Can I ask you a question?

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Azriel:


     O vento batia em meu rosto.

     Fazem sete dias do que aconteceu em Hybern.

     Há sete dias estou sendo tratado por curandeiros e repousando, não importa quantas vezes eu falasse que estou bem, eles não me deixavam sair. De início, quando tiraram flecha de freixo envenenada do meu peito, doeu como o inferno. E quando começaram a curar, a pele, veias, músculo, carne e osso. Doeu ainda mais, o veneno saindo me meu organismo pelo sangue queimava. A flecha foi fundo, tão fundo e certeira que nem os poderes de cura illyrianos conseguiram ajudar na cicatrização.

     Não. Precisaram de curandeiros.

     Refazer parte de meus órgãos.

     Eu desmaiei pela dor de primeiro momento, assim que cheguei em Velaris. Contudo, assim que o curandeiro começou a usar seus dons, a consciência resolveu voltar. E assim ir embora de novo assim que acabou, talvez de tão exausto meu corpo estivesse, minha mente.

     Acordei alguns dias depois, e tentei sair, já estava curado, com dor, mas curado. Ainda assim não me deixaram sair. Só fui liberado depois de exames e treinos, garantido que minhas asas e corpo estivessem bem e sem nenhuma dor. Como se eu não pudesse aguentar, estamos em guerra, o que é uma dorzinha?

     No entanto, as asas de Cassian estão em outra situação... os curandeiros passam dia e noite reconstruindo-as. Os gritos de dor quando ele não desmaia por ela são agoniantes. Eu torcia para que meu irmão pudesse voar novamente, porque se Cassian perdesse aquelas asas... ele preferiria a morte. Qualquer illyriano preferiria.

     Ele pulou na minha frente para me salvar, não conseguiria me perdoar nunca se ele perdesse as asas por minha culpa.

     Mesmo fazendo sete dias, os curandeiros só conseguiram refazer a parte superior, a inferior continuava despedaçada.

     Fiquei com meu irmão por algum tempo antes de sair, voar pela primeira vez desde Hybern. Desde o dia que descobri que Amelia era minha parceira.

     Eu estava no chão congelante de Hybern em uma poça de sangue quente, quando o Caldeirão se partiu. E eu senti, um estralo em minha alma, um fio me juntado ao corpo jogado, o laço de parceria. Fiquei tão impactado, que falei em voz alta, me amaldiçoei no mesmo instante que as palavras saíram de minha boca, pois agora todos sabiam. Ela sabia. Descobriu que tinha um parceiro logo depois de ter sido refeita. E nem sabia o que era parceria. Entretanto, veio diretamente em minha direção, ajudou a segurar o sangue que saía da flecha.

     E agora eu ia para Casa do Vento, para vê-la. Não tive notícias sobre seu estado, e isso me agoniava. Não sentia mais o poder do Caldeirão por Velaris, mas sentia o laço, não ousei usa-lo para saber como ela se sentia, ela não precisava de mais ninguém fazendo coisas com ela sem seu consentimento. Além do mais, ela não estaria bem, isso era obvio, não precisava de um laço para saber que ela estava mau.

      Foi um alívio finalmente sentir o vento por mim, por minhas asas. Ver Velaris do alto, essa cidade quanto mais se olhava, mais encantadora ela ficava.

     Minhas sombras me cobriam e sussurravam:

    A fêmea do Caldeirão.

     Nossa igual.

     Gosto dela.

     Vai mais rápido caralho.

     A nossa parceira.

     Ela tem ótimos seios.

     Mandei que ficassem quietas.

     Avistei a Casa do Vento no topo da montanha, cada vez mais próxima.

Corte de borboletas da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora