-Eu acho que nunca estive tão confuso, desde quando descobri que estava me apaixonando por ele... eu penso tanta coisa, que a minha mente não é capaz de administrar e eu acabo tendo crises de ansiedade tão graves que me fazem vomitar... as vezes, eu nem sei mais quem eu sou, pois durante a parte mais importante do desenvolvimento da minha vida, eu estive pensando nele, o tempo todo. Então, tudo meio que passou a ser baseado em me imaginar ao seu lado, ou não me imaginar... ele sempre estava lá, em todo tipo de pensamento que eu tinha... ele sempre estava, bom, ainda está... mas não da mesma forma.-Respiro fundo.-Eu ainda não tenho certeza, mas quando está longe... este é o momento que me sinto melhor. E ainda assim, não consigo parar de pensar se está precisando de mim, ou com algum problema...
Despejo todas essas informações, como um quebra cabeça para a Dra. Susan administrar. Para o meu alívio, ela aparentemente adora quando isso acontece. Eu sempre deixo esse lugar com um peso a menos nas costas, por poder contar tudo o que estou sentindo... mesmo que as vezes nem faça ideia do que é.
-Você me disse que não o vê há alguns dias, certo?-Assinto imediatamente.
Não o vejo desde o dia da famigerada entrevista. Naquela noite, eu tomei um calmante, proibí Callie de tocar no assunto e encontramos com Oliver um pouco mais tarde. Deitamos na grama do campus e ele me fez rir. O meu riso durava um segundo, pois de tempo em tempo, eu checava o meu celular, a espera de uma notícia ruim. Até que a bateria acabou e eu tomei outro calmante.
Estive em casa durante os últimos três dias e simplesmente larguei o Henri sozinho no hotel. Eu não tinha mais nem um pouco de disposição emocional para retornar lá e vê-lo pensar na forma mais criativa de acabar com si mesmo.
Pelo que eu fiquei sabendo, a maldita entrevista não durou nem cinco minutos. Nelly me disse ontem que ele saiu pelos bastidores perguntando onde eu estava. Eu estava tentando sobreviver.-Eu não sei o que é amor... se for toda essa coisa que eu sinto pelo Henri, todo mundo mentiu para mim. É, na verdade, terrível.
-Você já parou para analisar que poderia não amar o Henri, e sim a ideia da pessoa dele? de, supostamente a única pessoa que olhou para você após a fatalidade com o seu ex namorado, mesmo que de maneira inusitada?-Diz.-O Henri era protetor, mas agressivo e instável, e por você estar vulnerável, o fez acreditar que aquilo estava justo e era mais do que suficiente... ele te "ajudou", e também precisava de ajuda, mas não aceitava isso, o que só intensificou o seu interesse.
Cada uma de suas palavras parecem tapas na minha cara. Assinto quando termina de dizer, sabendo que vem mais por aí.
-Ele mudou... sinto que não o conheço mais...-Digo, mudando o foco mas não saindo do contexto.
-Ele não mudou, Kody... você apenas conheceu o lado que nunca soube que existia no Henri, a vulnerabilidade.-A doutora Susan me força a abrir os olhos.
*
Deixei a sala do prédio onde fica o consultório como sempre deixo, com passos curtos e cumprimentando a todos que encontro pelo caminho. Porém, quando saí pela porta do saguão, dando de cara com a rua, corri para o meu carro e comecei a tremer. Mal consegui enfiar a chave na ignição, e quando o fiz, procurei respirar fundo para evitar um possível acidente.
Eu preciso ir ver o Henri, pela primeira vez em dias, não pela última, nunca pela última... talvez eu não tenha ido antes por estar com medo de não saber lidar com o estado em que está, mas ao perceber, percebo também que isso seria covardia da minha parte.
Demorei para perceber que o verdadeiro motivo de, as vezes, eu achar que não estou suportando-o, é que nunca imaginei que teria alguma semelhança comigo. Eu me apaixonei pelo Henri imbatível e equilibrado, algo que eu não sou, e possivelmente nunca serei. Conhecendo-o melhor, descobri que se ele não tem tais características, ninguém mais tem. Me senti enganado. Ele tem traumas, e não sabe lidar com eles, tem pesadelos a noite, e por mais que nunca admita, sente medo. E eu, infelizmente vi tudo isso como inaceitável.
Continuo amando-o, porém, perdi muitos outros sentimentos que tinha por ele.Ainda tenho o cartão-chave para acessar o quarto do hotel, penso um milhão de vezes antes de usá-lo para abrir a porta. Todos os milhões de pensamentos me dizem, em consenso, para fazer.
Não sei nem como cheguei até aqui em cima, então desligo o meu modo automático com um longo suspiro.A porta se abre, e o que ouço são barulhos de tiros. Ensurdecedor.
Atordoado, entro e fecho a porta atrás de mim. Eu nem sabia que tinham a porra de um PlayStation 5 aqui. Não demonstra reação quando entro, sequer vira para ver. É possível que nem tenha ouvido, além do barulho, está muito concentrado no massacre que faz dentro do jogo.
Veste um roupão e está com a barba por fazer. Preocupante.
E mais preocupante ainda que continue me ignorando mesmo depois de eu passar na frente da TV, a sua expressão sequer muda.Se eu já tivesse atingido um certo nível de insanidade, eu simplesmente puxaria os cabos e desligaria tudo para ter uma conversa, pois esse barulho é agonizante.
-Podemos conversar?!-Tento falar alto, mas nem eu mesmo posso me ouvir. Me ignora. Caminho até a frente da TV, o que faz é esticar o pescoço para ver atrás de mim.-Esse barulho tá me deixando maluco.
-Sai da minha frente!-Diz.
Apanho o controle da TV na mesinha de centro e aperto o botão de abaixar o volume. Ouço um zunindo na minha cabeça, ainda tentando raciocinar.
-O que é que tá acontecendo?!-Questiono, agora que pode me ouvir, saindo da sua frente.
Pensa antes de responder, aparentemente concentrado no jogo.
-Sou eu quem deveria te perguntar isso.-Aperta os botões do controle cada vez mais forte.-Se eu me importasse...
Assinto, sabendo que não estou certo por tê-lo deixado sem notícia nenhuma por todos esses dias. Eu também estaria puto, no seu lugar. No meu, estou mais tranquilo pois sei que precisava fazer isso.
-Henri...-Digo.-Eu te amo.
Também sei que não estou mentindo, mas as minhas palavras pesam... pesam por eu estar começando a esquecer de como continuar amando-o. Ele, nem liga.
-Aumenta a porra do volume.
-Não! eu estou falando com você-Continua me ignorando e apertando os botões com tanta força que duvido que continue funcionando por muito tempo.-Olha para mim!-Exclamo.
Exatamente um segundo depois, joga o controle contra a TV, quebrando-a. Entretanto, o barulho do jogo, agora baixo, continua.
Apoia os seus cotovelos nos joelhos e tenta se controlar.-Você foi embora! porque voltou?!-Questiona.-É difícil ficar com um cara que matou o próprio pai, não é?! tenta pelo menos admitir!
Eu diria que nós matamos o seu pai, e que, fizemos um favor para a sociedade, mesmo que não sendo da melhor forma possível, mas não caíria bem agora. Henri não quer ser consolado, ele só quer jogar algumas coisas na minha cara.
-Eu... eu continuaria te amando mesmo se você me matasse.-Digo, com uma certa dor no peito.-E isso dói pra caramba... porque é sempre sobre você, as vezes até esqueço de mim...
Levanta-se de vez, a princípio, penso que não quer me ouvir, mas não é bem por aí.
Abaixa-se na frente da TV e pega o controle do PS5 no chão.-Eu comprei essa porra com a grana da e entrevista.-Diz, mudando radicalmente de assunto.-Queimei o resto do dinheiro.
Ao correr o meu olhar pelo quarto, vejo uma lata de lixo com cinzas dentro em um canto.
-...por que?-Questiono.
Demora alguns minutos para responder, ainda parado à poucos centímetros de mim.
-Eu não tinha... merda de plano nenhum sem você aqui.
Quando o diz, a impressão que tenho é de que nunca o vi ser tão sincero. O que sinto, de imediato, é um nó na garganta. Culpa.
-Tudo bem...-Digo, indo até ele antes de dar meia volta e supor que eu não tô nem aí. Meus lábios tocam os seus, e então o abraço. Me agarra forte.
Eu sou tudo o que ele tem.
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Frenesi
RomanceSEQUÊNCIA DE "BULLYING". "Eu não posso esquecer de quem eu sou... Onde você está? Por que não volta para mim, para então podermos resolver toda essa bagunça? E se... eu acabar me interessando por outra pessoa? (...) para o nosso bem, eu não posso es...