Capítulo 88

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   Podia ser a coisa mais imprudente que já fizera, mas montei um plano para Lilian. Não entendia por que arriscar tanto, arriscar uma possível guerra, por Lucien. Embora ele fosse meu amigo, a paz que eu havia encontrado, ainda que momentânea, era indiscutivelmente preciosa. No entanto, por Lilian... 

   Minha amiga merecia felicidade. Não tinha qualquer um do próprio povo, não tinha lar definido, não tinha seus pais, de nascença e de criação. Eu poderia ao menos dá-la alguém a quem se apegar. Porque, se não contasse a Lucien diretamente, não iria aguentar o segredo e acabaria se afastando. 

   Na maioria do tempo, eu tentava não pensar nos Prydwen. Mas, às vezes, não conseguia impedir que meus pensamentos vagassem até eles. Os pais de Lily me acolheram por meses, afinal. Eram a figura paterna que eu tanto queria. Nenhum amor pode substituir o dos pais, nem aqueles quais mais amamos. 

   Portanto, arriscaria muito por Lilian. 

  Eu tinha tudo muito bem planejado, de fato. Funcionaria, porém, sem nenhum imprevisto. Foram dois malditos meses garantindo que tudo ocorresse bem — planejando. Tinha de dar certo. Ou eu estaria ferrada, juntamente com Lilian. Grão-senhores e toda Prythian estariam contra mim. 

   Bem, estava tudo muito entediante de qualquer forma. 

   Rhysand riu e perguntou outra vez: 

   — Ainda se lembram desse dia? — Seu dedo estava vergonhosamente na ponte do nariz. 

    Cassian estampou descrença. 

     — Claro que sim, seu babaca! — retrucou. —Sair voando bêbado pelas ruas do Arco-íris, cantando as cantigas illyrianas antigas, é algo particularmente memorável. Ninguém com o mínimo que senso de humor devasso se esqueceria do melhor amigo nesta situação. Esta pessoa saberia, como você devia saber, que vamos recordá-lo disso para sempre e sempre... 

   — Foi um acidente, pela Mãe — observou Rhys, olhando pelo canto dos olhos para a sua parceira sorridente. — Não me encare assim. Esse tipo de coisa acontece, está bem? 

    Feyre sorriu enquanto disfarçava a risada. 

   — Certo. Com certeza — articulou ela, mordendo o lábio. — Tomar três garrafas de vinho feérico também?

   Na mesa de jantar da casa do vento, já que a casa do rio ainda não estava pronta, travessas e vasilhas estavam espalhadas. Um jantar comum, convocado por Rhysand. Todos se ocupavam nas últimas semanas... uma pausa era de bom grado recebida. Minhas tarefas extras eram, além de minhas aulas, um pouco mais complicadas do que o restante pensava. As minhas entrariam em ação hoje.  

   —  Era vinho meu, pelo menos — argumentou Rhys, e Feyre mostrou a língua.  

   Cassian, no entanto, fechou a cara. 

   — Indireta para mim, fofa? — disparou ele. 

    — Não — disse Rhys. — Para Az. — E indicou a cabeça para meu parceiro na cadeira ao meu lado. 

     Az quase cuspiu o vinho que tomava, arregalando os lábios conforme os encarava. 

     — Já tentei me explicar antes... — Sua voz foi sobreposta por uma gargalhada, e, mesmo do seu lado, não conseguia ouvir o que ele dizia. A sua boca movia, mas dela não saia nada. — ... não foi minha culpa... 

     Rhys interrompeu-o com uma mão. Sua outra no peito, lutando para recuperar-se das risadas. Todos estavam assim. Faltava algum bom tempo para por meu plano em ação então... 

Corte de borboletas da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora