— Camila!
O desespero na voz de Luan preencheu a sala enquanto ele a segurava nos braços. O corpo dela estava mole, frio, entregue à inconsciência.
Marizete voltou apressada com um pano úmido, ajoelhando-se ao lado do filho.
— Ela desmaiou, Luan! Meu Deus... o que aconteceu com essa menina?!
Amarildo já estava ao telefone, falando com urgência.
— Precisamos de um médico aqui. Agora!
Luan segurou o rosto de Camila, o polegar roçando suavemente sua bochecha. O rosto dela estava machucado, os lábios pálidos e rachados.
— Camila, por favor... — Ele sussurrou. — Acorda...
A sala parecia sufocante, o ar pesado com a tensão.
— Precisamos levá-la para um hospital — Marizete disse, aflita. — Esses machucados... ela pode ter alguma hemorragia interna!
— Eu não vou esperar — Luan decidiu. Seus braços se firmaram ao redor do corpo frágil dela quando se levantou de uma vez. — Eu mesmo vou levá-la.
Marizete abriu a boca para protestar, mas a determinação nos olhos do filho a fez desistir. Ele não aceitaria um "não" como resposta.
— Eu vou com vocês! — Ela disse, pegando sua bolsa.
Luan não esperou mais nada. Com passos firmes, saiu da casa e entrou no carro, acomodando Camila no banco de trás com cuidado, a cabeça dela repousando em seu colo.
Amarildo assumiu o volante, dirigindo com pressa até o hospital mais próximo.
Cada segundo parecia uma eternidade.
Luan manteve os olhos fixos em Camila durante todo o caminho, suas mãos segurando as dela com firmeza.
— Aguenta firme, Cami... — murmurou, sentindo o peito apertar.
A ideia de perdê-la o aterrorizava.
Quando chegaram ao hospital, tudo aconteceu rápido. Enfermeiros vieram correndo, levando Camila para dentro. Luan tentou segui-los, mas foi barrado.
— Senhor, precisamos examiná-la.
— Eu vou com ela! — Ele rosnou, impaciente.
— Luan... — Marizete tocou seu braço, tentando acalmá-lo. — Deixa eles cuidarem dela.
Ele passou a mão pelo cabelo, frustrado.
Tudo o que podia fazer agora era esperar.
E ele odiava esperar.
...
O tempo parecia se arrastar. Luan andava de um lado para o outro, impaciente. A cada minuto que passava, sua angústia crescia.
Até que, finalmente, um médico apareceu.
— Como ela está? — Ele perguntou imediatamente.
— Ela está estável. Teve um desmaio por exaustão e estresse extremo. Além disso, encontramos alguns hematomas recentes pelo corpo, mas, felizmente, nada grave internamente.
Luan sentiu os ombros relaxarem um pouco.
— Ela acordou?
O médico assentiu.
— Sim, mas ainda está muito fraca. Ela precisa de repouso e hidratação. E... bom, ela parece assustada. Vocês são da família?
Luan trocou um olhar com Marizete antes de responder.
— Sim.
— Talvez seja bom que alguém próximo esteja com ela agora.
Luan entrou no quarto sem hesitar.
Camila estava deitada, conectada ao soro. Seus olhos estavam abertos, mas vazios, encarando um ponto qualquer na parede.
O peito de Luan apertou ao vê-la assim.
— Cami...
Ela piscou algumas vezes antes de virar a cabeça na direção dele.
E, então, a primeira lágrima caiu.
— Ele levou o Benjamin...
Luan congelou.
O coração dele simplesmente parou.
— O quê?
Luan congelou.
O coração dele simplesmente parou antes de disparar violentamente no peito.
— O quê?
A voz de Camila saiu fraca, quase um sussurro.
— O Nicholas... ele pegou o Benjamin.
Luan piscou, tentando assimilar.
— Benjamin? Quem é Benjamin?
Camila hesitou. O peito subia e descia rápido, tomada pelo medo e pela exaustão.
— Meu filho...
Luan sentiu o estômago afundar.
— Seu filho?
Era óbvio que Camila tinha seguido em frente. Óbvio que tinha construído uma vida. Mas ouvir aquelas palavras ainda o atingiu como um golpe no peito.
Ele passou a língua pelos lábios, um gosto amargo se formando em sua boca.
— O seu filho com... seu marido?
Camila assentiu de leve, e Luan apertou a mandíbula.
— Se ele é pai da criança, então ele tem direito de buscá-lo na escola.
Ela ergueu os olhos, arregalados.
— Não! Nicholas pode estar no registro, mas ele não é o pai do Benja!
Luan franziu o cenho.
— Como assim?
Camila sentiu o coração martelar contra o peito. O medo crescia dentro dela, mas não havia mais como fugir da verdade.
Ela engoliu em seco e, por fim, sussurrou:
— Porque o pai do Benjamin... é você, Luan.
Silêncio.
Um silêncio ensurdecedor.
Luan piscou. O ar pareceu escapar de seus pulmões.
— O quê?
Camila fechou os olhos com força, lágrimas quentes escorrendo por sua pele machucada.
— Benjamin é nosso filho.
Luan sentiu o chão sumir sob seus pés.
O sangue pulsava alto em seus ouvidos. A sala girou por um instante.
— Não... não pode ser.
Ele deu um passo para trás, como se precisasse de espaço para processar aquilo.
— Como você pode esconder um filho de mim? Durante todos esses anos?
Camila soluçou.
— Eu só queria proteger ele...
— Me deixa respirar — Luan interrompeu, erguendo a mão. Seu peito subia e descia rápido. Ele precisava sair dali. Precisava pensar.
Sem dizer mais nada, virou-se e saiu do quarto.
Quando chegou à sala de espera, encontrou Amarildo.
Ainda atordoado, olhou para o pai, sua voz saindo rouca e incrédula:
— Eu... eu acabei de descobrir que tenho um filho.
O peso daquelas palavras parecia esmagá-lo.
E ele não sabia o que fazer com isso.

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ABISMO
RomanceEla está afundando. Ele está brilhando. Mas e se, no fim, ambos estiverem perdidos? Camila sempre teve tudo: dinheiro, privilégios, excessos. Mas quem olha de perto vê as rachaduras - festas intermináveis, vícios perigosos, mentiras que a sufocam. E...