CAPITULO 55

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19 de julho de 2020

Madrid era deslumbrante. Uma cidade rica em cultura, história e beleza, e mesmo que a viagem não tivesse sido planejada para turismo, Luan não pôde deixar de se encantar com o que via. O céu azul, as ruas movimentadas e o charme das construções o fizeram se perguntar como teria sido sua vida se tivesse crescido ali.

Mas não era apenas a cidade que despertava sua atenção. A cada dia, ele descobria mais sobre Benjamin—seu filho. Uma criança de seis anos que, apesar de fisicamente muito parecida com ele, tinha uma cultura completamente diferente. O pequeno falava espanhol fluentemente, sabia inglês e, para surpresa de Luan, seu português ainda era um pouco atrapalhado. Às vezes, o cantor se pegava sem entender algumas expressões que o menino usava, e a comunicação entre eles era um aprendizado diário.

Naquela tarde, depois de um passeio pelo Museu Ratón Pérez, onde Benjamin mostrou com empolgação a história do ratinho que trocava dentes de crianças por presentes, e uma visita ao Parque del Retiro, onde jogaram bola, rolaram na grama e compartilharam um piquenique improvisado, os dois passaram em frente a uma padaria.

— Papá, ¡una panadería! — Benjamin exclamou, apontando para o letreiro.

Luan sorriu.

— Padaria, Benjamin.

— ¡No! ¡Panadería, ver! — O menino insistiu, mostrando a placa que dizia "Panadería Museo del Pan Gallego".

Luan soltou um riso baixo.

— Ah, tá. No Brasil chamamos de padaria, filhão.

— Vamos, vamos a entrar. ¡Quiero comer pastel!

Luan arqueou a sobrancelha.

— Pastel? Então vamos ali... — Apontou para outro estabelecimento com a placa "Mallorca Pasteleira".

— ¡No, papá! Mi pastel favorito vende aquí!

— Pastel é tudo igual, filhão. O importante é fritar na hora e vir com bastante recheio!

Benjamin fez uma careta de desgosto.

— ¿Fritar? ¿Cómo así fritar? No se come pastel frito. ¡Eca! Debe ser horrible!

— E vocês comem pastel cru? — Luan perguntou, confuso.

— ¡Papá! No puede comer el pastel sin assarlo.

— Assar? No forno?

— ¡Sí!

— O pastel de vocês é diferente do nosso...

Benjamin apenas sorriu, como se soubesse que aquilo ainda renderia mais confusão.

Assim que entraram, o menino correu até a vitrine e apontou animado.

— ¡Mira! Este. ¡Ese es el pastel que quiero!

Luan franziu o cenho ao ver um bolo decorado com creme de manteiga e calda de frutas vermelhas.

— Ah, você quer um bolo!

— ¡No! ¡Pastel! ¡Eso es pastel!

Ele soltou um suspiro.

— Que seja...

Chamou a balconista e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, deixou que Benjamin fizesse o pedido. Confiaria no filho. Seja o que Deus quiser.

A jovem atendente os observava fixamente, e Luan percebeu o olhar insistente. Foi quando ela finalmente disse, em português:

— Aqui está o pedido de vocês!

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