I'm still a believer

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     Algumas horas depois — horas preenchidas por conversas e múltiplas xícaras de chá, — uma batida ritmizada, igual a que Azriel tocou quando chegamos, reverberou pelo apartamento — ou pelo pequeno cômodo embutido que era.

       Aparentemente, de acordo com a própria Selene, o seu filho fizera questão de criar uma batida específica para que ela soubesse que era ele ali. Um saco, admitiu Selene.

      A illyriana revirou os olhos castanhos e empurrou a cadeira de pinho para trás, rangendo em contato com o chão. Ela marchou até a porta; seus passos eram tão pesados que trovejavam conforme ela disparava — com tanta força de vontade... Me perguntei o que Selene poderia ter sido se tivesse as asas, seu equilíbrio. Se tivesse tido a chance de aprender a lutar.

       Ela não teve — assim como milhares de outras fêmeas.

       Sempre me irritou, mas agora... Fervilhava ódio dentro de mim.

       Selene destrancou a porta e abriu a maçaneta, dando vista a um Azriel tão tenso que mal se movia. Pelo visto achava que iriamos nos matar — no mínimo.

       Bem, não posso culpá-lo por isso.

      — O que foi? — disparou Selene, irritada pela interrupção na longa história de quando puxou a orelha de Az por não avisá-la que iria passar 1 mês fora para uma missão.

      Uma sombra de Azriel passou por baixo dos pés de Selene despercebidamente para avaliar o apartamento; procurando vestígios de luta, provavelmente.

       Até mesmo eu revirei os olhos enquanto terminava com o último gole de chá na minha xícara. Este era de maçã, gengibre e um toque leve de anis.

       — Vim buscar Amelia — Azriel falou, e a sombra que se aventurou pelo apartamento retornou para ele e se enroscou em sua orelha. As asas estremeceram com alívio, por não termos nos matado, presumi. Az olhou para mim, me observando. — Vamos? 

      Assenti com a cabeça, me levantando da cadeira rangente.

      Passei por Selene à porta, tocando no braço de Az.

       — Obrigada — disse para ela, e aquela pode ter sido a coisa mais sincera que saiu de meus lábios à meses.

       — Volte quando desejar — anunciou a mãe de Azriel, com um sorriso despojado e reconfortante nos lábios. 

      — Eu vou — respondi, abaixando a cabeça em respeito à ela.

      Em nenhum momento Selene me forçou a falar sobre qualquer coisa que tenha acontecido comigo, e, pelo visto, Az não contou nada para ela também.

      Selene fechou a porta e escutei o estampido da fechadura e o trinco.

      Az se virou para mim.

       — Como foi? Você está bem? — perguntou o mestre-espião, ainda preocupado.

      — Não iriamos nos matar, Az — respondi, apertando levemente seu braço coberto pelos agasalhos.

      — Eu esperava que não... — disse ele, aflito demais para estar brincando.

      — Estou bem, sua mãe está bem. Conversamos, tomamos chá, e o prédio continua de pé. — Az deu um passo em minha direção... Claro, eu deveria ter percebido que deixar-me aqui sozinha por mesmo que algumas horas era uma tarefa árdua para ele. Dei mais um aperto suave em seu braço e deixei que se aproximasse. — A propósito, trate de avisar sua mãe quando for sair para missões tão longas.

Corte de borboletas da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora