Capítulo 10 - Êxtase

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Não restou mais nada na antiga casa, que a propósito já está a venda. A nova; uma bagunça, por enquanto. Organizei o que pude no meu quarto, tenho feito isso desde ontem. Dormimos aqui e a noite foi tranquila, eu até consegui dormir de verdade.
Sobre o diário, eu estive numa constante briga contra a minha própria memória para tentar lembrar se larguei em algum lugar, mas ao que tudo indica, perdi, literalmente.

Decidi que vou ao outro lado da cidade buscar Callie, sendo que posso literalmente ir para a tal festa andando. Eu sei lá... não é a mesma coisa quando não estou me preocupando com ela e tentando descobrir onde se meteu, e teve todo o empenho de contratar alguém pra tomar conta da vovó (a pessoa provavelmente cobrará a mais) que senti que devo isso a ela.
Porém, prometi que só sairia de casa quando resolvesse algumas pendências que estivessem ao meu alcance, como ajudar a minha irmã a entender Bhaskara, o que exige mais do que 100% da minha capacidade intelectual, já que ela não consegue ouvir e teve dificuldades para se adaptar ao aparelho auditivo.

Minha mãe, continua achando genial a ideia de eu estar indo em festas, só falta dizer que isso evitará que eu fique doido de vez... mal sabe ela.

Eu quero conversar com Oliver mais algumas vezes, antes de qualquer julgamento, preciso entender as suas reais intenções, e se tiver a ver com lamentar sobre uma morte que me causa gatilho, eu desistirei.
Me sinto idiota por chegar a achar que me atraio por ele, tipo, ele é claramente hétero. O meu nível de carência está tão desesperador assim? ele só me ligou algumas vezes!

*

Faz cinco minutos que estamos parados numa vaga de carro bem próxima a casa de Nelly. Callie está revirando sua bolsa, e não faço idéia do que está procurando com tanto desejo. Encontra duas camisinhas e as enfia no bolso. Posso notar coisas fora de contexto, como pilhas, um pente, uma faca de cozinha... Uma caixa de ansiolítico? essa é nova para mim. Achei que ela preferiria se medicar com outra substância.

-Cansou dos naturais?-Questiono, removendo o meu cinto de segurança. Ela continua na sua busca incessante.

-Ah, você sabe como é... só o necessário.

Não estou muito agitado hoje, por isso a paciência, até de mais por sinal. Literalmente revira a sua bolsa de cabeça para baixo, derrubando tudo no banco.

-Tem certeza de que o que está procurando tá aí dentro?-Digo.

-Finalmente!-Ergue uma quantidade considerável de maconha, imediatamente a guardando no bolso. Sei que a minha expressão muda, achei que ela já não usasse tanto.-Qual é?! tenho que me aproximar desse pessoal. E além disso, nem trouxemos bebidas, vamos contribuir!

Abro a porta e desco do carro.

-Contribui sozinha.-Afirmo. Bom, uma vez eu tive a brilhante idéia de fumar, por conta de sua influência e do meu desespero, graças a minha ansiedade. No começo me senti bem, mas eu sei que comecei a agir estranho, posso me lembrar vagamente. E então apaguei, acordei depois de quase dezoito horas, foi motivos o suficiente para não tentar nunca mais, além de eu detestar fumaça.

-Se comporta, hein?-Ironiza, enquanto atravessamos o jardim em direção a porta para entrar.

A sensação de não ver rostos conhecidos nunca fora tão satisfatória para mim antes, só assim me sinto confortável, por incrível que pareça.
A música alta não me incomoda como deveria, só me faz sentir o meu coração bater. Atravessamos o pessoal espalhado na sala, Callie segue até os fundos como se já tivesse vindo aqui antes, mas tenho certeza de que não. Acho que sei onde quer chegar. Num corredor que dá para os fundos, há uma escada que, pelo que vai por fora e com a minha minina experiência em programas de arquitetura, só pode dar num terraço, e bom, estou certo.
Aqui em cima, mais silencioso, pouco, mas ainda assim mais. Há um grande sofá daqueles grudados a parede e um balcão cheio de garrafas de bebida. É um lugar para festas. Sem me esforçar muito, posso encontrar Nelly conversando com algumas garotas encostrada ao parapeito da varanda. Oliver também está por aqui, mas está com seus amigos, nem me passa pela cabeça me aproximar.

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora