Feel Something

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Quinta, 22 de outubro.

– Ficou lindo, Blaise. – Caroline comentou rindo enquanto se sentava ao lado de Pansy, e o moreno revirou os olhos.

– Eu odeio vocês, eu odeio isso, isso é culpa sua, Malfoy! – berrou irritado, mas soou completamente engraçado para, pelo menos, metade dos alunos que estavam no Salão Principal naquele momento.

– Não seja um mal perdedor, Blásio. – o loiro falou calmamente, enquanto encarava o moreno completamente irritado.

– Olha só pra ele! – um dos alunos assoviou, fazendo com que ele explodisse ainda mais.

– Acho que se pegar um descolorante, fica facilmente com os cabelos iguais os do Malfoy. – disse, e o loiro logo franziu o cenho em desgosto, prestes a dizer algo quando ela continuou a falar. – Quero dizer, loiro é melhor que ruivo, certo?

– É melhor ser confundido com um Malfoy, do que com um Weasley. – a morena pontuou, concordando.

– Vocês duas sabem que não dá pra tingir, e mesmo se eu quisesse, não poderia.

– Vou até repetir as suas palavras "Se você colocar uma barata na comida da McGonagall, eu te deixo tingir meu cabelo de ruivo com magia, e ficarei assim por uma semana." – disse fingindo uma voz fina, enquanto fazia expressões estranhas com o rosto, querendo dizer que Blaise falava daquele jeito. – Achou mesmo que eu não ia fazer? Isso é impagável. – riu, por fim.

– Para colocar a barata, teria que matá-la. Então não, eu não achei que teria coragem suficiente para matar uma barata, e ainda colocá-la na comida de uma professora.

– Idiota. – resmungou.

Eles podiam até ser insuportáveis as vezes, mas aqueles momentos, tão pequenos, mas tão importantes. Pequenas coisas que faziam todos rirem por horas, pequenas azarações, brigas da comunal. Aquilo era simplesmente incrível demais.

Era o tipo de coisa que era tão normal, por acontecer com frequência, mas mesmo assim, tão necessária. Não importava o quanto o loiro podia ser irritante, porque depois de um tempo, aquilo tudo era engraçado.

Era bom estar com eles, mesmo que tivesse que mentir sobre alguns detalhes. Ela não queria, eles estavam confiando nela, e ela não queria quebrar isso. Mas, os momentos com Potter eram tão bons, como quando conjurou seu Patrono, o chamou de idiota pela primeira vez, e quando os encontros da Torre de Astronomia se tornaram diários.

No final, ela só estava tentando sentir alguma coisa.

Qualquer coisa era melhor do que a saudade constante, o sentimento de abandono, a dor no peito, as noites em claro, o aperto que sentia ao ver o quão difícil estava sendo para o seu irmão, mesmo que ele finja estar tudo bem. E não importava o que ela teria que fazer para continuar com aquilo, porque mentir sobre algo tão pequeno, era totalmente melhor do que viver com os olhos molhados.

Mas ainda era difícil.

Ela acordava, e por um segundo, apenas um segundo, tudo parecia estar bem. Mas então ela lembrava, e isso acabava com o seu dia.

E por mais que estivesse bem, não estava completa. Sua mãe nunca mais pentearia seus cabelos, nunca mais sorriria para ela, ou a abraçaria depois de um pesadelo.

Um pesadelo.

Era tudo o que ela desejava que aquilo fosse. Talvez uma piada de mal gosto, uma ilusão. Tudo menos verdade.

Não podia ser verdade.

Mas era, e isso era o que mais doía.

Era um sentimento constante de perda, como se seu mundo tivesse perdido toda a cor, como se algo dentro dela tivesse morrido. E aquela memória, a memória terrível daquele dia. O dia em que a escola toda a viu correr com os olhos molhados, o dia em que Pansy a abraçou enquanto ela chorava no banheiro, o dia em que tudo pareceu desabar em suas costas, o dia que ela queria poder esquecer, mas não pode.

– Ei. – ouviu aquela voz tão familiar, enquanto saía de seus pensamentos percebendo que seus amigos já não estavam mais ali. – Ei, Care. Você está bem?

Tudo bem, é claro que Potter estava ali. Ele sempre aparecia nesses momentos.

– Harry, ér, sim. Eu estou bem. – deu um sorriso falso, que poderia ter passado despercebido, mas seus olhos estavam molhados demais para alguém que estava bem.

– Não, não está. Quer conversar? – perguntou sério, se sentando ao seu lado.

Ela suspirou.

– Eu não sei.

– Sabe que pode contar comigo, eu estou aqui. – disse a encarando com firmeza, pegando em sua mão confortavelmente. Soltou um suspiro quando a garota apertou a sua mão, enquanto passava os dedos pelos seus.

– Sim, é só... eu não sei.

– Tudo bem se não quiser falar, eu só queria saber se estava bem.

– Eu sinto falta dela, Harry. O tempo inteiro, e eu sei que disse que não me importava, mas eu me importo, me importo até demais.

– Eu sei que sim. Acha mesmo que eu acreditei, quando me disse que nada disso fazia diferença? – ele questionou, e ela apenas o encarou com ternura. – Ela era sua mãe, é claro que faz diferença.

– Eu queria poder fugir. – disse com um sorriso cheio de ternura, quase como uma criança deixando sua imaginação sair.

– Você quer fugir? – ele perguntou, com um sorriso grande.

– O mundo bruxo anda tão sem graça, imagina o quão o mundo trouxa deve ser estranho. Seria incrível poder conhecer tudo.

– Eu prometo que um dia vou te levar para explorar o mundo inteiro.

– Faria isso? – franziu o cenho, sem poder evitar o sorriso.

– Faria muito mais.

– Idiota. – resmungou rindo.

– Você sabe que me adora. – disse por fim, sorrindo de forma convencida.

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