...but it brought me Heaven

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Amelia Archeron


Abro meus olhos, sentindo-me descansada, parcialmente recuperada do sentimento palpitante de estar exaurida. Meu corpo pesado e leve como névoa me diz pouco, meramente que dormi por boas horas. Portanto, ao abrir os olhos e me deparar com um quarto escuro, franzo as sobrancelhas.

Passo meus olhos pelo quarto e minhas perguntas são respondidas pelas cortinas de tecido preto e pesado fechadas. A fresta central irrompe com uma minúscula brecha de luz do sol. Mas apenas isso, o resto do quarto está preenchido pela escuridão.

A surpresa por ter conseguido dormir bem não me atinge mais; nem os pesadelos. Eu nunca dormi bem, nem quando vivia na mansão Archeron ou a cabana. Pontadas no peito nunca me deixaram relaxar de verdade. A insônia se tornou parte do meu cotidiano. Contudo, nesses últimos dias, consegui, de fato, dormir profundamente. E bem.

De repente, minha atenção é atraída até o corpo nu ao meu lado. As asas estão mais relaxadas do que jamais vira, e cobrem parte de meu corpo. Mesmo com as cobertas e colchas gris e azul-marinho sobre ele, elas trazem um calor agradável. As costas tatuadas com arabescos illyrianos Seu rosto sereno sob o cabelo completamente desengrenhado me dá vontade de ficar ali, só observando-o.

Sobre os antebraços, equilibrando o peso para não acordar Az, eu empurro as cobertas grossas para o lado, tiro o braço de Az de minha cintura delicadamente, e coloco os pés no chão. Me pergunto o quão cansado ele deveria estar para não acordar.

Uma brisa de inverno serpenteando da janela bate contra minha pele, lembrando-me que estou nua, e que preciso colocar alguma coisa. A camisola que recebi de Cass no solstício não mais serve para mim, a não ser que eu queira sair dessa cama hoje. Logo, vou nas pontas dos pés até o closet de Az.

Decido não acender as luzes, ainda que Az não pareça acordar tão cedo. Não há muito o que dizer sobre essa parte do quarto, já que o tamanho impressionante só é preenchido no cantinho. Literalmente. Um banquinho de veludo azul escuro como a noite está no centro do cômodo; um amontoado de armaduras e agasalhos e cuecas estão em, no máximo, quatro prateleiras e algumas outras peças estão penduradas por cabides naquela seção; já os sapatos estão na última gaveta. Tudo preto ou cinza.

Ele precisa de mais roupas urgentemente.

Não que eu aprecie o preto, claro que não, mas isso está deprimente.

Vou àquela seção e surrupio uma camisa de algodão preta que vai até meus joelhos. Eu pareço uma Amren com estas roupas. Preciso das minhas coisas pra já, e não dá mais para adiar.

De volta às pontas dos pés, vou até o banheiro. A porta fechada me interrompe, e, para não causar barulho, uso um filete de magia para abrir a maçaneta e empurrar lentamente a porta. Az se remexe na cama e eu paro no lugar. Por sorte, ele volta a dormir e não tateia meu lado na cama — pois só encontraria lençóis ainda mornos e vazios.

Eu disparo pela brecha da porta e a fecho rapidamente. Sem o baque, graças à magia. A luz do sol do meio-dia me cega temporariamente e minhas pupilas lutam para se ajustarem a mudança repentina de ambiente.

Depois de uma semana — ou mais, já que parei de contar os dias há muito tempo — suspeito que o frenesi da parceria esteja finalmente passando, considerando que nenhum de nós acordou no meio da noite com uma fome voraz. Ou pode ser somente efeito de termos ficado até tarde ontem à noite.

Meu corpo dolorido foi curado pela magia grã-feérica nessas horas em que repousei. Ótimo, já que se eu caísse de novo o som com certeza acordaria Az, e, de novo, ele iria rir da minha cara. Eu provavelmente atacaria ele se o fizesse.

Corte de borboletas da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora