Capítulo 2 - Fantasmas

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Fiquei pensando no que a Dra. Susan me disse ontem, sobre ter o meu próprio tempo, e consequentemente acabei me atrasando para o trabalho.
Entretanto, estou me sentindo até muito bem para uma manhã de terça-feira.

Não tenho checado muito o meu celular nos últimos dias, mas já posso dizer que está cheio de mensagens de Callie. Bom, eu prometi que iria até a casa dela, depois de tanto tempo, e depois dela dizer inúmeras vezes que estava cansada de vir até aqui. Seus pais a tiraram da clínica mais cedo por causa de mim, e também porque acharam que ela iria para a universidade. A minha mãe também pediu isso para eles, e quem diria. A única amiga que tenho vem a minha casa, no mínimo, três vezes por semana, a minha irmã é quem mais a ama.
Desco as escadas devagar, ouvindo a minha mãe, provavelmente ao telefone com alguém, espero que não demore, pois tenho algumas informações "impactantes" para lhe dar.
O meu trajeto consiste em ir até a cafeteira e tomar, literalmente, um copo com café. Aprendi a detestar cafeína, mas isso tem me ajudado na tentativa de combater os efeitos negativos dos medicamentos.
Quando vê que cheguei, dá logo um jeito de se despedir da pessoa do outro lado da linha.

-Bom dia, querido! Olha, eu tenho uma novidade que você vai amar!

Sorrio, temendo que seja um namorado novo. Seu último foi um maníaco disfarçado de médico.

-Eu também. Na verdade, são duas...

Esqueço de ressaltar que vai gostar de uma e odiar a outra.

-Tudo bem! Eu começo, sou incapaz de guardar segredos.-Levanta-se, numa animação quase contagiante.-Nós vamos nos mudar, achei que seria uma boa idéia para todo mundo.

Até que não foi tão ruim como eu temia. Me lembro de ouvi-la dizer algumas vezes que teriamos que nos mudar para mais perto do campus da universidade, para eu não precisar morar com pessoas desconhecidas, e também, que queria um lugar maior. A ideia é genial.

-Bom... eu vou parar com os remédios, vou começar pelo alprazolam.-Seus olhos brilham e imediatamente mostra um sorriso. Deve estar pensando em como a sua vida tem melhorado, mas eu ainda não acabei.-E estou indo na casa da Callie nessa tarde.

Silêncio, sua expressão muda. Dou de ombros, sem demonstrar nada além de decisão, preciso parecer confiante. É só... a porra de uma casa abandonada... é só uma cena de crime.

-Mas... por que? Ela pode vir até aqui, ou vocês podem sair para algum lugar juntos...

Respiro fundo.

-Mãe. Está tudo bem.

Tenho a impressão de que todas as sensações ruins que tinha dias atrás voltaram tudo de uma vez só, e está tentando não parecer estar em choque.
Peço licença e volto para subir as escadas com um sorriso, que vai embora no meio do caminho. Eu preciso ficar frente a frente com o meu passado e dizer, com clareza, que não tenho medo dele.

*

O meu trajeto foi totalmente composto por frio na barriga e tensão. O clima, chuvoso, decidiu controbuir com a minha tortura e deixar o caminho ainda mais longo. Me arrependo amargamente de não ter pego um táxi ou uma carona com a minha mãe.

Desço do carro, que recentemente tem feito um barulho estranho, após parar na frente da casa de Callie e logo posso sentir os pingos inofensivos de uma chuva prestes a ir embora. Perco a minha breve luta contra olhar para a casa ao lado. A entrada ainda está cercada por uma fita amarela, porém, eu aposto que há dias que ninguém entra lá. A nova proprietária, minha mãe, está impossibilitada de entrar lá enquanto as investigações não forem totalmente concluídas, mas não faz diferença, ela não dá a mínima e não conta com nada do que lhe foi deixado por alguém que lhe usou para não parecer suspeito.
Sigo diretamente para a entrada da casa decadente de Callie, porém, algo me impede no meio do caminho. Minhas pernas simplesmente não me obedecem.
Viro-me para o lado. Eu preciso ir até lá, pelo menos para pisar na grama. Eu quero ter uma sensação real, e claro, encarar a verdade, pois sou capaz disso.

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora