Capítulo 19 - Ábdito (Parte 2)

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-E agora?!-Sussurro para Callie. Ainda está em choque pelo que viu, mas não parece desperada como eu. Pode estar achando que estou equivocado, e eu sinceramente espero estar.

-Vocês estão aí dentro?-Para a minha surpresa (ou nem tanto), ouço a voz de Nelly lá fora.

Até onde sei, ela ficou dormindo chapada dentro de uma barraca fechada por ziper, mas como é muito boa em fingir, pode ter nos seguido disfarçadamente até aqui. Imagino o que mais ela pode fingir que não sabe.

Eu e Callie saímos, já que não adiantaria nos escondermos aqui dentro. Do jeito que é, invadiria para ver se vale uma foto para o instagram ou para algum trabalho da sua faculdade de jornalismo, o que tenho total certeza de que aconteceria.

-A gente tava se pegando, o Kody é bi.-Diz Callie. Faço uma cara de nojo involuntária, Nelly, que não é nada boba, já tem sua lanterna apontada para a minha cara.

Ri como se tivesse ouvido a piada do ano. Seu riso me causa um pouco de desespero, parece perfeitamente recuperada do seu estado de sob efeito de substâncias ilícitas. Eu só espero, com muita fé, que Oliver ainda esteja dormindo.

-Vocês sabem que podem confiar em mim! nem toda jornalista é fofoqueira.-Gira sua lanterna que mais parece a luz do sol no ar.

Não conheço Nelly por tempo o suficiente para saber se é confiável ou não, então pode ser que eu esteja prestes a dar um tiro no escuro. Está interessada em saber, e isso tá escrito na sua cara de entusiasmada.
Vejo por outro lado, ela é estagiária numa grande empresa de telecomunicação, e com certeza precisaremos da mídia para dar toda visibilidade ao caso, quando exposto, e o mais rápido possível. Não é a maior ajuda do mundo, mas já é alguma coisa. Temo por talvez estar vendo vantagem de mais onde não tem.

-Longa história...-Digo, tentando parecer tranquilo.

-Ótimo, temos toda a madrugada.

Callie aponta para a porta de ferro atrás de nós, prestes a dar uma informação:

-Tem um cadáver num barril alí dentro.

Instantâneamente, o sorriso de Nelly vai embora, mas o seu interesse continua. Um pouco maior do que antes.

*

-Uau.-É o que diz quando Callie lhe conta, com poucos detalhes, toda a história entre mim e Henri. Conta o que sabe, como o resumo de um filme favorito, empenhada igualmente. Do bullying, à investigação por conta própria de um suposto assassino em série. Durante isso, eu tentava dar um jeito na corrente que quebrou, mas pude notar que Nelly mal piscava ouvindo tudo.-Você namorou o cara mais procurado do estado?!

-Não chegamos a namorar.-Explico.

A sua reação é de quem encontrou ouro, em forma de informações jornalísticas. Que péssima idéia eu tive.

-Ele é tipo... O Henri West! O garoto que surtou e empurrou o pai da escada, literalmente uma pérola para nós, jornalistas. Ele tem feito a carreira de muitas pessoas recém formadas com as suas enventuais aparições em câmeras de segurança.-Seu discurso me incomoda, mas ainda não deixo transparecer. Tenho que agir com calma agora, tudo o que quer é uma reação minha, e eu não pretendo entregar tão rápido.-Espera aí... ele já tentou te matar?

Bom, já não consigo mais esconder a indignação na minha cara por conta da sua pergunta sem noção.

-Ah, sim...-Responde Callie, sem ao menos pensar antes. Viro-me para ela imediatamente.

-O que?! Não!-Exclamo.-De jeito nenhum.

Nelly cruza os braços.

-Você acabou de confirmar que ele te estrangulou contra a parede uma vez...

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora