Capítulo 18 - Ábdito

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Nas últimas noites, tive insônia resultada pela ansiedade, uma imensa vontade de agir e mudar tudo sozinho... mas isso é impossível.
Eu pensei que Karen mudaria de idéia no momento em que abrisse aquele diário, mas acho que nem isso ela chegou a fazer.
Foram três noites adormecendo além do horário recomendado, e com Oliver do outro lado da linha.
Bom, eu sei que a Doutora disse que eu poderia ligar para ela a qualquer momento que notasse qualquer irregularidade na minha saúde mental e idéias (o que nesse caso seria o tempo todo), mas sinceramente, se eu fosse ela, iria ficar muito puto por ter que acordar no meio da madrugada para ouvir os dilemas de um adolescente.

Eu respondi uma mensagem que Oliver tinha me mandado muito mais cedo, e surpreendentemente, estava acordado, disse que tinha terminado de digitar algumas páginas de um relatório para um relatório da faculdade. Eu achei que seria uma boa idéia ligar de repente, e o fiz. Três vezes seguidas. Não notei incomodo da sua parte, mas eu não quero que isso vire um hábito. Eu não quero depender de alguém, mesmo sendo muito cedo ainda para pensar em considerar isso.
Mas... sei lá, ele parece ter uma resposta para todos os meus problemas... pelo menos os que exponho para ele, por volta de vinte porcento.
Tenho plena noção de que a atenção que me dá é totalmente por conta da falta que sente de Seth, e da ligação que eu supostamente tinha com ele. Não sinto que Oliver realmente se importa com os problemas que lhe conto, ele só quer evitar uma possível culpa caso algo aconteça comigo. Não importa, vou continuar fazendo vistas grossas sobre isso.

-Acampar? no meio da noite e do nada?-Questiona, ao ouvir o meu plano disfarçado de idéia totalmente sem noção.-Tô dentro!

Antes de qualquer coisa, não consegui arrancar informação nenhuma de Karen. Passei horas no meu computador, usando o google maps para procurar, em toda a região que ficasse próximo a pistas, um galpão num terreno que parecesse o mais abandonado possível. E eu o encontrei. Fica a menos de uma hora daqui e tem uma área de camping não muito frequentada por perto.

Callie me deu a idéia, fiquei de convidar Nelly e Oliver para uma suposta trilha com direito a acampamento, já que a minha mãe jamais me deixaria sair sozinho ou com Callie para dormir no meio de uma floresta. Foi só citar meus novos "amigos" que tudo mudou. Me disse para ficar longe da fogueira.
Iremos nós quatro. Dessa forma, poderei dar uma escapadinha no meio da noite para ir dar uma olhada no lugar. Eu ainda preciso de uma certeza, e Karen também. Assim, terei a sua ajuda.

*

-Se arrependimento matasse...-Reclama Callie, tirando seus fones de ouvido, no momento em que descemos do carro. Está prestes a anoitecer. Eu demorei de propósito para ganhar tempo, tive que inventar uma mentirinha do bem, insinuando não estar muito bem mais cedo.

Há mosquitos por toda parte, somos as únicas pessoas na área de camping; totalmente compreensível, o lugar é uma merda. Podemos até ouvir o barulho dos carros passar na pista, que fica bem próxima, o que só seria útil num caso do ataque de um serial killer.
Achamos que vir num único carro seria mais vantajoso, então terei que poupar as minhas pernas para procurar o lugar a pé quando todos estiverem dormindo. Segundo o mapa, fica a quase um quilômetro da clareira.

-Vou procurar um lugar para dar um mergulho.-Oliver parece ser o único que está gostando do passeio. Após esvaziar o porta-malas, tira a sua camiseta, indo em direção as árvores. Seu espírito aventureiro me conta que não há chances dele se perder ou ser atacado por algum animal venenoso. E bem... o seu físico me faz ficar olhando por alguns segundos a mais.

Quando volto a realidade, noto que o olhar de Nelly havia seguido o meu. Fico envergonhado. Ela aparentava estar dormindo durante todo o trajeto, o que me surpreende, pois geralmente ela é uma maquina. Agora parece mais entediada do que disposta, mas ainda assim uma máquina, carregando um cooler cheio de cerveja sozinha.

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora