Evren é o Império-capital, e também o lar da Mãe. — Assenti, e ela prosseguiu com a explicação: — Todavia, um outro exército chega. Um de Prythian. Com seus amigos tolos, que vêm atrás de você. São massacrados de tal forma que sua existência é apagada.
Meu coração para.
— Como eles sequer sabem que estou aqui?
— Seu parceiro descobriu que não era você e torturou a clone até que revelasse todos os planos da Mãe. Eles reuniram o que restou do exército de Prythian. Estão vindo. Junto com Aelin Galathynius, que viu que você distraiu nossos guardas para que fugissem.
Senti uma pitada crepitante de felicidade.
— Ela, a Mãe, mata... todos?
— Absolutamente qualquer um.
— Como?
Elvi estalou a língua.
— Se lembra da história da criação? De como objetos sagrados foram dados aos primordiais mais fortes, e assim eles criaram o universo? — Assenti. — Eram três objetos. A Foice da Morte, o Caldeirão de Caos e a Coroa de Evren. A Mãe tem a Coroa.
— E eu tenho dois deles — tomei por conta.
Elvi assentiu.
— A Mãe matou a todos que ama com a Coroa. Então, tudo fica confuso nas visões. Não sei o que acontece. Mas você escapa e vai até Caos, a própria existência. Não sei o que ali foi dito, pois nem mesmo eu tenho autoridade para saber o que acontece dentro das paredes do Lorde do Destino e da Realidade. Todavia, a próxima coisa que vejo é você moldando o multiverso à sua vontade e viajando por ele para matar cada um de meus irmãos, em seus próprios impérios, e massacrando cada pessoa daqueles lugares. Milhões. Bilhões são mortos. Você chacina cada Império. Mata crianças, mulheres, idosos. Todos. Toma cada Império em nome de Caos e cria o maior exército da história. Acho que consegue seus amigos de volta, à custo de tudo isso.
Estava chocada demais para falar.
Elvi suspira com real pesar e tristeza.
— Diferente de meus irmãos, não quero uma guerra contra você. Os vislumbres desse futuro são tudo que mais repudio e quero impedir. Me ajude. Pare com isso. — Ela está quase implorando agora.
Tive força o suficiente para dizer, em meio a minha paralisia:
— Pare com o que? Vocês é quem estão me caçando.
Elvi ficou surpresa. Completamente estupefata.
— Você não sabe — disse, como se tomasse conta de algo inacreditável.
— Não sei o quê? — Pulei da mesa e fiquei a alguns passos de Elvi.
— Amelia Archeron... quem quebrou a barreira entre as realidades? — ela pergunta, simplesmente.
Respondi prontamente:
— A Mãe.
Ela arquejou.
— É isso. Você não sabe...
— O quê? — quase grito.
Então, a deusa das profecias me disse:
— Amelia Archeron, não foi a Mãe quem quebrou-a... Foi você. Estamos tentando consertar o que você fez quando ameaçou destruir o mundo para chamar a atenção da Morte. Foi você.
No momento seguinte, antes que eu pudesse ser atingida pela notícia, o chão se parte com um tremor avassalador e uma estaca de obsidiana da estrutura do castelo quebra o crânio de Elvi.
NOTAS DA AUTORA
Estava entediada hoje e decidi escrever. Desculpem a demora, juro tentar ser mais presente.
Até o próximo, e último, capítulo!
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Corte de borboletas da morte
FantasyAmelia Archeron era a quarta irmã e a mais nova. Inteligente e ambiciosa, ela se tornara o que nunca pensou ser possível. Ela fará de tudo por sua família e que a Mãe proteja quem pisar no seu caminho. Amelia quer vingança por tudo que lhe f...