Amelia ArcheronAmren estava relaxada em sua cadeira, olhando fixamente para mim. Seus dedos com unhas longas estalavam na mesa em ritmo constante, o único som presente, reverberava pela biblioteca longa.
Dei passos decididos até a cadeira na outra ponta da mesa, sentando-me paralelamente a Amren. Não era uma mesa muito larga, entre nós havia aproximadamente dois metros de distância.
Acomodei-me no estofado confortável da cadeira e cruzei as pernas sob a mesa.
Os dedos de Amren pararam de batucar.
— 1 hora exata. Pelo menos é pontual. — Ponderou, mais para si mesma do que para mim.
Gesticulei com a cabeça em assentimento. Não havia nada a dizer, era Amren quem dava as cartas, que eu nem sabia quais eram.
— Menininha você tem duas opções. Ou você controla esse poder, ou ele controla você. Não a meio termo.
— Eu não sei como controla-lo. É por isso que estou aqui afinal de contas.
Amren soltou uma risada nasal.
— Não, você está aqui para que eu te ajude a aprender a controla-lo. Não posso controlar ele por você, é o seu poder. E você aprenderá um jeito de controla-lo.
— Como? — indaguei na direção da anciã.
Ela apenas deu de ombros.
— Não sou eu quem te responderá isso. — Amren tirou as costas da cadeira e se inclinou mais a diante. — Cada magia responde de um jeito diferente, e a sua... é muito única e peculiar. O Caldeirão criou esse mundo e as criaturas que temos nele, ninguém já o controlou completamente, nem mesmo o rei de Hybern. Mas agora... o poder não é mais de um artefato, é seu.
— Eu sei disso Amren. — Disse impaciente. Só quero saber como! Suspiro antes de adicionar.— Por onde começamos?
A pequena fêmea cruza as pernas sem tirar os olhos prateados dos meus.
— Poder está diretamente ligado as emoções, quanto mais forte a emoção, mais forte o poder. — Afirma ela. — Você o sente?
— Sim. Todo maldito tempo. — Em meu peito, em minhas veias, em cada coisa que eu via eu o sentia. Nunca parei de sentir, nem por um instante aquela energia avassaladora pulsando e querendo ser libertada. Tão perto, visível até, dentro de mim, mas ao mesmo tempo tão longe e tão inalcançável.
Amren assentiu com a cabeça, como se estivesse anotando as informações em uma lousa para me mostrar no final.
— Até agora, ele só se revelou enquanto tem esses pesadelos. Emoções fortes o suficientes para desperta-lo.
Franzo o cenho e nego.
— Não vejo minha magia explodir como se estivesse a convocando. Ela é quem decide sair.
— Menininha. — Ela diz em desapontamento e dispara. — Sua magia não decide nada. É apenas sua, você a controla, não o contrario.
— Não sinto como se fosse minha.
Amren ri com escárnio e aponta um dedo para porta.
— Então saia. — Inclinou seu queixo na direção da saída. — Se não está pronta para sequer aceitar seu poder. Aceitar quem, e o que você se tornou. Se não consegue olhar no espelho e se reconhecer saia. E só volte quando for capaz de aceitar quem você é e que esse poder é seu. — Era aquilo, ou eu aceitava o Caldeirão dentro de de mim, ou não dormiria mais anoite mas continuaria sem ter que encarar esse monstro, esse poder. Fitei a porta, vendo muito mais do que madeira. Vendo que se a atravessasse, deixaria isso para trás e não teria que aceitar nada vindo do Caldeirão... Se não atravessasse, seria mais difícil. Eu teria que aceitar esse Caldeirão como meu, como uma parte de mim. Enfrentar meus medos parece muito mais fácil na teoria do que na realidade. — Vamos, saía. Vá destruir mais quartos, depois casas, depois prédios. Até que esse corpo não se torne realmente mais seu. — Amren murmurou. — Você sabia no que daria Amelia, quando quebrou aquele Caldeirão sabia o que significava. E você fez! Sem nenhum medo! — Suas frases ficavam mais selvagens, sem gritar mesmo assim. — Faça de novo. Você tomou o Caldeirão para você mas isso não vale nada se você se tornar ele. Faça. Com que ele. Se torne. Você! — Ela gesticulou desinteressada em direção a porta. — Ou pode sair. Não devia nem estar aqui se não sabe nem quem é.
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Corte de borboletas da morte
FantasíaAmelia Archeron era a quarta irmã e a mais nova. Inteligente e ambiciosa, ela se tornara o que nunca pensou ser possível. Ela fará de tudo por sua família e que a Mãe proteja quem pisar no seu caminho. Amelia quer vingança por tudo que lhe f...