Capítulo 17 - Mudança

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-Eu me sinto bem. Na verdade, eu não me sinto assim há dias. Eu não sei se daqui a uma hora vou continuar assim, mas eu definitivamente me sinto bem.-Conto para a Doutora, que sequer tocou na sua caneta hoje. Ela está atenta a cada palavra que digo, parece interessada como sempre, mas não está anotando nada, o que me deixa mais seguro para me abrir (até um certo limite).

Eu não menti. Quando o toquei ontem, foi como se as minhas energias tivessem se renovado imediatamente. Por saber que está "inteiro" e amenizar o meu sentimento de culpa. Voltei para casa chorando, ainda tentando digerir toda a situação e alimentando as minhas expectativas. Mas quando deitei para dormir mais tarde, meus sentimentos tornaram-se otimistas. Ele não tá puto comigo, e por mais que eu não tenha certeza se confia em mim ou não, existem possibilidade de voltarmos... de termos um relacionamento normal. Quando tudo estiver resolvido, quero que tenha uma longa conversa com a Dra. Susan. Eu sei que é errado, mas vou tentar dar um jeito de ouvir tudo escondido.

Tenho medo de fracassar, mas ainda assim, estou otimista. Até sorri hoje de manhã.

-Muito bom. Continue repetindo isso para si mesmo sempre que tiver a oportunidade.-Simula um aplauso.

Assinto, oscilando entre um sorriso e uma provável expressão de preocupação. É exatamente como me sinto. A Dra. Continua afirmando que sou suficiente, que tenho feito o suficiente, e eu só consigo pensar no que fazer para ter momentos como a noite passada para sempre.

*

Antes de sair de casa, enviei uma mensagem de texto convidando Callie para ir até a casa de Karen comigo. Quando passei, já estava mais do que pronta na frente de casa.
Porém, quando lhe contei o motivo, já no carro, teve um mini surto, como minha mãe faria. "Onde foi que eu errei?!" disse. Lhe contei um breve resumo do conteúdo do diário, o que a fez mudar de ideia imediatamente. O que mais gosto em Callie é a sua versatilidade. É claro que não comentei sobre ter encontrado Henri recentemente, e nem pretendo... não tão cedo.

-Se ela pedir pra fumar um, o que eu falo?-Pergunta Callie, assim que descemos do carro, como se fosse uma situação difícil de se desenrolar. Dou de ombros, tendo em mãos o diário dentro de um envelope de papel daqueles onde guardamos documentos importantes.

-Acho que ela quer ter um filho normal, por mais que não tenha planos de ficar com ele.

Não me lembro de já ter vindo até aqui antes. A casa de Karen é simples, a última de uma rua. Tem um jardim colorido na frente e mini quadros com frases positivas do lado de fora. Eu não esperava isso. Toco a campainha, esperando que esteja em casa, pois não avisei que viria.

A porta não demora para ser aberta, e quando é, não ouço nada vindo de dentro. Mas não é Karen quem a abre. É a Lizzie... faz tanto tempo que não nos vemos, ela está até um pouco diferente. Tem uma chave de carro em mãos, o que me faz achar que está de saída. Ela não é uma pessoa muito expressiva, sempre tá com cara de mocinha de filme de drama, e dessa vez não é diferente. Eu nem consigo saber se ela me odeia, por isso as minhas palavras demoram para sair.

-Oi, Lizzie! tudo bom? olha... eu adoraria colocar os papos em dia, se bem que nunca tivemos um diálogo antes...-Callie toma a minha frente, ainda não entendo o que está tentando fazer, mas agradeço silenciosamente por estar me dando tempo de pensar.-Mas estamos procurando por alguém um pouco mais barriguda e revoltada.

Abre a porta por completo, com a mesma cara de antes.

-Tudo bem... a Karen está lá em cima.

Entramos sem mais delongas. Nunca vi tantas flores numa casa só. A estrutura do lugar é composta por madeira branca, flores e carpete felpudo. O cheiro de biscoito no ar faz Callie farejar como um cachorro.

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora