Ruin myself a million little times...

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Amelia Archeron:


A expressão: Dói como inferno, é falsa.

Porque nada em meu mundo doeria tanto.

As agulhadas de minha pele queimando não aparecem visualmente — ou talvez eu não veja. Talvez eu esteja ficando louca. Talvez não haja nada além de queimaduras e cinzas em minha pele, como se tivessem jogado ácido e depois esfregado e jogado fogo. É assim que me sinto, e não vejo como minha pele pode parecer tão normal, portanto, cheguei a conclusão que posso estar louca.

Aqui é quente em outro nível, como se eu estivesse sendo queimada viva — e não falo isso pela dor, apenas pelo calor sobrepujante. Literalmente, infernal.

Coisas estalam por aqui, você se sente observado a cada passo, fica em posição de ataque e se pergunta: Isso é real? Eu ouvi isso mesmo? Ou é uma peça de minha mente? Não sei de nada, só sei que tenho que ir para frente.

Não me deixo pensar no que perdi — apenas penso que não tenho nada a perder, e tudo a ganhar.

Esse lugar é a coisa mais horrenda que já vi, em todos os aspectos negativos possíveis.

O céu é negro, com nuvens, ou fumaça, ainda não consegui decifrar — já que o cheiro de putrefação e cadáveres é forte demais. — E relampeia em vermelho escuro, como se sangue estivesse pingando do próprio céu. A única iluminação, na verdade, são os relâmpagos avermelhados que saem como frestas pelas nuvens. Por consequência, o ar é avermelhado, as vezes alaranjado escuro. E ele pesa, além de me queimar, é claro.

O horizonte é amplo, sem fim. É impossível ver um final, mesmo que, diferente da Terra que é angulosa, aqui seja totalmente reto. O chão é seco e a areia é uma mistura de poeira enevoada preta, e pó rubi, que me lembra, também, sangue. A areia escura me lembra as sombras de Azriel, e tenho que afastar o pensamento para não me destruir eu mesma. Já estou sendo destruída pelo ambiente, não posso me deixar o fazer também.

Não há resquício de plantas ou vida aqui, e creio que sou a única coisa que respire. Restos de ossos estão por todo o chão, e temo que parte dessa areia sejam migalhas deles. É como estar em meio a uma tempestade de areia no deserto, mas ela nunca para. O caminho tem uma espécie de espinhos gigantes que angulam diferentes lados, eles saem do próprio chão, negros e triunfantes. Parece que, em geral, foi uma cidade queimada e deixada aos pedaços, pois não há nada além de uma ou duas misérias horríveis por quilômetros. Tenho de olhar por onde piso, dado que o fogo está por todo lado; ardente e vermelho, crepitando nas próprias chamas, e, suponho, se alimentando de dor e sofrimento e os gritos; não de oxigênio, não, é impossível.

Aqui, há muitos gritos, e alguns cadáveres à milhares de metros, todos decompostos e com a pele amarronzada como tronco de árvore e surrada escorrendo por seus crânios, como se tivesse sido torcida em rugas e esfregada. Nos olhos apenas buracos profundos e negros. Eles gritavam de dor, e alguns emitiam sons graves e grossos, que raspavam o que restou de suas gargantas. Era... assustador.

Contudo, eu não me importava, com absolutamente nada. Só precisava chegar àquele castelo triunfante, que espetava as nuvens com sua ponta longa. Feito de pedra negra que não reflete, nem brilha, e parecia gotejar em sangue preto. Ele fluía por uma base mais larga que continha portões enormes e esplendorosos no centro, e diminuía, cada torre como uma estaca reta até além das nuvens ainda mais trovejantes sobre ele. Névoa passava pelo caminho até seu início.

Mas o caminho até lá...

Continuei a andar, mesmo exausta, mesmo querendo desistir, mesmo com os piores tipos de dor.

Corte de borboletas da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora