Capítulo 36 - Esperança III.

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Esperança.
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Flashback O.N

"Estava tão distraída no telefone que nem percebi quando trombei com alguém tomando um bandão e fazendo meu celular voar longe.

— Porra, olha pro chão caralho. — Ouvi uma voz grossa falar e me virei pra ver quem era, e puta que pariu, só podiam tá conspirando contra mim. —

— Me desculpa, eu não vi. — Falei percebendo que a culpa foi minha e peguei meu telefone, que por sorte não tinha quebrado.

— Presta atenção por onde anda então. — Escobar disse grosso me fazendo ficar nervosa, eu já pedi desculpa, ele acha que é quem? —

— Eu já te pedi desculpa, se você não vai aceitar vai pra merda. — Tirei coragem não sei da onde pra dizer aquilo e sai andando torcendo pra ele não vir atrás de mim. —"

...

A gente saia do baile e quase todo mundo reparando a gente, não aguentava a cara de antipática daquelas monas, mas tinha uma que estava parecendo que queria me matar, mona era bonita, mas tava fazendo um papel tão feio.

— Se subir não tem como voltar em morena. — Ele disse pra mim me entregando o capacete da moto, e você desistiu? nem eu. Subi me segurando nele e ele saiu voado. O que a cachaça não faz. E na minha mente só vinha um pensamento.

Maria Ísis onde você tá se metendo?

•••

— Tu tá brincando? — Leandro falou sério.

Eu tinha feito aquelas caixinhas com sapatinhos, meu Deus, que barango, o que que eu tava pensando, eu vou matar a Carla e o Vitor por me fazerem fazer isso.

— Fala Ísis, tá falando sério comigo? — Ele falou sem reação se levantando e eu já fui ficando nervosa.

— Eu não ia brincar com isso Leandro, mas se você não quer ter...— Ia completar mas ele me puxou pra ele pegando no meu queixo.

— Tu nem completa isso Maria Ísis, tá ficando maluca? Tu tá realizando um sonho meu po. Se tu tiver brincando não vou entender legal. Tu é mulher da minha vida e agora a mãe dos meus filhos. — Ele falou com um sorriso de orelha a orelha me fazendo encher os olhos de água. Malditos hormônios."

Sábado, 23:00
Narração.

Aquela não era uma noite comum no Rio de Janeiro.

Quem diria que aquele "esbarrão" chegaria a isso.

Em um lado da cidade Leandro tinha uma bala alojada no peito. O delegado optou por não dar um tiro na cabeça porque segundo ele iria gerar especulações a respeito da sua conduta.

O sangue tomava o corredor do hospital que estava cercado de policiais, as enfermeiras gritavam por espaço mas eles não ligavam, na verdade desejavam mesmo era a morte dele.

Os médicos levaram Leandro pro centro cirúrgico mas parecia tarde demais, ele já havia perdido muito sangue, mas tinha algum motivo que mantinha ele ali, esse cara é forte, eles diziam.

Uma, duas, três tentativas de estancar aquele sangue mas parecia em vão.

Já é tarde demais, dizia uma das enfermeiras. Esse já foi.

O doutor não estava convencido disso.

Doutor Sacramento nunca tinha visto tanta vontade de viver, e enxergou em Leandro naquele momento.

Ele tinha algum motivo pra voltar, o doutor tinha certeza.

Do outro lado da cidade, Maria Ísis gritava, a mesma já tinha desmaiado quatro vezes desde que tinha ouvido a notícia.

Voltava a realidade em meio a gritos e choros, a dor que ela sentia ultrapassava os limites do ser humano. A criança não se mexia mais, e o que se via naquela ambulância era desespero.

O trânsito não colaborava, engarrafamento típico da cidade, mas tinha que ser logo naquele momento?

Maria Ísis só pensava que tinha perdido o pai do seu filho, e agora, o seu bebê.

A gente vai ter que tirar, gritava um enfermeiro enquanto a outra dizia que não, eles não podiam fazer isso, podiam? Ainda não tinham experiência pra tal.

Não tinham tempo pra pensar, ou iriam perder a mãe e a criança. Foi o que decidiram.

Aplicaram a anestesia local fazendo Ísis gritar enquanto seguravam o bisturi.

1,2,3... Primeiro corte foi feito.

Cada camada cortada no útero era um grito da parte de Ísis, ela sentia tudo. Não deram tempo pra que a anestesia pegasse direito, na verdade não tinham esse tempo.

Ela chorava e gritava o tempo todo, pensando o que tinha feito pra merecer tal coisa, pensando que preferia a morte do que perder o seu filho assim como acreditava ter perdido o amor da sua vida.

Pensava tanta coisa, sentia tanta dor, que não percebeu quando seu filho foi tirado.

Miguel tinha nascido.

Ele não chorou. Porque ele não chorou? A enfermeira começou uma massagem cardíaca, seu coração não batia.

Maria Ísis começou a perder o sentido de novo, ela iria desmaiar?

Ela iria. Até que ouviu aquele chorinho.

Miguel chorou. E foi olhando pra ele que ela enxergou.

Foi a primeira vez naquela noite que ela sentiu aquele sentimento, a primeira vez que ela viu a sua Esperança.

Antes de apagar mais uma vez.

Antes de apagar mais uma vez

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1:20PM

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