Capítulo 12 - Realidade

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A minha consulta de ontem não foi muito produtiva, diferente do que imaginei. O único progresso que tive desde o dia da bendita festa, foi que agora tenho um pouco mais de certeza de que não estou maluco. Tudo indica que não! há diversas provas. Não tem chances nenhuma de eu ter voltado para casa, tirado a minha roupa e enviado uma mensagem de texto. Eu posso até achar que estou ficando maluco as vezes, mas essa não é uma dessas vezes. Se eu acabar enlouquecendo, será por tanto pensar nisso. Os flashes repetem na minha cabeça como um disco arranhado a todo momento.

-Você parece ansioso, alguma novidade?-Peguntou a Doutora Susan, vendo que nem cheguei a deitar no divã como de costume. Eu não conseguia ficar parado, e até então, nada mudou. Minha perna tremia constantemente.

Assenti.

-Acabei tomando ecstasy acidentalmente numa festa e desde então parece que vou morrer.-Despejei uma paquena parte do entulho que há na minha mente, sua reação demonstrou surpresa.-Acho que andei vendo coisas... e fazendo coisas que não me recordo.

-Bom, Kody, é recomendável que você tenha mais cuidado nesse tipo de situação. Drogas como essas nunca trarão benefícios a alguém, muito menos a alguém como você.-Devolveu seu óculos de leitura ao rosto, estava prestes a anotar algo.

-Eu... não consigo lembrar de como cheguei em casa.

-Veja bem... caso sirva de consolo, o uso de tal substância não costuma causar perda de consciência total em novos usuários, quanto a "alucinação", geralmente ocorre quando há mais de uma substância no organismo.

Logo descartei algumas hipóteses, mas não todas. Preciso questionar absolutamente tudo, não posso nem por um instante achar que estou exagerando.
Naquele momento, eu só queria estar disposto para perguntar para ele, com todas as letras, se aquilo era real.

*

-Eles estão juntos desde o ensino médio. Se conheceram durante um show de uma banda indie que ninguém liga, ambos tinham fugido de casa nesse dia. Oliver era popularzinho no colégio, nunca ligou para esportes, já a Nelly, era mais retraída e tinha poucos amigos, mas quando foi para a universidade tudo mudou. Oliver não tem contato com os pais, já os de Nelly são malucos como ela. Os pombinhos compartilham gostos iguais por aventuras e viagens. Pretendem casar e talvez viver pelo mundo num trailer com um cachorro e duas crianças, mas não tão cedo.-A quantidade de informação que Callie emite quando faço uma simples pergunta me deixa assustado e com dificuldade de processar tudo.

-Eu perguntei se a Nelly falou algo sobre estar gostando de outro, não pedi uma biografia não autorizada.-Comento.

Aparenta ter mais informação ainda. Eu sabia que isso aconteceria, ficaram chapadas juntas naquela festa. Mas mesmo com tanta informação, eu não acho que Callie saiba de quando agiu de má fé. Por conta do meu desinteresse, volta a mexer o seu café numa xícara. Estamos na mesa da sua cozinha no momento, já que minha mãe e minha irmã foram visitar alguns familiares numa cidade vizinha e acha que não posso ficar sozinho em casa.

-E quanto a você? quando vai começar a olhar pra outro?-Muda de assunto de forma ordinária. Eu, de pé num canto, começo a caminhar em direção a mesa pensando em como correr desse assunto.

-Estou aprendendo a gostar de mim, antes de qualquer coisa.

Ouço o barulho da chuva se intensificar lá fora. Já são por volta de oito da noite, amanhã é domingo, o que significa que a minha mãe não vai voltar hoje, mas vai ligar um zilhão de vezes mandando eu dormir por aqui para não ficar sozinho. Eu, por outro lado, gostaria de voltar para casa agora mesmo, mas o motor do meu carro morreu pela manhã e ainda não consegui levá-lo para a oficina.
Não quero que a minha noite se resuma em ficar ouvindo os podres sobre outras pessoas que Callie tem para contar.

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora