Tenho pensado sobre a breve conversa que tivemos ontem, durante o serviço de quarto. Saímos pela saída de funcionários para então chegar ao estacionamento do hotel e cair fora por algumas horas. Henri não queria ir.
E acabou que fomos parar no lugar de sempre. No banco onde podemos ver de uma altura considerável, grande parte da cidade lá em baixo.
E foi só sentar-se no banco, que ele começou a dizer, minutos após chegarmos.-Vou dar essa maldita entrevista.
Eu, que observava os telhados lá em baixo, virei-me imediatamente para ele. Fui pêgo de surpresa, mudou de opinião tão rápido que me fez começar a pensar que já estava considerando fazer isso antes. Estar sendo transmitido na TV ao vivo para um monte de gente e respondendo todo tipo de pergunta. Eu li os termos do contrato, e até sobre polígrafo eles falaram.
-O... que?-Questionei.
-Foda-se, precisamos do dinheiro para ir embora dessa merda de lugar.-Disse, parecendo decidido a fazer o sacrifício. Se eu tocasse no assunto horas atrás, ele surtaria.-Eu não tenho dificuldade para falar sobre o assunto como todo mundo pensa, eu tô cagando pra isso.
-Você não precisa se expor dessa forma...
-Fica tranquilo, é por nós.
E foi então que eu percebi que nada que eu dissesse poderia mudar a sua decisão. Normalmente, a sua atitude me emocionaria, mas no momento, eu só consigo me culpar mais um pouco, só por não conseguir evitar tudo isso.
Eu tenho medo da sua reação quando a pressão subir e as perguntas começarem a ficar cada vez mais indiscretas...Alguns minutos de silêncio.
-Pensa direito... por favor.-Eu disse.
Assentiu, na segunda vez em que pedi para pensar melhor. Não senti alívio. Não senti alegria. Mas uma dor no coração... por já não saber mais quais são os meus planos, com ele.
Na verdade, a ideia de fugir ao seu lado me deu uma crise de ansiedade fodida mais tarde.E só isso.
*
Eu e Oliver finalmente nos encontramos. Eu estava com saudades, mas era uma saudade normal, e não a obsessão que eu tenho pelo Henri... ou tinha... ainda não consigo decidir nada. Só sei que estou do outro lado da cidade, e ainda assim sem conseguir parar de pensar se vai ficar bem até eu voltar.
-Eu pensei em te convidar para uma outra viagem, mas você sumiu e eu pensei que tivesse odiado a última.-Diz, logo depois da troca dos ois.
Estamos nas mesas da parte externa da cafeteria do campus, e eu constantemente olho para os lados, por precaução no caso de surgir algum grupo de repórteres desocupados.
-De jeito nenhum.-Digo, mexendo a cabeça negativamente.-Eu estava um pouco ocupado...-Suspiro.-Como você deve saber.
Pensa. Se esforça mais um pouco. E então, parece lembrar de algo que viu na TV, e que o meu namorado tinha sido preso. Deve ser tão bom conseguir viver longe de noticiários e redes sociais, mesmo a sua namorada sendo uma fofoqueira de plantão, ainda assim parece só dar atenção ao que é da sua conta. Não consigo decidir se é isso o que deixa Oliver mais interessante ou alguma das suas outras milhares de qualidades.
-Ah. Legal.-Diz.-Como é que você tá?
Péssimo, angustiado, triste, cansado, abatido, vulnerável, esgotado, indisposto... as minhas repostas são tantas, que decido lhe poupar de todas elas.
-Bem.
Desco o meu olhar até a minha água com gás sobre a mesa.
-De jeito nenhum.-Levanta-se da cadeira para gesticular, o que já fez algumas vezes nos poucos minutos em que estamos aqui, como se estivesse dando uma aula.-Conta aí, quero te dar um conselho ruim e depois ter que dar outro porque os primeiros sempre são péssimos.
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Frenesi
RomanceSEQUÊNCIA DE "BULLYING". "Eu não posso esquecer de quem eu sou... Onde você está? Por que não volta para mim, para então podermos resolver toda essa bagunça? E se... eu acabar me interessando por outra pessoa? (...) para o nosso bem, eu não posso es...