Capítulo 26 - Amor

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-Um diário? Sério mesmo?! Você me tirou do meu escritório numa manhã de terça feira por um diário que pode ter sido escrito por qualquer um?!

Bom, acho que já posso começar ressaltando que o primo riquinho e bem vestido de Nelly não aprovou muito o pouco que temos para usar como evidência.
Como não dormi a noite, pude vir correndo ao campus de manhã para encontrar com Nelly e literalmente implorar para ela pedir para o advogado insuportável de Henri furar sua agenda concorrida a comparecer por alguns minutos.
É evidente que ele não tá nem aí para o caso. Está o tempo todo olhando para o seu relógio inteligente, com seu cabelo bem penteado e camisa pólo de cor rosa.

-É melhor do que nada, não é?-Questiona Nelly, aparentemente emepenhada. Ela não hesitou antes de vir me encontrar na área arborizada que mais parece um parque.

Ele nega com a cabeça, prestes a dizer pela décima vez que está perdendo tempo.

-Se eu apresentar isso no tribunal, ninguém mais vai olhar para mim da mesma forma. Pessoas como eu precisam ser respeitadas, entende?!

-Tem sangue nas páginas!-Arranco o diário de sua mão, não sendo muito difícil, pois o segurava com as pontas dos dedos. Começo a folhear enquanto o seu olhar impaciente se dirige ao papel.-Tem um porão na casa! Um porão onde alguém com certeza ficou preso!

Mais um pouco de desdém, é a primeira vez que olha diretamente para mim desde que chegou.

-Eu sugiro que você durma um pouco. Está precisando.-Seu comentário desnecessário me faz cerrar os punhos, amassando as folhas. Nada posso fazer se sou feito de estresse ultimamente.

-Vamos lá, Jason, pede pra fazerem uma nova investigação, você tem esse direito, não é?-Questiona Nelly.

Eu não estou pronto para depositar todas as minhas esperanças nas mãos de uma pessoa que não dá a mínima e só pegou o caso para conseguir visibilidade numa profissão que nem deveria estar exercendo. Jason não é uma pessoa esperta, e além disso, ele não está a fim de se esforçar para descobrir algo, mesmo que esteja na cara.
Mas eu não cheguei até aqui para deixar para lá e aceitar o seu desdém e qualquer resultado que sair daquele tribunal. Eu tenho ódio do que está acontecendo, e se a esperança não pode me mover, o ódio o fará.

Enquanto cita o seu breve discurso sobre como as coisas nunca saem como queremos e devemos aceitar, dígito uma mensagem pedindo para Callie ligar para Nelly e inventar qualquer besteira para mantê-la longe por um instante. Rezo para que esteja acordada e veja, enquanto me controlo para não mandar esse riquinho de merda calar a boca.

O toque do celular de Nelly é composto por sons da natureza, e até isso é capaz de me deixar brevemente revoltado, mas pelo menos deu certo. Quando olha para a tela do celular, sobe o seu olhar para mim, confusa.

-Eu... volto já.-Diz, dando passos curtos para mais longe, para então entender e acabar com o barulho de cachoeiras e macacos pregos que o seu celular emite.

É justo pensar que eu deveria ficar revoltado mais vezes, pois tenho em mente cada palavra que vou dizer logo em seguida.

-Você poderá ir visitá-lo depois de alguns meses, acho que isso já é suficiente. Diz para a minha priminha que tenho mais o que fazer, por favor.-Diz, prestes a cair fora, para então seguir a sua vida com uma consciência limpa e seu nome nos jornais por apenas alguns dias. Isso não vai acontecer.

O maldito egoísta quer reconhecimento, vou lhe ajudar com isso, mas quero algo em troca.

-Como você pode estar satisfeito? Será conhecido como o advogado que fracassou no seu primeiro caso, e nada além disso.-A medida que minhas palavras saem, seus passos reduzem, mas continua de costas.-Essa, possivelmente, será a sua única oportunidade de provar que pode fazer um bom trabalho. Imagina expor uma farsa como essas, o choque que causaria em todos que acreditam que o Doutor era um santo, e o mérito será todo seu.

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora