My words shot to kill when I'm mad

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Narradora


Embora tenha gritado com Lilian, Amelia não sente um pingo de culpa — ela, na realidade, não ficou com raiva de verdade; fingiu sair do sério para que Lily soltasse seu braço, porque sabia que a chatearia. Sabia que o coração da fada, visivelmente frágil pelas lágrimas pesadas escorrendo por seu belo rosto, estremeceria com uma expressão de ódio tão aberta. Principalmente se viesse de Amelia. Portanto, a Assassina elevou a voz e escolheu as palavras com precisão. Tudo para machucar sua melhor amiga.

E a jovem não sentiu culpa alguma; o que, de alguma forma, não a incomodava ou preocupava. Se um coração já não bate, ele não pode sentir quando é rasgado.

O nada a engoliu tanto, que Amelia se tornou uma boneca — mostre medo, a vozinha diz para ela; e a rainha obedece, sem forças para retrucar. Sem vontade; mostre raiva, a vozinha sussurra na sua nuca; e o tom de Ames se eleva. A bonequinha frágil, feita de pano, sem coração, sem lágrimas, sem escolha. Uma bonequinha que fica no canto de nosso quarto, parada e quietinha, exatamente como Amelia.

Ela não pode se machucar; a lâmina cortando sua pele à recorda muito das presas de um Awren — a besta que ataca sua presa do topo das estacas negras, — e o sangue escorrendo lembram-a das chamas vermelhas demais que tremeluziam pelo chão. As unhas se fincando nas palmas das mãos em formato de meia-lua se parecem com as garras de um Deryn. Tudo a lembra de como foi ferida no Inferno, e... a feérica não conseguiria passar por aquilo de novo.

Era como se o vazio sussurrasse de volta, com a voz profunda e velha: Não tem como fugir de mim.

Então a Archeron não faz nada, sentada no centro de sua cama organizada — qual Nuala e Cerridwen arrumaram enquanto ela tomava banho, alguns dias antes. Amelia não se deu ao trabalho de ligar, de agradecer, apenas se sentou no meio das cobertas passadas e afundou sentada no colchão macio; nem se importou em perguntar a data. Amelia não se importava.

Sua mente sempre fora tão barulhenta, tão bagunçada, tão atenta. A Amelia que conhecia teria vergonha de como a atual se encontra. Não reconheceria que na sua mente, agora, não passa nenhum sinal de pensamento. Só escuridão, como a de sua pupila dilatada pelo quarto sem luz, e sem vida como sua íris cinzenta — se olhares realmente falavam... a jovem se perguntava o que o dela diria. Exalaria cansaço, ou nem mesmo seria capaz disso?

No fundo, Amelia esperava que ninguém a olhasse nos olhos.

Faziam dias que viu um respingo de claridade pela última vez, quando saiu de seus aposentos para matar a Nagendra que veio de penetra quando a Morte atravessou a rainha de volta para Prythian — Amelia não tinha ideia como aquele demônio reptiliano ingressou com ela despercebido, mas não empenhou-se a saber, ou a lembrar. — A assassina não tinha ideia de quantos dias tinham se passado.

Amelia estava cansada demais, não ligava para nada, nem mesmo para melhora. Perdeu as esperanças no próprio futuro.

A Vida sempre foi uma condenação muito mais cruel que a Morte para as almas sonhadoras — afinal de contas, é a Vida quem massacra nossos objetivos.

Talvez ela estivesse errada no final de contas, e enfrentou de verdade... o ser da paz.

Ficar sozinha, Ames só queria ficar sozinha. Se forçar a interagir, mesmo que um pouco, gastam muito da energia que ela não tem.

Corte de borboletas da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora