Capítulo 36 - Nós

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Ficar sozinho me pareceu a melhor opção. Se os meus pensamentos me sufocarem, eles me matarão de qualquer forma.
Desliguei o meu celular e dirigi até o velho cinema, no qual eu costumava trabalhar... e vir com Seth antes de toda essa bagunça. Não está aberto, quer dizer, não estava. Mas eu ainda tinha a cópia da chave no porta-luvas do meu carro. Pensei que ninguém pudesse me encontrar aqui, assim, ficarei em "paz" e sem precisar explicar para ninguém o motivo das minhas lágrimas. Eu não quero falar sobre isso. Não quero falar sobre nada.
Na sala escura, a grande tela exibe qualquer filme trash de terror. Eu, me acabo em lágrimas, como quem assiste a um romance daqueles com um final trágico. Sozinho no meio das dezenas de cadeiras vazias.

Vez ou outra, me vejo de uma maneira totalmente diferente da qual me encontro; entendiado, porém muito feliz, ao lado de Seth, nesse mesmo lugar. As minhas preocupações consistiam em como reagir, caso decidisse "ir além", ou em qual seria a próxima vez em que nos veríamos, por exemplo. E por mais que eu não sentisse que iríamos ficar juntos para sempre, eu apreciava a sua cumplicidade e desejava que fossemos amigos até o fim. Já nem sei mais o que isso significa.
Sinto falta de muitos momentos, mas o principal, era quando Henri era só um problema, e não um milhão.
O que é um soco comparado a uma responsabilidade? uma prisão sem escapatória nenhuma? um relacionamento abusivo?

O filme termina, a sala se torna ainda mais escura. É hora de lavar o rosto e ir embora como se nada tivesse acontecido... como se eu não estivesse querendo desaparecer e nunca mais ver ninguém.
Não tenho que me preocupar com as câmeras de segurança, são só enfeite, e quanto ao filme que rodou "sem ninguém" na sessão, a minha ex colega de trabalho precisa mesmo ficar mais atenta.

Inclino-me em frente a pia do banheiro, e levo a água de encontro ao meu rosto. Eu não sei em que isso ajuda, só o faço durante alguns minutos.
Alcanço a toalha de rosto e a levo até a minha cara, me erguendo.
Quando termino de enxugar e abro os meus olhos, Henri me surpreende mais uma vez. O vejo pelo espelho, está bem atrás de mim, encostado na porta e de braços cruzados. Parece contrariado, se tivesse vindo antes, me encontraria assim também.

Ignoro-o, devolvendo a toalha ao gancho.

-O que porra você estava pensando?! eu estou te procurando há quase duas horas, passei em todos os lugares nos quais você poderia estar!-Reclama, ainda parado lá. Continuo em silêncio.-Me responde!

-Eu estava pensando em desaparecer.-Digo.

Dou meia volta para tentar sair daqui e ir embora, mas toma frente da porta.

-Por que parece que você não tá dando a mínima?!-Diz, não se esforçando para fingir que a sua paciência não chegou ao fim.-Eu finalmente tô superando isso, olha, eu até peguei um carro do maldito do meu pai em uma das garagens dele! e você me parabeniza... virando as costas para mim?!

Custo a acreditar no argumento que usa. Isso não significa que está superando coisa nenhuma, e sim, que estava desesperado para conseguir mais atenção do que já iria receber. Amanhã, as notícias que estamparão os noticiários serão "Henri West usufrui de fortuna do seu pai, o serial killer morto pelo próprio" aí ele ficará puto e dirá que pelo menos fez isso por mim.

-Você não está superando coisa nenhuma...

Quando o digo, sinto que vai me dar um soco. Chega a erguer a sua mão, mas o que faz é apontar o seu dedo para mim.

-O que é que tá acontecendo com você, caralho?!-Ri de nervoso, e então continua.-Em um momento está tudo bem, e no outro parece que eu tô te matando aos poucos!

-Eu não quero... não quero carregar a culpa pelas consequências das suas atitudes para sempre.

Silêncio. Permaneço parado na sua frente, esperando que diga o que tem a dizer para me deixar ir embora. Esse definitivamente não é o momento para ter uma conversa decisiva.

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora