Capítulo 8 - Loucura

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Hoje eu não quis saber da janela. Uma idéia de liberdade meio que me assusta, então me conformei com o divã no meio da sala. Callie me acompanhou, porém está esperando lá fora, me disse para não ter pressa.

-Como alguém sabe que está ficando louco?-Questiono. Sinto que a doutora quis rir da minha pergunta idiota, mas ela jamais faria isso. O pior de tudo é que realmente quero saber, pois tenho medo que eu esteja.

-Você me fez essa mesma pergunta quando me contou que o Henri tinha ido até a sua casa se despedir numa determinada noite... e então você ligou para a polícia, não foi?-Assinto, lembrando com pouca riqueza de detalhes.-Porém... isso tudo só aconteceu na sua cabeça.

Continuo assentindo devagar a medida que vou ouvindo. Foi um choque, nos dias seguintes, quando o efeitos dos medicamentos passou por completo, descobrir que tudo não passou de um delírio.

-Aquilo me faz questionar tudo o que já vivi... se foi real ou não...-A única coisa que consigo sentir no momento, além de medo, é agonia. Abraço as minhas pernas sentado no divã.

-Você é capaz de distinguir algo absurdo o suficiente para não ser real, Kody.-Quando ouço o que diz, lembro-me da silhueta que vi ontem... um absurdo.-Tenho certeza de que a sua capacidade mental está em perfeito estado, você tem progredido muito.

Esqueceu de ressaltar que as vezes, simplesmente acabo vendo o que estou com muita vontade de ver. Ainda sinto que tô enlouquecendo, mas ninguém vai entender isso.

*

-E se ele estiver nos observando nesse exato momento?-Diz Callie, assim que descemos do meu carro na frente da sua casa. Olha ao redor de forma nem um pouco discreta. Acabei lhe contando sobre o que vi ontem.-Você sabe que as chances não são pequenas...

-Chega, tá bom?-Finjo estar decidido a acabar com o assunto.-Eu nem sei se aquilo foi real... mesmo que eu não tenha tomado medicamento nenhum.

Abre a porta para mim, que já deveria estar indo para casa pra cuidar das coisas da mudança, minha mãe já contratou a equipe, se tudo ocorrer bem, deixaremos a antiga casa antes do próximo final de semana.

-Só não começa a fazer merda pra chamar a atenção dele e fazê-lo dar as caras como a Bella do Crepúsculo, pelo amor de Deus. Aquela garota não tinha nem um pouquinho de amor próprio.

Concordo sem ao menos entender a sua referência. A escada da sua casa está meio que interditada. Repleta de coisas velhas, caixas e gavetas.

-Achei que eu fosse o único a se mudar essa semana.

-Ah, porra. Esqueci de dizer, a vovó não consegue mais subir a escada, então tô meio que mudando ela de quarto.-Diz, tirando algumas caixas do caminho. Me recuso a acreditar que largou tudo aqui só pra me acompanhar em uma consulta, deve estar precisando muito espairecer.

-E onde é que ela tá?

-Espero que dormindo.-Suspira de alívio ao terminar sua frase, mas se arrepende em seguida. A senhorinha acaba de surgir chamando o seu nome.

Saio do caminho para observar a situação cômica de longe, é o que preciso para esquecer meus problemas por um instante.

-Onde você estava?!

-Olha! Eu arrastei uma cama sozinha hoje de manhã, fica na sua, tá bom?! Temos idades diferentes e paciência igual!

Callie cruza os braços, desistindo de mexer com a bagunça. A velhinha se abaixa devagar pra pegar uma das caixas, deve demorar por volta de vinte segundos para fazer isso.

-Ingrata!-Exclama. Quando chega ao meio do caminho, acaba largando a caixa de volta ao chão, o que resulta em muitos papéis espalhados pela sala. Entre livros, documentos e até uma revista erótica dos anos 80. Desiste de se abaixar para pegar.-Dê um jeito nisso, menina!

Me abaixo para ajudar uma amiga irritada a recolher os papéis enquanto a velhinha volta para o lugar de onde saiu, reclamando. Entre tudo o que está no chão, o que me chama a atenção é uma espécie de caderno... não é muito maior do que uma mão aberta, na capa, está escrito a caneta, com umas das letras cursivas mais bonitas que já vi "Diário de Adalyn West". Sim, a mãe morta do Henri. Quando penso em alcança-lo, Callie é mais rápida.

-Espera só até eu ter noventa anos... vou roubar um banco e colocar a culpa na idade.-Murmura, recolhendo tudo rapidamente.

-Peraí!-Faço-a tomar um breve susto, exclamando de repente. Aponto para os papéis nas suas mãos.-O que é aquilo?

Ela olha para os mesmos, ergue a revista erótica e dá de ombros.

-Tive a quem puxar.

-Não! O diário, da esposa do Dr. West.-Meio que rastejo até lá e o arranco das suas mãos. Posso notar que as folhas de papel são antigas e frágeis.

Pela sua cara, Callie não fazia idéia da existência disso.

-Não acredito...

A única certeza que tenho no momento é de que preciso ler tudo o que há escrito nessas folhas.

-Quero ler.-Afirmo.

-Você tá doido?! A vovó vai notar que sumiu e me encher o saco pelo resto da vida. Ela pode até esquecer o próprio nome, mas não esquece o que tem nas suas caixas!

Estou pronto para apelar e enfiar a nossa amizade no meio da discussão. Callie não resiste a essas coisas.

-Vai ser rápido! Eu juro! Não vou nem dormir, devolvo assim que terminar. A gente se ama.

Volta a sentar-se no chão e suspira, pela décima vez. Sabe que não vou ceder.

-Tudo bem. Mas se eu morrer, a velhinha inofensiva foi a culpada.

Sorrio, me levantando e correndo em direção a porta para ir embora, e esperando obter respostas para perguntas que ainda não foram feitas.

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