Capítulo 35 - Culpa

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Durante o resto da semana, pude em fim raciocinar brevemente e por uma pequena parte das coisas em ordem.
Henri está mais tranquilo, com excessão apenas de ainda odiar a idéia do tratamento psicológico. Eu, vendo ele como está ultimamente, se não o conhecesse, díria que está totalmente equilibrado mentalmente... ele finge muito bem.
Continuo ficando com ele no hotel, porém, indo em casa todos os dias, já que a minha mãe já estava mais do que preocupada. Percebi o quão desatualizado eu estava quando descobri que tem um novo pretendente, é um novo colega de trabalho que recentemente se divorciou. Eu nem cheguei a achar estranho quando me disse que contratou um detetive particular para investigar a vida do cara, e bom... ele não é um Serial Killer abusivo. Ainda não cheguei a conhecê-lo. A minha irmã também está bem, e bem contente por sinal, e arrisco a dizer que ficou assim depois que descobriu que não será mais a criança da família por uma de nossas futuras meias irmãs ser mais nova. O clima em casa está mais agradável do que nunca, e eu faço de tudo para não estragar isso, mantendo os meus dilemas da porta do quarto do hotel para dentro.
Também fiquei sabendo sobre Karen, através de Callie que é bem mais envolvida do que eu. Ela decidiu ficar com o bebê, e eu sinceramente espero que sejam felizes. Não tivemos mais nenhum tipo de contato desde a última vez, quando estive na sua casa para recuperar o diário.

Falando no diário... é lamentável que esteja prestes a se transformar em um livro, uma espécie de biografia não autorizada sobre a mãe do Henri, e tudo isso por culpa do primo irritante da Nelly. Segundo ela, ele meio que vendeu o diário como se pertencesse a ele. Henri não se importou muito quando soube, a sua reação foi dar mais alguns socos no saco de pancada que deu um jeito de colocar no meio do quarto. Eu, por minha vez, decidi evitar mais conflitos.

O toque do meu celular me faz sair do transe em que me encontro. Na mesa, em frente a um copão de café, em plena manhã de sábado, enquanto olho para o nada. O número desconhecido quase me faz recusar, mas por via das dúvidas, decido ao menos levar o aparelho ao meu ouvido.

-Oi, sou eu. Tá podendo falar?-Imediamente, reconheço a voz de Oliver. Pelo visto, decidiu desistir do seu período sem tecnologia. Me sinto como alguém que acaba de receber uma boa notícia.

-Eu? quem?-Questiono, como se pudesse estar confuso, com um sorriso bobo no rosto. Entretanto, um breve barulho do outro lado do quarto faz o meu sorriso ir embora; achei que Henri estivesse se aproximando, mas não está... a não ser que esteja escondido atrás da divisória, o que acho improvável.

-Peraí, quantos caras tem a minha voz?-Pergunta.-Tipo, eu até que me achava atraente, mas depois dessa...

Por mais previsíveis que as suas piadinhas sejam, o meu riso sempre retorna, e por um instante, o peso que carrego nas minhas costas parece mais leve.

-Você não liga tão cedo num sábado, o que aconteceu, ou vai acontecer?-Digo, levantando-me da cadeira onde estou sentando e dirigindo-me até a bancada.

-Tá pensando em visitar o campus, ou simplesmente eu? A gente podia se ver mais tarde. A Callie disse que você tá mais desocupado do que nunca...

Largo o meu copo na pia.

-Peraí, você falou com a Callie antes de mim?!-Provoco.-Eu tô impressionado com tamanha consideração...

Ouço-o rir.

-Eu precisava dos números do cartão de crédito da Nelly, e por algum motivo, a sua amiga os sabia de cor.

Dou de ombros.

-Bom... a minha amiga é uma garota formidável.

Ouço-o contar sobre como Nelly está sumida e ocupada, não responde mensagens e nem atende ligações. Se eu fosse ela, agradeceria ao Serial Killer morto, por mais filho da puta que ele seja, foi responsável pela sua carreira. Conta também sobre quando tropeçou na borda de um barco, e acabou perdendo a suas calças com todos os seus cartões, carteira de motorista e documentos nos bolsos. E a pior parte é que, tendo viajado com ele uma vez, eu tenho total certeza de que isso é tudo verdade.

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora